Religião Católica
Freguesia do Assu
A religião
Católica Apostólica Romana foi pioneira nesta região. Desde os primeiros
contatos do homem branco com os índios Janduís que se tem notícia da presença
de sacerdotes religiosos.
As opiniões dos
cronistas, a respeito da religião dos tapuias, são as mais desfavoráveis
possíveis. Marcgrave escrevia que:
“os tapuias até agora são os
piores de todos os restantes, nada sabiam de Deus, nem querem ser instruídos.
Respeitam excessivamente o diabo, para que não leve o dano para eles próprios”.
(Medeiros Filho, 1984; 69).
Apesar das tentativas de
catequização, impostas pelos “colonizadores europeus”, os índios não se rendiam
à fé cristã.
Observe o que
descreve este outro historiador, Herckman:
“... São homens incultos e
ignorantes, sem nenhum conhecimento do verdadeiro Deus ou dos seus preceitos;
servem, pelo contrário, o diabo ou a quaisquer espíritos maus, como tratando
com eles oferecem sacrifícios e o invocam”. (Medeiros Filho, 1984; 69).
No ano de 1607,
um cronista anônimo, certamente sacerdote, descrevia os tapuias moradores na
Capitania do Rio Grande:
“... Há também nos limites
desta capitania, e poucas jornadas de caminho duas nações de tapuias, copiosas
em número de gente, que afirmam os que vão a resgatar com eles, ser grande o
número de gente, os quais todos se perdem por falta de obreiros, tendo pazes e
comércio conosco, e havendo residências nesta capitania, mandando todos os anos
a eles, por via de missão, se salvam muitos inocentes, e outros muitos adultos
in extremis. Outras nações há também, aqui perto, de outros gentios de
menos gente, de que não fazemos caso, e para os quais criou Deus também o Céu e
se perdem por falta de guias”. (Medeiros Filho, 1984;
21).
Os índios
Janduís do Assu foram catequizados pelos padres João Duarte do Sacramento e
João Rodrigues Vitória, que se esforçaram por aldear os referidos indígenas,
sendo atrapalhados, no ano de 1662, por doenças que atingiram estes
missionários.
No ano de 1712, ao que parece,
começa uma campanha para edificação de uma Igreja e uma casa para repouso do
vigário. O proprietário de terras Sebastião de Souza Jorge doou o terreno para serem
construídas: a Igreja Matriz e a Casa Paroquial (residência do padre orientador
da comunidade).
No período
compreendido entre 1720/28, o Padre Manoel de Mesquita e Silva coordenou os
primeiros trabalhos religiosos, implantando hábitos voltados ao catolicismo. Os
primeiros atos ocorreram sob as sombras das frondosas árvores existentes,
possivelmente, onde está edificada atualmente a Praça São João Batista.
Depois de seis
anos de tentativas, o vigário com o apoio da comunidade, em 1726, conseguiu
concluir a edificação de uma pequena Casa
de Oração, onde foi instalada a Freguesia de São João Batista da Ribeira do
Assu, dando origem a segunda freguesia da Capitania do Rio Grande e a primeira no Brasil a
ter como padroeiro o precursor do Messias São João Batista. (Assu, 2007; 08). O
padre Mesquita, a partir desta data, iniciou as comemorações alusivas ao
Padroeiro com festejos religiosos e brincadeiras que se tornaram populares.
“... A nossa primeira Igreja era em forma de uma simples casa, chamada Casa de Oração. Era ali que se ouviam missas. (...) Dessa
casa há pedaços de tijolos enterrados, cuja argamassa afasta-se com o pé.
Depois, Foi toda demolida. O lugar ficou sendo chamado Alto do Império, porque ali foi dado o primeiro grito de
Independência pelo tenente-coronel José Correia de Araújo Furtado”. (Wanderley,
1966; 118).
A freguesia começou a
receber sucessivos padres para coordenar os trabalhos de evangelização. O Padre
Manoel de Mesquita e Silva foi substituído pelo Padre Antonio de Aragão Cabral
que permaneceu de 1728 a
1733 e assim vieram diversos outros que até hoje mantêm os trabalhos de
evangelização do povo de Deus.
Da edificação
da Igreja e ou Casa de Oração,
construída por volta de 1726, de madeira e barro, o Bispo de Pernambuco, D. Frei
Luíz de Santa Theresa, após sua inspeção a Freguesia
de São João Batista da Ribeira do Assu (1746) apresentou o seguinte
relatório:
“... A trinta (30) léguas de Natal, e a 113 léguas de Olinda, está
erecta a paróquia de São João Batista no lugar chamado Assú, cuja Igreja
suficiente pelas suas dimensões, é construída de madeira e barro, tendo apenas
um ornamento encarnado e branco, ressente-se absolutamente de obras de prata;
Não tem Capela alguma filial, mas carece de muitas em virtude da extensão de seu
território de 40 léguas de comprimento, por 20 léguas de largura”. (Lima,
2002; 63).
Sabe-se que somente a partir de
15 de julho de 1760 é que teve início a construção da atual Matriz de São João
Batista, edificada ao lado da antiga Casa
de Oração. Sobre as festividades da Freguesia para comemorar o seu
Padroeiro São João Batista destaca-se um relato da escritora e poetisa
Sinhazinha Wanderley:
“... Nas festas de nosso
Padroeiro, erguia-se um mastro, cada noite, para as bandeiras. Eram muitos os
chamados fogos de vista: rodas, quadro, globo, estrela,
cruzeiro, xadrez, etc. E na última noite, um painel com a efígie do santo
Padroeiro. Os mastros eram todos estopados a cores. Muita girândola, mosteiros,
chafarizes e, por último, o balão.
Na noite em homenagem às
moças, elas compareciam todas de branco, conduziam até o mastro a sua bandeira
e cantavam este versinho, letra de Elias Souto e música de Luiz Carlos
Wanderley (Lucas).
“Salve! Salve!
O glorioso São João
De Deus amado,
Nosso Excelso Padroeiro
Nosso firme advogado”.
Na noite das moças até as
cores dos fogos de lágrimas eram brancas”. (Wanderley, 1966; 119).
Outra escritora
que descreve sucintamente a festa do Padroeiro do Assu é a imortal Maria
Eugênia Maceira Montenegro, no que se refere a crenças populares dentro dos
festejos alusivos ao período junino.
“... Há muitas crenças
populares, justamente às vésperas do dia 12 de junho, durante as festividades
juninas: facas fincadas nas bananeiras, à meia-noite, mostram a letra da pessoa
com quem se vai casar. Da mesma forma enrolam-se papeizinhos com as letras do
alfabeto e são colocados num copo d’água. A letra que se desenrolar mostrará a
inicial do futuro esposo ou esposa. Nesse dia, e no dia do padroeiro da cidade
do Assú – São João Batista, - fogueiras são armadas em frente às casas, em
todas as ruas, dando um aspecto místico e telúrico à cidade. Há quem chame o
padroeiro de São João do Carneirinho...”.
(Montenegro, 1978; 171).
A freguesia de São João Batista tem vivido, de forma
fervorosa, a festa do seu Padroeiro muitos dos anos dominando as dificuldades
causadas pelas secas e/ou pelas grandes cheias do Rio Assu.
Fonte: Assu - Dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro