sexta-feira, 26 de outubro de 2012
RENATO CALDAS
21 ANOS SEM O MESTRE
- RENATO CALDAS -
(08/10/1902 - 26/10/1991)
Charge: Gilvan Lopes
Quando
do lançamento do livro ‘Renato Caldas – O
Poeta das Melodias Selvagens’, rabisquei esta apresentação:
RENATO
CALDAS - Poeta
consagrado. Desenfadado no braço do violão. Projetou-se no cenário cultural e
rompeu fronteiras, adotando para seus versos, com naturalidade, o gênero
matuto. Estilo que lhe rendeu glórias e proporcionou respeito no meio
literário, levando o nome da sua terra natal aos mais apartados rincões deste
País.
Nasceu em Assú no dia 08 de outubro de 1902,
filho do Sr. Enéas da Silva Caldas e de D. Neófita de Oliveira Caldas. Aos seis
anos estudou as primeiras letras na escola de dona Luíza de França. Quando foi
fundado o Grupo Escolar Ten.cel. José Correia em 1911, lá estava ele, inserido
no rol dos alunos pioneiros.
Aos dezoito anos obteve seu primeiro emprego,
como tipógrafo, na Tipografia de José Severo de Oliveira, no Assú. Certamente
esta foi a grande escola. Daí o seu afeto pelas letras. Posteriormente foi
motorista e mensageiro dos correios e telégrafos. Viajou ao Rio de Janeiro e
trabalhou como tipógrafo e caixeiro viajante. Por conseguinte, em Santos,
novamente atuou como tipógrafo e foi pracista da firma Leite Gasgon.
Ao regressar ao Assú, colaborou em diversos
jornais. Por sua conta, resolveu excursionar pelas cidades do interior de
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, recitando seus poemas e tocando violão.
Tornou-se um Show-Men através de
suas Melodias Selvagens.
Casou-se no ano de 1939 com D. Fausta da Fonsêca Nobre - musa
inspiradora de muitos dos seus poemas.
Esposa dedicada, amiga e companheira até à hora do último adeus,
ocorrido no dia 26 de outubro de 1991.
Renato Caldas em sua residência em Assu |
A Prefeitura Municipal do Assú, através da
Secretaria de Cultura e a colaboração dos familiares, no centenário do seu
nascimento, resgata uma dívida com o povo e realiza um dos sonhos de RENATO CALDAS – O Poeta das Melodias
Selvagens, no tocante a publicação deste material de relevante contribuição
para a cultura regional.
Ivan
Pinheiro
Assu, agosto de 2002
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No
livro ‘Fulo do Mato’- fac-similar da
primeira edição, fiz esses garranchos em forma de apresentação:
RENATO
CALDAS
viveu sua infância consumindo água de cacimba, degustando os apetitosos peixes
do Piató, tomando banhos nas águas barrentas do córrego, fabricando seus
próprios brinquedos, debulhando milho e feijão nos tradicionais encontros de
vizinhos, ouvindo estórias de trancoso, adivinhações... Deleitando as noites
estreladas e enluaradas. Época em que as crianças reverenciavam os mais velhos.
Renato, Aldo Cardoso e o sobrinho Talles Breno Cardoso |
Talvez tenha sido este contato direto com a pobreza e com a rica natureza do Vale, que fez dele uma figura humana preocupada com a preservação do meio ambiente e com a cultura popular do nosso povo, facilmente identificada em “Fulô do Mato”.
Boêmio, cantador e inigualável poeta. Em um de seus versos, ele afirmou que foi desempenado no braço do violão. Namorador de primeira grandeza. Quando a questão era mulher, todo tipo e padrão lhe serviam e a todas prometia: amor eterno e um lugar no coração.
“Fulô do Mato” é aquela lamparina a iluminar o interior da choupana, enquanto o pobre repousa inquieto, sonhando com a labuta incerta do dia seguinte. É a única luz... É caatinga e várzea, seca e inverno, amanhecer e por do sol.
“Fulô
do Mato” derrama suor e lágrimas. Tem lábios femininos cedentes de
beijos... Olhos hipnotizantes. Possui o cheiro do campo e o perfume bom da
mulher amada. Retrata o poeta Renato
Caldas de “corpo e alma”. É Assú, Rio Grande do Norte, Nordeste e Brasil.
Ivan
Pinheiro
Assu/RN, setembro de
2002
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Na
publicação de ‘Fulô do Mato’ (manuscrito por Renato na década de trinta)
rascunhei esta pequena apresentação:
Durante 65 anos (idade em que o homem, no
Brasil, esta apto a se aposentar) esta preciosidade ficou apática no fundo de
um baú. Seu corpo foi sempre alimentado da “Fulô
mais chêrosa, a Fulô mais prefumosa qui o meu sertão já botô”.
Renato e o jornalista Franklin Jorge |
“Fulô
do Mato” é, portanto, um presente no presente, resgatando e valorizando o
passado para que no futuro o Assú possa ter reminiscências.
Ivan Pinheiro
Outubro/2002
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RENATO
CALDAS
nasceu no Assu, (com dois SS), no dia 08 de outubro de 1902. É filho do casal
Sr. Enéas da Silva Caldas e D. Neófita de Oliveira Caldas. Estudou primeiras
letras na escola de dona Luíza de França, (1908), entrando para o Grupo Escolar
Tenente Coronel José Correia, daquela cidade, em 1911. Aí decorou o 3º livro de
Felisberto de Carvalho e fez estripulias próprias da idade. Já nesse tempo
estava sob os cuidados de sua cunhada D. Eulina da Fonseca Cabral.
Seu primeiro emprego foi como tipógrafo, na
Tipografia de José Severo de Oliveira, em 1920 no Assu. Foi a sua grande
escola, - afirma hoje em dia. Colaborou em pequenos jornais da terra, como
“Libertador”, “Jornal do Comércio”, “Tribuna”, “A Mutuca” e “Paládio”, este
último de João Celso Filho, Palmério e outros.
Francisco Ximenes, Francisco Amorim e Renato |
Em 1920, quando apareceu o primeiro Ford de
bigode, Renato Caldas endoidou. Aprendeu logo a dirigir e fez sua primeira
viagem a Natal, para transportar o carro adquirido pelo Dr. Pedro Amorim. Foi
nessa época que ocorreu o episódio do bonde. Ao saltar do veículo, escorregou e
foi com a venta no chão. Populares acorreram e o levantaram, indagando o que
tinha acontecido. Deu a resposta famosa:
- Cada um salta como sabe!
Em 1923 já está trabalhando, como mensageiro,
nos telégrafos. Viaja ao Rio de Janeiro e trabalha na Tipografia de Alexandre
Ribeiro, na Rua do Ouvidor e como viajante da firma Dantas Martins & Cia.,
percorrendo os Estados do Rio e Minas Gerais. Gostou da profissão e ganhou dinheiro,
comprando várias roupas bonitas. Como ninguém, no Rio, prestava atenção às suas
roupas, resolveu regressar ao Assu, para esnobar. E fez sucesso, tomando conta
da moçada da época.
Volta ao Rio, mas já não encontra a vaga de
viajante. Vai pra Santos e se emprega numa tipografia, na Rua Itororó. Foi
também pracista da firma Leite Gasgon, daquela cidade. Sabendo de uma vaga de
violonista no conjunto do Santos Futebol
Clube, mandou chamar o seu amigo Macrino Medeiros, que aceitou o convite.
Tempos depois, voltando ao Assu, colabora nos
jornais “O Beija-Flor” e “O Gato”, publicando coisas. Em 1929 foi a Recife buscar um carro
adquirido por Bilé Soares. Estava no Bar Vitória, tomando cerveja, quando
assiste, defronte, no “Glória”, o
presidente João Pessoa ser agredido e assassinado. Observou que a polícia
atirou muito para cima, talvez para dar cobertura ao criminoso. Deu com a
língua nos dentes e terminou na Detenção, como preso político. O nosso
presidente Juvenal Lamartine soube da prisão e telegrafou ao Governo de
Pernambuco, exigindo seu regresso a Natal. Foi solto e ao chegar aqui foi
homenageado com um jantar, pelos amigos, falando na ocasião o grande orador Dr.
Renato Dantas.
Em 1930 é a temporada do “Alma do Norte”. Veio para uma festa e ficou morando com o capitão
Everardo, - um dos donos da cidade, na época.
Numa excursão do “Alma do Norte” à cidade de Parelhas, sem ter nada com o peixe,
quase morria, sendo ferido à bala na cabeça.
Trabalhou para a firma do Sr. Lafaete Lucena,
chegando a ser corretor de mercadorias.
Por sua conta, resolveu excursionar pelas
cidades do interior de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, recitando seus
poemas e tocando violão. Foi um êxito a temporada, mas adoeceu na cidade baiana
de Itapira, gastando todo o dinheiro que tinha tomado do povo com remédios.
Em 1939, casou-se com D. Fausta da Fonseca
Nobre, após noivado de doze anos. Confessa que tem uma filha, duas netas, uma
sabiá, uma cachorrinha e uma gata, - tudo do sexo feminino.
Durante a guerra trabalhou no Campo de
Parnamirim e depois no Instituto do Sal, DNOCS e no DER. Mas nunca demorou
muito nos empregos. Atualmente, é Avaliador e Partidor da Comarca do Assu,
emprego precário, mas foi tudo que lhe arranjaram até hoje os seus influentes
amigos políticos.
Num questionário que lhe remeti, confessou
ainda outras coisas: quando está com os amigos, sua bebida predileta e a
cerveja. Sozinho: Cana.
Entre os seus melhores amigos natalenses,
cita Carlos Siqueira, Augusto Dourado, Jaime Wanderley, Cascudinho, Paulo
Teixeira, Newton Navarro, Luiz Tavares, Esmeraldo Siqueira, Wilson Dantas, Rui
Lucena, João Meira Lima, Diógenes da Cunha Lima Filho, José Borges Montenegro,
Otávio Pereira de Melo (pretinho) e Veríssimo de Melo. No Assu: Ricos e pobres. Confessa que não saiu mais do Assu porque é
como a carnaubeira: Gosta do chão onde nasceu.
O seu livro “FULÕ DO MATO” circulou em 1ª edição no ano de 1940, empresa
“Diário da Manhã”, Recife; em 2ª edição em 1953, “Tribuna da Imprensa”, Rio de
Janeiro; 3ª edição em 1954, em São Paulo, empresa “hoje”; 4ª edição em 1970,
“Editora da UFRN”, Natal, 5ª edição em 1980, “Fundação José Augusto”, Natal.
Tinha inéditos os livros “Posta Restante”, “Mesa de Bar” e “Sertão Vadio”. Mas,
viajando de trem, esqueceu a maleta e “os meninos” a levaram com tudo,
inclusive os originais dos seus livros citados.
Este é o breve roteiro da vida de Renato
Caldas, a quem Deus conserve e guarde ainda por muitos anos.
Veríssimo de Melo
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Sá Dona, vossa mecê
É a fulô mais chêrosa,
A fulo mais prefumosa
Qui o meu sertão já botô!
Podem fazê um cardume
De tudo qui fô prefume
De tudo que fô fulô,
Qui nenhum, nem uma só
Tem o cheiro do suó
Qui seu corpinho suô.
- Tem cheiro de madrugada,
Fartum de areia muiáda,
Qui o uruváio inxombriô.
É um cheiro bom, déferente,
Qui a gente sintindo, sente,
Das outa coisa o fedô.
O Deputado George Soares apresentou, no início de junho, Projeto Legislativo de Lei para instituição da MEDALHA CULTURAL POETA RENATO CALDAS. A primeira entrega seria em Sessão Solene no dia 26 de outubro (hoje), no entanto, o Projeto de Lei ainda está em tramitação para sanção da Governadora Rosalba Ciarlini.
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FULÔ DO MATO
Gabriela - Sônia Braga |
É a fulô mais chêrosa,
A fulo mais prefumosa
Qui o meu sertão já botô!
Podem fazê um cardume
De tudo qui fô prefume
De tudo que fô fulô,
Qui nenhum, nem uma só
Tem o cheiro do suó
Qui seu corpinho suô.
- Tem cheiro de madrugada,
Fartum de areia muiáda,
Qui o uruváio inxombriô.
É um cheiro bom, déferente,
Qui a gente sintindo, sente,
Das outa coisa o fedô.
Renato Caldas
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O Deputado George Soares apresentou, no início de junho, Projeto Legislativo de Lei para instituição da MEDALHA CULTURAL POETA RENATO CALDAS. A primeira entrega seria em Sessão Solene no dia 26 de outubro (hoje), no entanto, o Projeto de Lei ainda está em tramitação para sanção da Governadora Rosalba Ciarlini.
PROJETO DE LEI Nº
Dispõe sobre a autorização para instituir a Medalha Cultural Poeta Renato Caldas de incentivo a produção poética no Rio Grande do Norte
A GOVERNADORA DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO NORTE: FAÇO SABER que
o Poder Legislativo decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art.1º. Fica autorizada a instituição da Medalha
Cultural Poeta Renato Caldas de
incentivo a produção poética no Rio Grande do Norte.
Art. 2º. A Medalha Cultural Poeta Renato
Caldas será entregue, anualmente
a, no máximo, 06 (seis) poetas que se destacarem no ramo da poesia popular.
Art. 3º. Os atos de entregas se darão sempre em sessões solenes da Assembleia
Legislativa, a serem realizadas no mês de outubro – aniversário de nascimento e
de morte do patrono (*08/10/1902 / + 26/10/1991).
Art. 4º. Os poetas contemplados com o distintivo serão indicados, previamente,
pelos deputados e/ou por instituições vinculadas ao setor cultural no Estado.
Art. 5º. O número de poetas contemplados deverá ser distribuído,
proporcionalmente, entre a capital e o interior do Estado.
Art. 6º. Os poetas contemplados deverão ter naturalidade norte-rio-grandense e/ou
estarem radicados no Estado há pelo menos 02 (dois) anos.
Art. 7º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
Sala das Sessões, Palácio “JOSÉ
AUGUSTO”, em Natal, 05 de junho de 2012.
George Soares
Deputado Estadual
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Causo
MAIS VIVO
O capoteiro Valdecí é um camarada vivido, esperto, papo fácil. É famoso por suas teimas.
Certa vez, Tonchinha, seu irmão, encontrou um velho amigo da família, em Natal. Muitos anos que não se viam. Na breve conversa o amigo perguntou:
- Como vai seu pai?
- Papai morreu - Respondeu Tonchina.
- E sua Mãe?
- Mãe tá viva, graças a Deus.
E o amigo insistiu:
- Tonchinha, são quantos filhos mesmo?
- São treze.
- Nossa Senhora, benza Deus... E são todos treze vivos?
Tonchinha coçou a cabeça e esclamou:
- São... São todos vivos. Agora tem um, que se chama Valdeci que é mais vivo do que os outros.
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