quinta-feira, 8 de outubro de 2015

REMINISCÊNCIAS:

RENATO CALDAS
113 ANOS DE POESIA 
 
RENATO CALDAS - (* 08/10/1902 / + 26/10/1991). Renato Caldas nasceu há exatos 113 anos. Poeta consagrado. Desenfadado no braço do violão. Projetou-se no cenário cultural e rompeu fronteiras, adotando para seus versos, com naturalidade, o gênero matuto. Estilo que lhe rendeu glórias e proporcionou respeito no meio literário, levando o nome da sua terra natal aos mais apartados rincões deste País. 
Nasceu em Assu no dia 08 de outubro de 1902, filho do Sr. Enéas da Silva Caldas e de D. Neófita de Oliveira Caldas. Aos seis anos estudou as primeiras letras na escola de dona Luíza de França. Quando foi fundado o Grupo Escolar Tenente Coronel José Correia em 1911, lá estava ele, inserido no rol dos alunos pioneiros.
 Aos dezoito anos obteve seu primeiro emprego, como tipógrafo, na Tipografia de José Severo de Oliveira, no Assu. Certamente esta foi a grande escola. Daí o seu afeto pelas letras. Posteriormente foi motorista e mensageiro dos correios e telégrafos. Viajou ao Rio de Janeiro e trabalhou como tipógrafo e caixeiro viajante. Por conseguinte, em Santos, novamente atuou como tipógrafo e foi pracista da firma Leite Gasgon.
 Ao regressar ao Assu, colaborou em diversos jornais. Por sua conta, resolveu excursionar pelas cidades do interior de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, recitando seus poemas e tocando violão. Tornou-se um Show-Men através de suas Melodias Selvagens.
 Casou-se no ano de 1939 com D. Fausta da Fonseca Nobre - musa inspiradora de muitos dos seus poemas. Esposa dedicada, amiga e companheira até à hora do último adeus, ocorrido no dia 26 de outubro de 1991.
 Renato Caldas viveu sua infância consumindo água de cacimba, degustando os apetitosos peixes do Piató, tomando banhos nas águas barrentas do córrego, fabricando seus próprios brinquedos, debulhando milho e feijão nos tradicionais encontros de vizinhos, ouvindo estórias de Trancoso, adivinhações... Viveu numa época em que as crianças reverenciavam os mais velhos. Talvez tenha sido este contato direto com a pobreza e com a rica natureza do Vale, que fez dele uma figura humana preocupada com a preservação do meio ambiente e com a cultura popular do nosso povo, facilmente identificada em Fulô do Mato. 
 Boêmio, cantador e poeta inigualável... Namorador de primeira grandeza. Quando a questão era mulher, todo tipo e padrão lhe serviam e a todas prometia: amor eterno e um lugar no coração. 
 Renato Caldas foi o poeta de Fulô do Mato (sete edições); Poesias, Meu Rio Grande do Norte e Pé de Escada - este último em parceria com João Marcolino de Vasconcelos (Lou).
 Durante décadas Renato Caldas selecionou recortes de jornais, fotografias, documentos, cartas, opiniões de críticos e de amigos na busca de preservar não somente a sua história, mas a de uma época nobre para a cultura norte-rio-grandense. 
 A Prefeitura Municipal do Assu com a colaboração dos familiares do poetas, no centenário do seu nascimento (2002), resgatou uma dívida com o povo e realiza um dos sonhos de Renato Caldas publicando este material de relevante contribuição para a cultura regional através dos livros: Cartas Par fausta; Renato Caldas – O Poeta das Melodias Selvagens; Fulô do Mato (fac-similar da 1ª edição) e Fulô do Mato (concepção do livro manuscrito pelo poeta no ano de 1937).
 O seu livro de maior destaque, Fulô do Mato, tem uma importância singular para a vida literária do poeta assim como para a cultura do Estado. Desde a sua primeira edição em 1940, sempre foi um livro raro nas prateleiras das livrarias e bibliotecas. Fulô do Mato é aquela lamparina a iluminar o interior da choupana, enquanto o pobre repousa inquieto, sonhando com a labuta incerta do dia seguinte. É a única luz... É caatinga e várzea, seca e inverno, amanhecer e pôr do sol... Fulô do Mato derrama suor e lágrimas. Tem lábios femininos cedentes de beijos... Olhos hipnotizantes. Possui o cheiro do campo e o perfume bom da mulher amada. Retrata o poeta Renato Caldas de “corpo e alma”. É Assu, Rio Grande do Norte, Nordeste e Brasil.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA:

Assembleia Legislativa vai instalar a Frente Parlamentar de Apoio às Produções de Energias Renováveis

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A otimização da produção de energias renováveis no Rio Grande do Norte foi tema de reunião, nesta quarta-feira (7), entre o presidente da Casa, deputado Ezequiel Ferreira (PMDB) e os deputados George Soares (PR), Galeno Torquato (PSD), Hermano Morais (PMDB) e Fernando Mineiro (PT) com o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Norte (OCB/RN) e da Confederação Brasileira das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural (Conbrac), Roberto Coelho.
“A Assembleia Legislativa apoia a criação da Frente Parlamentar e a ações para otimizar a produção da energia renovável no Estado, com ganhos econômicos para o homem do campo e para o Rio Grande do Norte”, disse o presidente Ezequiel.
A proposta da reunião é que a Assembleia Legislativa instale nos próximos dias a Frente Parlamentar de Apoio às Produções de Energias Renováveis. A bandeira foi defendida pelo deputado estadual George Soares que desde 2013 incentiva políticas públicas no setor. “Queremos estimular o Governo do Estado a implantar políticas públicas de energias renováveis utilizando o ICMS e o potencial de energia valorizando o pequeno produtor, o sertanejo e apoiando as ações das empresas de energia eólica que resultam em ganhos para a economia”, destaca o parlamentar.
Os deputados Galeno Torquato (PSD), Hermano Morais (PMDB) e Fernando Mineiro (PT) também participaram da reunião e lembraram os benefícios para o Estado, com ganhos econômicos e sociais decorrentes das atividades relacionadas ao setor como geração de emprego e renda. Também participou da reunião, o diretor do Instituto de Energias Renováveis, Gibran Dantas.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

POESIA HILARIANTE:

“Vendedora de Tabaco” 
Eu me casei com Janoca
Mas tô muito arrependido
Pois ela quando se invoca
Quer dá no meu pé do ouvido
Nem morre, nem se ajeita,
Nem me quer, nem me respeita
Nem me tem como marido.

O diabo da minha esposa
Me atazana toda hora
Pois bebe que só raposa
E fuma que só caipora
E ontem eu fiquei sabendo
Que os vizinhos tão dizendo
Que a condenada namora.

E eu tenho a obrigação
De dá o fumo pra ela
Ela tem um cachimbão
Do tamanho duma panela
E eu to ficando louco
Porque o meu fumo é pouco
Não enche o cachimbo dela.

Quando ela quer fumar
É a maior confusão,
Já faz eu me levantar
Já vou com o fumo na mão
Dou o fumo à infeliz
E a condenada diz:
Seu fumo não presta, não.

O fumo bom que eu acho
É o fumo de Zé da Moto,
É fumo de cabra macho
Que só de cheirar eu noto,
Mas o seu já se venceu,
Um fumo como esse seu
No meu cachimbo eu não boto.

Se eu vou pescar mais Janoca
Já se dá outra novela,
Só quer isca de minhoca
Pra botar no anzol dela
Eu já to me encabulando
Passei a noite caçando
Minhoca pra dá a ela.

Quando Noca era solteira
Ela andava com um bisaco
Vendo no meio da feira
Alho, pimenta e tabaco
Botão, fumo, agulha e linha
E mais uma cachacinha
Tudo no fundo do saco.

Ela vendia tabaco
Na feira de Itapipoca
E quando ela abria o saco
Gritava: “Tem venda e troca!”
E eu tremendo de medo
Com os homens melando o dedo
No tabaco de Janoca.
  
Hoje como ganho pouco
E ela tem profissão
É fazer sabão de coco
Mais a filha de Tião
Pra nós sair do buraco
De dia vende tabaco,
De noite faz o sabão.

Gritava aqui e ali:
“O meu tabaco é gostoso,
Quer ver, passe o dedo aqui
Pra ver como ele é cheiroso.”
Os cabras passavam o dedo
Ela dizia: “O segredo
É o fumo do meu esposo.

Eu fiquei quase sem rumo
Porém quando eu era moço
Eu também vendia fumo
Eu e Noca era um alvoroço.
Ela abria o bisaco
Oferecia o tabaco
E eu mostrava o fumo grosso.

Um dia, sem permissão,
Um cabra foi beijar ela,
Mas Noca passou-lhe a mão
Chega entrançou a canela
Porém o cabra era macho
Era Janoca por baixo
E o cabra por cima dela.

De tanto quebrar cabeça
Eu já vivo encabulado
To doido que apareça
Um cabra desmantelado
Desses da rede rasgada
Que não tem medo de nada
Embora eu fique chifrudo
Mas dava tudo de troca
Pra ele levar Janoca
Com fumo, tabaco e tudo.

Autor: Poeta Luiz Campos. 
Foto ilustrativa:www.robsonpiresxerife.com 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

ARTIGO:

A SECA É A CAUSA DA POBREZA RURAL NO NORDESTE?
Joacir Rufino de Aquino
 (Economista, professore pesquisador da UERN)
A longa e severa estiagem ocorrida de 2012 a 2015 causou prejuízos significativos às lavouras de sequeiro e, especialmente, a pecuária bovina dos vários estados nordestinos. As perdas de patrimônio genético e a descapitalização dos estabelecimentos agropecuários provocados pelo estio podem ter comprometido os esforços de apoio à agricultura familiar dos últimos 10 anos, lançando milhares de produtores em uma situação de endividamento aliviada parcialmente pelas políticas de transferência de renda e outras ações emergenciais do governo federal e dos estados que quase sempre não chegam na hora certa e nem na quantidade necessária.
A dramaticidade do quadro apresentado tem ensejado um caloroso debate sobre o futuro do rural nordestino, mas também tem servido de base para trazer à tona velhos mitos e ideias conservadoras que teimam em persistir através do tempo. Entre elas, talvez a pior de todas é aquela disseminada pela grande mídia nacional que procura associar a pobreza rural nordestina unicamente a escassez de chuvas recorrente no contexto regional. Ora, se a culpa do problema é de um fenômeno natural inevitável, resta então “combater” os seus efeitos e pedir a São Pedro para mandar bons invernos que o reino da paz voltará a prevalecer.
Entretanto, é correto afirmar que a seca consiste na única causa da pobreza que assola as famílias que habitam o meio rural nordestino? Definitivamente, não! As evidências disponíveis sinalizam que o fenômeno climático é apenas um dos fatores da equação. Essa é a conclusão básica do terceiro capítulo do livro “Aspectos Multidimensionais da Agricultura Brasileira”, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2014 (http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros /livro_aspectos_multidimensi onais.pdf).
Segundo os autores da obra citada, elaborada a partir de tabulações especiais do último Censo Agropecuário realizado pelo IBGE, mesmo em 2006, um ano de bom inverno, a situação da esmagadora maioria dos produtores rurais nordestinos era extremamente precária.
Para se ter uma ideia, o valor médio da produção anual gerada por 72% dos agricultores familiares da região foi de apenas R$ 1.118,00.
Na base desse cenário de pobreza retratado pelas estatísticas oficiais está um ambiente de “múltiplas carências produtivas” que só foi descoberto há pouco tempo graças à
estratificação da agricultura familiar em diversos segmentos de renda. Ainda conforme o estudo do IPEA, a maior parte das famílias pesquisadas, algo em torno de 60%, tinha áreas de terras inferiores a 5 hectares, quando especialistas estimam que o tamanho ideal de uma propriedade rural no semiárido deve variar de 50 a 100 hectares. Quanto aos indicadores educacionais e organizativos, apenas 8% dos chefes de estabelecimentos possuíam formação acima do Ensino Fundamental Completo e somente 1% era filiado a alguma cooperativa.
Além disso, o Censo Agropecuário revelou que os estabelecimentos de baixa renda, onde estavam abrigados mais de 4,2 milhões de pessoas, eram geridos praticamente sem qualquer assistência técnica, já que 96% das unidades não receberam a visita de um agrônomo ou extensionista rural uma única vez no ano. Por outro lado, ficou evidente que as atividades agropecuárias de tal grupo de produtores estavam totalmente vulneráveis às oscilações climáticas, haja vista que aproximadamente 3% dos estabelecimentos contava com irrigação e 99% não dispunha sequer de silos para armazenar ração e forragem para seus pequenos rebanhos de animais.
Esses dados gerais põem em xeque a validade da tese que atribui à natureza toda a responsabilidade pelas mazelas sociais registradas na região Nordeste. Isso porque o ciclo de anos seguidos de seca, quando teve início, já encontrou a maioria absoluta dos produtores rurais da região em um cenário de grande precariedade e vulnerabilidade, como foi bem demonstrado pela publicação recente do IPEA. Assim sendo, é importante esclarecer que a escassez e a irregularidade das chuvas apenas aprofundou um quadro de pobreza pré-existente, provocado historicamente por fatores políticos relacionados ao descaso governamental com a problemática da miséria e das desigualdades prevalecentes na estrutura agrária herdada da época da colonização.
Portanto, a pobreza nordestina tem um determinante natural, mas ela é decorrente, acima de tudo, de fatores sociopolíticos. O fato é que, apesar de alguns avanços, pouco foi feito para dotar os agricultores da região dos meios necessários para conviver de forma sustentável com as características ambientais específicas do território onde estão inseridos. Logo, não é pecado continuar apelando à proteção divina, uma vez que a água que vem do céu é gratuita e não cobra votos para saciar a sede do povo. Contudo, é urgente arregaçar as mangas e pressionar a classe política por mudanças profundas na realidade social do sertão. Nessa agenda de lutas, afora as questões urgentes relacionadas ao abastecimento d’água para o consumo humano, devem ser incorporadas outras bandeiras, como, por exemplo, a democratização da terra, a educação de qualidade e demais aspectos atinentes ao fortalecimento das pequenas e médias propriedades familiares que clamam por apoio no meio rural.
1 Artigo publicado no Jornal De Fato, Mossoró/RN, 02/10/2015, p. 2. Disponível em:
Foto: Otávio Nogueira / www.ecodesenvolvimento.org