segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DO ASSÚ

Economia Primária do Assú - Parte I

Agricultura

A colonização da Ribeira do Rio Assú não foi nada fácil. De conformidade com o relato do historiador Manuel Rodrigues de Melo em Várzea do Assú, pode-se, nesta síntese, ter uma ideia:

“... Até começos do século dezoito era aquela zona constantemente invadida pelas hordas dos índios rebelados, vivendo então, os seus habitantes em constantes sobressaltos conforme depõe o ilustrado conterrâneo, Desembargador Antonio Soares (...).
Somente de 1713 em diante, depois das últimas investidas e insultos dos índios caborés, contra os moradores do Assú, mais de um século, portanto, da conquista do Rio Grande, foi que a zona da várzea pôde mais ou menos estabelecer as suas fazendas de gado e desenvolver, embora que muito lentamente, a agricultura, cuidar dos seus incipientes carnaubais, utilizando-os na feitura das pequenas casas dos agregados, dos índios domesticados, na confecção de chapéus, abanos, esteiras e milhões de outros utensílios caseiros”. (Melo, 1940; 151).

Em sua “História do Rio Grande do Norte”, o mestre Câmara Cascudo faz referência ao desaparecimento da comunidade indígena que reduzidos foram sumindo, misteriosamente, como sentindo que a hora passara e eles eram estrangeiros na própria terra”. Em vilas e guardados pelos jesuítas, terésios e carmelitas trabalhavam. Mas, ainda como disse Cascudo: A liberdade do Marques de Pombal matou-os como um veneno. Dispersou-os, esmagou-os, anulou-os (...)”. (Cascudo, 1984; 38).

Mesmo diante de tantas dificuldades os índios ainda resistiram. Porém, na segunda década do século dezoito, uma seca ajuda a aniquilar muitos dos indígenas ainda existentes na região. O povoamento processava-se. As antigas datas de sesmarias subdividiam-se em faixas transversais ao rio, de modo a aproveitar vazantes, várzea e tabuleiro.

O gado e, posteriormente, o algodão eram complementados por uma produção de alimentos, as chamadas lavouras de subsistência, na sua grande maioria, cultivadas nas vazantes existentes ao longo do rio Assú. Muitas destas culturas, ainda hoje, são praticadas pelos pequenos e médios proprietários tais como: feijão, milho, trigo, fava, jerimum, melão, melancia e batata doce.
 
Vazantes - foto ilustrativa
     “Indústrias agrícolas – É bastante desenvolvida. A principal é o algodão; produz em grande abundância e é cultivado em varias qualidades; é a maior fonte de receita do município. Plantam-se igualmente milho, feijão, arroz sorgo (milho trigo) batata, mandioca, cana de açúcar e muitos outros cereais e legumes”. (A. Fagundes, 1921; 60).
   
Havia a tendência da pecuária extensiva em grandes áreas de terra com poucos trabalhadores e com características arcaicas. Por outro lado, começava a experiência com o cultivo do algodão nas pequenas e médias propriedades, prática já usada nas grandes fazendas que compunha o binômio gado-algodão, em regime de parceria ou de arrendamento em formas tradicionais de cultivo, e permeada de muitos mecanismos de exploração.

A partir da segunda metade do século XVIII, quando os franceses e holandeses não constituíam mais perigo para a colonização portuguesa, a Revolução Industrial se procedia na Europa. Época em que se expandiu e ganhou importância a demanda do algodão, produto nativo da América. O algodão nordestino ganhou importância no mercado externo, principalmente, no setor têxtil inglês. A produção do Assú estava inserida neste contexto.

“... Apesar de conquistar terras ao gado, o algodão não prejudicou a pecuária, de vez que a semente e rama eram excelentes alimentos para o mesmo, sobretudo na estação da seca, quando o pasto quase desaparecia. Além disso, o milho, o feijão e a fava, cultivados em associação com o algodão, forneciam o restolho para complementar a alimentação dos animais.” (Felipe, 2002; 24/25).  

Tempo depois, a Carnaubeira começou a ter um significado ímpar para os assuenses, não ainda como produção agrícola rentável, e sim como árvore propícia para a complementação alimentar dos animais e essencial na construção de suas casas. Utilizando o tronco, o sertanejo produzia linhas, caibros, ripas e construía currais e cercas para o aprisionamento do gado. As palhas serviam para cobertura das casas dos operários, confecção de chapéus, esteiras e arupemas. Os talos eram usados na confecção de portas e janelas, caçuás, cercas para quintal entre outros. A raiz era cortada e misturada ao capim para fortalecer a alimentação dos animais. O fruto foi por muito tempo torrado e utilizado na alimentação como uma espécie de café.
Corte das carnaubeiras
       O historiador Tavares de Lira registra a exportação da cera, principal matéria prima da carnaubeira, desde 1855 que passa a ser um produto importante para a economia do Estado, logo após a 1ª Guerra Mundial. A produção se concentrava nos vales do Apodi-Mossoró e Piranhas-Assú, em cujas margens concentrava-se uma floresta de carnaúba, que fornecia a palha, que era cortada e trinchada para retirada da cera.

       A cera se valorizou pela diversidade de aplicações na indústria química, tais como na confecção de discos de vitrola, graxas, sabão, tintas, vernizes, papel carbono, velas e cera para assoalho. E ainda na indústria eletroeletrônica, como isolante. (Felipe, 2002; 35). 

     Nas três últimas décadas os carnaubais foram minguando em todo o Vale. O desmatamento indiscriminado desta planta nativa para dar lugar a grandes e médios projetos de fruticultura irrigada tem sido um dos fatores responsáveis pela ameaça de desaparecimento desta floresta, que por longos anos foi a principal pilastra de sustentação econômica da região. 

Fonte: Assu - Dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro.

Um comentário:

  1. Olá Ivan, gostei muito do seu blog. Sou mestrando em Ciências naturais - UERN e coletando alguns dados sobre Assú, pois minha dissertação refere-se a um diagnóstico de 2 bairros da cidade. Sei que você escreveu um livro sobre Assú e gostaria de entrar em contato com vc pra ver se consigo algumas coisas sobre a cidade.. você poderia me mandar seu email? o meu é thaiscristina13@hotmail.com
    Grata,
    Thais Cristina.

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