quinta-feira, 25 de outubro de 2012

AS BODEGAS

         Até umas três décadas, nas redondezas do Assu, quase todas as comunidades rurais possuíam uma bodega – ponto comercial da localidade. O proprietário da bodega, geralmente era também o dono de alguns “pedaços de terras” - era o afortunado do lugar. Vendia mais fiado do que a vista. O bodegueiro na maioria das vezes também comprava cereais, algodão e couros de animais. Era comum a barganha de produtos, ou seja, com o dinheiro da venda, o sertanejo adquiria as mercadorias que necessitava para a manutenção da família. Em ano de seca, praticamente não havia esta prática, por inexistência dos produtos.
                As mercadorias para abastecer as bodegas eram compradas na feira do Assu, em Mossoró ou no brejo da Paraíba. A farinha, o milho e o feijão eram vendidos em medidas feitas de madeira: meio litro, litro, meia cuia e cuia. A meia cuia equivalia a cinco litros, enquanto a cuia correspondia a dez litros. O querosene – produto de primeira necessidade para alumiar o casebre era vendido no varejo em litro, garrafa ou meia garrafa. Na bodega, havia um tambor ou uma lata com torneira, no qual se despejava, pela tampa superior, uma lata de querosene, para ser revendida na quantidade solicitada pelo freguês.
         A farinha em grosso bem como os garajais de rapaduras vinham do vizinho Estado da Paraíba. Até a década de setenta, na zona rural do sertão nordestino, o consumo de rapadura era intenso. Esse produto era essencial. Nas famílias mais carentes, geralmente, a rapadura substituía o açúcar, por ser mais barata. A dona de casa, com o auxílio de uma faca, transformava a rapadura sólida em raspa para adoçar café, leite, coalhada, ponche e outros alimentos. Além disso, a rapadura também era utilizada como ingrediente em doces, cocadas e para fazer mel. O mel da rapadura era muito apreciado com farinha. Lanche luxuoso!       
         Na bodega, que eu lembre, de imediato, era vendido: farinha, rapadura, açúcar branco e preto, arroz da terra, fósforo, corda, fumo de rolo, alpercatas de sola, querosene, óleo em retalho, carne de jabá e, geralmente, no final de semana o bodegueiro matava um porco, salgava e passava a semana vendendo, inclusive o toicinho, que servia de óleo para fritar peixe, ovos e também ser colocado no feijão para dar o gosto.
         Se fosse possível mostrar, através de um “retrovisor do tempo”, a vida campestre de trinta anos pra trás, certamente nossos jovens não seriam tão exigentes.

Informações retalhadas do livro Memórias Campestres
 – Ernandes da Cunha.

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