quarta-feira, 27 de novembro de 2019

VALE DO ASSU:

 
Foto: Cedida
Um projeto desenvolvido no âmbito do Museu Quilombola da Picada, localizado no município de Ipanguaçu, recebeu destaque na 10ª edição do Prêmio Ibermuseus, evento internacional que tem por objetivo reconhecer e promover iniciativas ibero-americanas inovadoras no campo da educação em museus. Representando o Brasil, o museu potiguar foi classificado como vencedor na categoria I, voltada a projetos concluídos ou em fase de execução.

A premiação aconteceu neste mês e selecionou projetos de diversos países que têm em comum a valorização da identidade comunitária, o fortalecimento do patrimônio cultural e da memória social, entre outros valores. Nesta edição 158 projetos, oriundos de 15 países diferentes, foram inscritos. Desse total, 8 projetos de 7 países foram premiados, que são: Argentina, Brasil, Colombia, Chile, Equador e Portugal.

O projeto desenvolvido no museu potiguar trata-se de uma iniciativa realizada pela ONG Centro de Documentação e Comunicação Popular (Cecop), na comunidade quilombola de Picada – em Ipanguaçu.

A ação tem o objetivo de estimular, entre os atores locais, o interesse em apropriar-se dos conhecimentos e técnicas da museologia social que possibilitam a implementação e operação do museu como estratégia para a valorização da memória local, fortalecendo a organização comunitária e o protagonismo de setores historicamente marginalizados.

“O Museu Quilombola da Picada é uma determinação da comunidade em registrar suas memórias de resistência e luta, seus saberes e fazeres populares. Esse espaço será um importante equipamento cultural, educativo, turístico e para o desenvolvimento sustentável da comunidade e região”, explica o coordenador da iniciativa, Raimundo Melo.

O coordenador ainda explica que, durante o desenvolvimento do trabalho, organizou-se uma comissão de implantação do museu, constituída por lideranças locais, representantes de associações, grupos culturais, juventude, escola, ONGs e instituições como a Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC), por meio do Projeto da Rede Potiguar de Televisão Educativa e Cultural (RPTV), a Rede de Pontos de Memória e Museus Comunitários do RN e a Prefeitura de Ipanguaçu.

Proposta do museu

O projeto é executado por meio de um trabalho educativo realizado pela ONG Cecop junto a líderes da comunidade quilombola, estudantes, professores das escolas públicas, grupos culturais e associações comunitárias. São realizadas ações de mobilização e formação de lideranças comunitárias, fotografia – como estratégia de registro e difusão da realidade local -, oficinas de cultura e identidade afro brasileira, produção audiovisual e inventário participativo.

“Foram realizadas oficinas de capacitação em museologia social, de fotografia, e de memória e identidade, que resultaram na montagem de um acervo visual com a participação de alunos de escolas públicas, jovens e adultos da comunidade, bem como realizamos o registro da memória local com o uso do audiovisual e definição com a comunidade de uma planta baixa do Museu”, diz a coordenadora da ONG Cecop, Talita Barbosa, declarando que tratava-se de um sonho da comunidade a implementação de um museu.


Museu quilombola - prêmio internacional - RN
Postado por Blog do BG.

POESIA:

Nos idos de cinquenta, na cidade de Assu, interior do Rio Grande do Norte (onde de tudo acontece), chegou um circo que trazia no seu elenco, um toureiro muito arrojado, chamado Zé Tostão. Ele, o toureiro, bem como a administração do circo começou a propagar pelas arredores da cidade assuense dizendo assim: "Quem tiver touro valente, pode trazer para o circo!" Dando a entender que o toureiro venceria o touro rapidamente! O poeta assuense Andière Abreu (Majó) narra no longo poema intitulado de 'A tourada que não houve', aquela estória vivida por ele e demais amigos. Vejamos:

Logo que o circo chegou
Para toda Assu bradou
Que no seu elenco vinha
Um toureiro renomado
Valente, muito arrojado
Pois, muita coragem tinha.

Para falar a verdade
Percorreu toda a cidade
Com microfone na mão,
Gritando pra toda gente
Quem tiver touro valente
Traga para Zé Tostão.

Do gado dizendo horrores
Insultou os criadores,
Ferindo assim nosso brio,
Ele fez tanto barulho
Que mexeu com nosso orgulho
Topamos o desafio.

Majó e Chico Germano
Mais o Chicó que é seu mano
Juntamo-nos a Melé
Fomos procurar o touro
Só achamos no criadouro
De Francisco Pacaré.
Então mexemos o bico
Fomos falar com seu Chico
Pra cumprir a empreitada,
Ele pronto concordou
E o touro logo arranjou
Pra fazermos a tourada.

Para agradar Zé Tostão
Escolhemos com atenção
O melhor touro do gado,
Quinze arrobas e colhudo,
Bem forte e muito pontudo,
Mais bravo que irritado.

Cor preta de cara branca
Bem feito de peito e anca
Batizado Papangu.
Com cores desportista
Tinha que ser mesmo artista
Da nossa querida Assú.

Arengueiro e bem valente
Brigou com cavalo e gente
Fez uma festa sozinho,
Arrombou cerca e portão
Botou um muro no chão
Fez rastro em todo caminho.

O touro entrou numa casa
Passou por cima de brasa
Deu carreira em muita gente,
Respeito a nada a ninguém
Em jumento deu também
Pra mostrar que era gente.

Duas cordas na cabeça
Para que ninguém esqueça
Vou dizer quem segurava.
Era Henrique e Carnaúba
Iguais a maçaranduba
Mais fortes que fera brava.

Fora os vaqueiros citados
Foram ainda convidados
Cisso de Padre e Barão
Luiz Batista e Navega
Parando em toda bodega
Para aguentar o rojão.

Só para ter uma ideia
Toda esta grande epopeia
Durou um dia completo,
E o percurso era pequeno
Mas de indiferentes foi pleno
Deixou o povo inquieto.

E a tourada que não houve
Somente ao touro se louve
Pela sua valentia,
Pois noutro dia bem cedo
Toureiro e artista com medo
Deixaram a praça vazia.

Postado por Fernando Caldas.