quarta-feira, 27 de março de 2024

POESIA

FACES SEM SORRISO

Menino qual o teu nome
Que tens uma angústia louca?
Foi o cabresto da fome
Que amordaçou minha boca,
Pois no meu nome senhor
Só há desespero e dor,
Tristeza e desolação,
O meu nome nada importa
Fico a soleira da porta
Pedindo a esmola de um pão.

E aquele rapaz, quem é
Que está ao pé do serrote?
É o meu irmão José
Que foi dar água ao garrote;
Chega José paciente,
Senta-se ao mesmo batente,
Vago olhar amortecido,
Na palidez do seu rosto
Tinha a força do desgosto
De um jovem desiludido.

O André chega também,
Antônio, Ambrózia e Tereza
Cada rosto uma tristeza,
Só alegria não vem
A pobre mãe numa rede
Embala o pé na parede
O filho mais pequenino,
Dois ou três meses de idade
Mais é na realidade
Vítima do mesmo destino.

Esse pequeno inocente
Sem brilho nos olhos seus
Sofre por culpa de Deus?
Não. Culpa dos homens somente,
Os homens sim, são culpados
Que aos filhos dos desgraçados
Lançam os grilhões da miséria
De Deus, não, a culpa é deles
Como se não fossem eles
Filhos da mesma matéria.

Autor: Francisco Agripino de Alcaniz - Chico Traíra.
Fonte: Espinhos e Flores da Minha Terra/1986.
Ilustração: Pintura de Bartolomé Esteban MURILLO - conhecida como "o jovem pedinte" (c. 1650).

segunda-feira, 25 de março de 2024

CAUSO

Meu cunhado Canindé Barbosa quando está bêbado só fala chiando. 

Certa vez, estávamos numa confraternização em família quando Ceiça sua irmã, já invocada com aquela chiadeira, disse: 

- Canindé, toda palavra você só fala chiando, não é? Pois eu duvido você pronunciar a palavra NÃO, chiando! 

Canindé, sem pensar duas vezes, arrematou: 

- Not

Livro: Dez Contos & Cem Causos - Ivan Pinheiro

Imagem Ilustrativa