SOBRADO DA BARONESA
- BREVE HISTÓRICO -
O município do Assú possui um grande número de prédios históricos. É considerado detentor do maior acervo arquitetônico do interior do Rio Grande do Norte. No entanto, se a administração municipal não tiver o devido cuidado, fazendo cumprir a lei de preservação e conservação destes casarões, certamente, dentro de poucos anos haveremos de perder este título.
Por entender que a população assuense precisa conhecer para valorizar o seu acervo repassaremos informações, através deste blog, sobre alguns desses ameaçados palacetes.
SOBRADO DA BARONESA
O prédio Colonial “Sobrado da Baronesa”, de arquitetura de linhas muito sóbrias, foi edificado pelo Coronel Manoel Lins Wanderley – conhecido por Coronel Wanderley (*22/03/1804 + 1878). Casado a 24 de dezembro de 1825 com Maria Francisca da Trindade Wanderley, da família Casa Grande. A construção do sobrado é, presumidamente, anterior a esta data.
O pai do Coronel Wanderley, Gonçalo Lins Wanderley (fundador da família Wanderley no Rio Grande do Norte) foi presidente da Câmara Municipal de Villa Nova da Princesa (atual Assú), em 1822.
Manoel Lins Wanderley (Coronel) nasceu no dia 22 de março de 1804. Foi deputado Provincial, tomando parte na instalação da Assembleia Legislativa Provincial a 02 de fevereiro de 1835.
Revolucionário contra Pinto Madeira, no ano de 1832, o Coronel Wanderley armou 300 homens e foi ao Ceará combater o inimigo, com gastos por sua conta. Decorreu daí a patente de “coronel”. Foi alto comerciante. Edificou o sobrado e reconstruiu a Igreja Matriz de São João Batista além de ter doado a imagem do Santo. Faleceu no ano de 1878. Em Assú existe uma rua que leva o seu nome como patrono.
No sobrado nasceram dois filhos do casal Manoel Lins Wanderley e Maria Trindade Wanderley: Luiz Carlos Lins Wanderley (30/08/1831) – primeiro médico do Rio Grande do Norte, teatrólogo, poeta, jornalista, deputado provincial, vice-presidente da Província, governando-a em 1886. Dirigiu o Correio de Natal. É de sua autoria o primeiro romance potiguar, “Mistérios de Um Homem Rico”; E, no dia 13 de outubro de 1836, Belisária Lins Wanderley de Carvalho e Silva (a Baronesa de Serra Branca).
Belisária casou-se com Felipe Nery de Carvalho e Silva - o Barão de Serra Branca (O título de barão custou-lhe a quantia de hum mil réis, o qual recebeu-o e prestou juramento, no Gabinete Ministerial do Conselheiro João Alfredo, no dia 24 de outubro de 1888. O ato foi assinado pela Princesa Regente Dona Isabel, no dia 30 de março do mesmo ano). Natural de Santana do Matos. Não tiveram filhos.
Após a morte do velho Coronel Manuel Lins Wanderley (1878), vieram a residir naquele sobrado o Barão e a Baronesa de Serra Branca tendo a mesma libertado seus escravos três anos antes da Lei Áurea, no dia 24 de junho de 1885. Após a sessão solene, que ocorreu na Igreja Matriz, ela abriu as portas do seu sobrado e ofertou um banquete aos recém libertados para comemorar o ato abolicionista.
Após a morte do Barão, ocorrida no dia 16 de julho de 1893, a Baronesa permaneceu residindo no suntuoso prédio até por volta de 1925, indo residir na capital potiguar. A Baronesa faleceu no dia 13 de abril de 1933, em Natal. Foi a última titular do Império, no Rio Grande do Norte. Os corpos do Barão e da Baronesa foram sepultados num mausoléu no cemitério São João Batista em Assú.
Depois o ‘Sobrado da Baronesa’ serviu de residência e consultório do renomado político e médico Dr. Ezequiel Epaminondas da Fonseca Filho. Na sala nobre, primeiro andar do sobrado, recebeu diversas autoridades, entre estas, o então Presidente da República Getúlio Vargas. Na oportunidade o mesmo oficializou o pedido da construção da Ponte sobre o rio Piranhas ou Assú.
Por diversos anos o sobrado ficou desocupado, abandonado, em ruínas.... Numa segunda feira, dia 21 de julho de 2003, o Assú recebeu a visita de uma comissão formada pelas seguintes pessoas: Sr. François Silvestre de Alencar - Presidente da Fundação José Augusto; Paulo Heider Forte Feijó e Valéria de Paiva Oliveira - arquitetos da FJA e, da ilustre assuense Dra. Maria do Perpetuo Socorro Wanderley de Castro - Ministra do Superior Tribunal do Trabalho.
A convite da administração municipal a comissão tinha por finalidade visitar alguns casarões da cidade do Assú para emissão de um parecer técnico, orientando a prefeitura a desapropriar um imóvel para ser instalada a CASA DE CULTURA POPULAR DO ASSÚ.
A aludida comissão foi recepcionada e acompanhada nas visitas aos principais sobrados, pelo prefeito em exercício José Antônio de Abreu, o Secretário de Cultura Gilvan Lopes de Souza, Secretário de Governo Ivan Pinheiro Bezerra, secretário de Administração Marcos Antônio Montenegro, jornalista assuense Auricéia Antunes de Lima, corretora de imóvel Sra. Alcina Abreu e pelos artesãos e produtores culturais Cícero Josemar da Mota, Dario Gaspar Nepumoceno, Gracia Margarida Ramalho e o radialista Edmilson da Silva. A escolha, por maioria, foi o SOBRADO DA BARONESA por reunir maior representatividade arquitetônica e histórica para o município.
Em 26 de setembro de 2003 a Prefeitura Municipal comprou o ‘Sobrado da Baronesa’ aos herdeiros José Wanderley de Sá Leitão e Alba Fonseca de Sá Leitão pelo valor de R$. 100.000,00 (cem mil reais), pagos em cinco parcelas. O então prefeito Ronaldo da Fonseca Soares assinou termo de concessão de uso, pelo prazo de 20 anos, para que o Estado, através da FJA, instalasse a CASA DE CULTURA POPULAR DO ASSÚ.
A Casa de Cultura foi inaugurada no dia 26 de dezembro de 2003. O pátio interno do Sobrado deu lugar à Praça de eventos Maria Olímpia Neves de Oliveira. As paredes do pátio receberam vinte pinturas feitas por artistas da terra. O evento contou com a presença da Governadora Wilma de Faria, do prefeito Ronaldo Soares, do presidente da FJA, François Silvestre de Alencar, entre outras autoridades.
A festa de inauguração da Casa de Cultura teve show artístico. Um mega espetáculo preparado por artistas selecionados, que celebraram a chegada do cordeiro que simboliza o verdadeiro presente de natal.
Depois desse período aconteceram problemas de ordem administrativa e a Casa de Cultura Popular Sobrado da Baronesa chegou a parar suas atividades, retomando-as no dia 13 de outubro de 2011. Prestigiaram o evento a secretária extraordinária de cultura do RN, Isaura Rosado, o senador José Agripino, o prefeito do Assu Ivan Júnior, a coordenadora e o subcoordenador das CCPs, Joana Darc Xavier e Jefferson Tavares. A Casa passou a ser dirigida pelos agentes de cultura, Jeová Júnior e Ioquelim Lima.
O evento contou com a participação de artistas da cidade, exposição de artes plásticas, lançamento da Revista Preá, apresentação da Orquestra Filarmônica Maestro Cristóvão Dantas, do poeta Paulo Varela e show instrumental da dupla Zé da Velha e Silvério Pontes, através do projeto itinerante patrocinado pela Petrobras.
O Sobrado da Baronesa ao longo de seus possíveis dois séculos de resistência e história, passou por alguns endereços: Praça da Matriz, Rua Casa Grande (nome dado à rua em virtude de outros prédios de edificações vistosas e pomposas com eira e beira, que formavam um grande acervo arquitetônico), Praça da Proclamação e atualmente Praça Getúlio Vargas, 155 – centro - Assú.
A Praça São João não mudou o nome das ruas que a circundam. A mudança foi tão somente no logradouro público que foi denominado de ‘Praça São João Batista’, numa homenagem ao Santo Padroeiro do Assu.
Atualmente a Casa de Cultura Popular Sobrado da Baronesa está sendo dirigida pelo artista plástico Wagner de Oliveira que vem realizando um bom trabalho, numa parceria com os artistas, apesar dos escassos incentivos.
Fontes:
Salvados do Assu – Celso da Silveira;
Assu, Gente Natureza e História – Celso da
Silveira;
Assu – Dos Janduís ao Sesquicentenário – Ivan Pinheiro;
Jornal O Mossoroense.
Fotografia: Jean Lopes - Assuense.
Fotografia: Jean Lopes - Assuense.