AS BODEGAS
Até
umas três décadas, nas redondezas do Assu, quase todas as comunidades
rurais possuíam uma bodega – ponto comercial da localidade. O proprietário da
bodega, geralmente era também o dono de alguns “pedaços de terras” - era o
afortunado do lugar. Vendia mais fiado do que a vista. O bodegueiro na maioria
das vezes também comprava cereais, algodão e couros de animais. Era comum a
barganha de produtos, ou seja, com o dinheiro da venda, o sertanejo adquiria as
mercadorias que necessitava para a manutenção da família. Em ano de seca,
praticamente não havia esta prática, por inexistência dos produtos.
As mercadorias
para abastecer as bodegas eram
compradas na feira do Assu, em Mossoró ou no brejo da Paraíba. A farinha, o
milho e o feijão eram vendidos em medidas feitas de madeira: meio litro, litro,
meia cuia e cuia. A meia cuia equivalia a cinco litros, enquanto a cuia
correspondia a dez litros. O querosene – produto de primeira necessidade para
alumiar o casebre era vendido no varejo em litro, garrafa ou meia garrafa. Na
bodega, havia um tambor ou uma lata com torneira, no qual se despejava, pela
tampa superior, uma lata de querosene, para ser revendida na quantidade
solicitada pelo freguês.
A
farinha em grosso bem como os garajais de rapaduras vinham do vizinho Estado da
Paraíba. Até a década de setenta, na zona rural do sertão nordestino, o consumo
de rapadura era intenso. Esse produto era essencial. Nas famílias mais carentes,
geralmente, a rapadura substituía o açúcar, por ser mais barata. A dona de
casa, com o auxílio de uma faca, transformava a rapadura sólida em raspa para
adoçar café, leite, coalhada, ponche e outros alimentos. Além disso, a rapadura
também era utilizada como ingrediente em doces, cocadas e para fazer mel. O mel
da rapadura era muito apreciado com farinha. Lanche luxuoso!
Na
bodega, que eu lembre, de imediato, era vendido: farinha, rapadura, açúcar
branco e preto, arroz da terra, fósforo, corda, fumo de rolo, alpercatas de
sola, querosene, óleo em retalho, carne de jabá e, geralmente, no final de
semana o bodegueiro matava um porco, salgava e passava a semana vendendo,
inclusive o toicinho, que servia de óleo para fritar peixe, ovos e também ser
colocado no feijão para dar o gosto.
Se
fosse possível mostrar, através de um “retrovisor do tempo”, a vida campestre
de trinta anos pra trás, certamente nossos jovens não seriam tão exigentes.
Informações
retalhadas do livro Memórias Campestres
– Ernandes da Cunha.
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