sábado, 15 de fevereiro de 2014

POESIA

MOTE

SE ANA MORRER QUEIMADA
NÃO ME PAGA O QUE ME DEVE.*

GLOSA

I

Será grande a gargalhada
E bem completa a alegria;
Que prazer, quanta harmonia,
SE ANA MORRER QUEIMADA.
Festa só, festa e mais nada, 
Prazer que ninguém descreve.
Quem, pois, a chorar se atreve
Ante um bem que se dilata?
Mesmo morta, aquela ingrata,
NÃO ME PAGA O QUE ME DEVE.

II

A luz há de ser manchada
De negro fumo e terrores,
Secarão frutos e flores,
SE ANA MORRER QUEIMADA.
Ao vê-la em cinza tornada,
Na dor que ninguém descreve,
Direi, em soluço, breve:
Embora a terra dê tudo,
Já que tem seu lábio mudo
NÃO ME PAGA O QUE ME DEVE.

Autor: JOÃO LINS CALDAS (01-08-1888 / 18-05-1967). Poeta. Em "Território Humano", romance de José Geraldo Vieira, é o Cássio Murtinho - Revelado pelo romancista em "Cartas à Minha Filha em Prantos".
* Mote atribuído a Dix-Sept Rosado, conforme informação de Geraldo Dantas.
Fonte: Glosa Glosarum - Celso da Silveira.

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