ECONOMIA PRIMÁRIA DO ASSÚ - CONCLUSÃO
Pecuária – As Charqueadas
Economicamente,
o Assú também se diferenciou por desenvolver atividades de beneficiamento, como
o semi-processamento do couro, e
a feitura de carne seca, que viria a ser sacrificada em favor de grandes
interesses regionais.
A Indústria
da Carne Seca ou Charqueada surgiu na região do Assú e atingiu seu ápice por volta de 1740. Na comunidade de “Oficinas” (local próximo as atuais cidades de Carnaubais e Porto do
Mangue) é montada grande estrutura nas “salinas” para salgar e estender carnes
bovinas. Essa opção econômica foi fruto da agregação da atividade pecuária
praticada na região, ao clima e a proximidade das salinas e do porto.
Nesse período,
o Arraial possuía o maior rebanho do território Potiguar. Das 308 fazendas
existentes na Capitania, 90 localizavam-se na Ribeira do Assú. Atividade
comercial que abastecia de charque o Nordeste brasileiro. Vejamos o que diz a
professora e pesquisadora Teresa Aranha sobre o tema:
“Paralelamente à luta pela própria terra, surge o sofrimento pela
defesa das riquezas que privilegiam a região, como por exemplo, o sal, a
carnaúba e as oficinas, lugares históricos do Rio Assú e Mossoró, onde fora
instalada, na segunda metade do século XVIII, a indústria da preparação da
carne seca e salgada, aproveitando-se a proximidade das salinas e abundância do
gado bovino.
Localidades na foz do Rio, as oficinas de Assú motivaram a criação da
mais antiga povoação do município, Oficinas”. (Aranha, 1987; 12).
No entanto,
questões de ordem regional viriam sobrepor-se à dinâmica local e impedir a
expansão dessa atividade. O governo do vizinho Estado de Pernambuco,
tradicionalmente abastecido pelo gado vindo do Rio Grande do Norte, sentiu-se
prejudicado pela indústria da carne
seca, que resultara em diminuição no volume de exportação de gado para
aquele Estado. Em 1784, o Governador de Pernambuco, em carta a Portugal,
ressaltava que as charqueadas de Assú e Mossoró estavam prejudicando o consumo
de carne verde em Recife e nos engenhos. Na verdade, estava em jogo o reflexo
dessa mudança no volume de tributos recolhido. A venda do boi em pé rendia para
Pernambuco um volume oito vezes maior de recolhimento de tributos à carne seca.
O fato
do Rio Grande do Norte ser, à época, administrativamente dependente da
capitania de Pernambuco, definiu-se a questão em favor daqueles interesses.
Assim, depois de um breve período de polêmica discussão, o governador de
Pernambuco termina por proibir o funcionamento das oficinas de Assú e Mossoró,
de modo que os rebanhos do Rio Grande do Norte voltassem a ser comercializados
vivos. (Fernandes, 1992; 16).
Em
decorrência desta atitude o rebanho bovino foi minguando, outros projetos foram
surgindo e o Assú não voltou a ocupar o ápice no setor pecuário estadual.
Quem vê hoje a produção industrial da carne
de charque jamais imagina tratar-se de um produto que teve suas raízes na
região Nordeste do país.
Fonte: Assu - Dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro.
Foto ilustrativa.