sábado, 20 de outubro de 2012


OS BAOBÁS DO ASSU

          A revista Conterrâneo – uma publicação bimestral do Banco do Nordeste, a qual circula nacionalmente nas cidades onde existem agências, na edição de número 22, de janeiro e fevereiro DE 2010, trouxe em suas primeiras páginas 05, 06 e 07, uma ótima reportagem com o título de Os Baobás do Assu. A matéria informa que: localizados a 210 quilômetros de Natal, os 11 exemplares ficam nos arredores da Lagoa do Piató, sendo que seis deles têm em torno de 20 metros de altura e medem até quatro metros de diâmetro. A história deles é tão antiga que antecede, inclusive, a data de criação do município.
         No século XVII, colonos tentavam se estabelecer na região do sertão potiguar hoje chamada de Vale do Assu. Escravos que participaram do processo de colonização teriam levado sementes da planta, considerada sagrada pelos africanos. Para eles, seus espíritos passam a habitar o tronco da árvore após a morte, daí a importância de sempre tê-la por perto.
         Como os baobás não formam “anéis” em seu tronco com o passar do tempo, é difícil estimar sua idade por meio da dendrocronologia, método científico por meio do qual se faz a datação. O proprietário da área onde se localizam as gigantes, Arivanaldo Bezerra galvão, o “Vavá”, estima que elas tenham entre 350 e 400 anos.
         “Vavá” explica que: “- Quando eu era criança, conheci um senhor já velhinho, que hoje teria uns 140 anos, e perguntei-lhe se ele se lembrava dessas árvores ainda pequenas. Ele me respondeu eu nem o avô dele havia visto”. 
        A revista traz fotografias do nosso talentoso fotógrafo Jean Lopes. Uma foto dos baobás, outra da agência de Assu e outra com todos os funcionários do Banco do Nordeste. A matéria é do jornalista Pedro Miguel da superintendência do Rio Grande do Norte.
       Este trabalho publicado pelo Banco do Nordeste levou o nome de nossa cidade além fronteiras, divulgando nossa história, nossas potencialidades econômicas e culturais, nossos festejos juninos e concluiu fazendo um relato da atuação da agência em nossa cidade e região já que o Banco do Nordeste atende aos municípios de: Assu, Campo Grande, Carnaubais, Ipanguaçu, Itajá, Janduís, Messias Targino, Paraú, Porto do Mangue e Triunfo Potiguar. Um ótimo trabalho. Valeu!
       Além dos Baobás antigos, localizados na Lagoa do Piató, podemos encontrar outros exemplares no município, ainda novos, como por exemplo: na cidade (no conjunto Janduís em frente a Igreja de Irmã Lindalva e no canteiro em frente a Rádio Princesa), plantados por Samuel Fonseca. Outro no Ateliê de Gilvan Lopes na Rua do Córrego. Outros dois encontramos na zona rural sendo um em Linda Flor, plantado por Jaciel Carlos de Macedo, e outro na comunidade de Areia Branca - Piató, plantado no quintal da  Casa da Memória Chico Lucas pelos membros do núcleo de pesquisas da UFRN, coordenado pela pesquisadora e professora Conceição Almeida.
           Esperamos que estas árvores, tão belas e tão raras no Brasil, possam receber o carinho de seus proprietários para que sua preservação seja eterna, já que, segundo estudos, cada árvore tem condições de sobrevivência milenar. 

         

sexta-feira, 19 de outubro de 2012



         Assú
















Terra natal é belo quando esplende
O azul da tua abóbada infinita,
Torrão, no qual tanta nobreza habita,
Onde o Piranhas* plácido se estende.

Sertaneja cidade, em ti palpita
Um, seio amigo e bom que a todos prende
Teu campo é um ninho alegre que recende
Aos raios tropicais que o sol vomita.

Nordestino rincão, valor genérico
De um povo, a resistir à intensidade
Do terrível flagelo climatérico.

Ao vir do inverno, em vez do mal profundo,
Pode-se comparar tua bondade
A um pedaço de céu dentro do mundo.

Poeta assuense João Natanael de Macedo.

*Rio Piranhas/Assu


A MULHER DO VAQUEIRO

Arilo Luna*

          A compra da fazenda foi a realização de um sonho. Não era lá grande coisa. Seiscentos hectares, um açudeco que melhor levaria o nome de barreiro, e uma casa de taipas onde residia o vaqueiro.
         De quebra, fizeram parte do negócio, quarenta cabeças de gado, quarenta semoventes esqueléticos, enegrecidos pelo carrapato, que na ocasião, lambiam pedras e palitavam os dentes nos talos de marmeleiro do ressequido sertão de Quixeramobim.
         Mas para Alípio Guedes, dentista, funcionário público (com todo respeito) não importava o estado de abandono em que se encontrava a propriedade.
         Realizara um desejo antigo: ser dono de alguma terra. Era como matar um recalque de infância. Para a fazenda, tinha a cabeça cheia de planos. Aos poucos, dentro de suas posses, iria construir a casa de morada, um açude de vergonha e semear capim.
       Mas, o importante é que doutor Alípio, tornou-se fazendeiro, e levou a sério! Largou a costumeira roda de cerveja no boteco e, religiosamente, toda madrugada de sábado, tocava o carro rumo a Quixeramobim.
         Lamentava a falta da casa de morada, pois, a contra gosto, tinha sempre de retornar na tarde do mesmo dia.  
          De certa feita, quando chegava à fazenda, a mulher do vaqueiro veio ao seu encontro.
- Doto, o Zé foi visitar um parente qui tá pra morrer. Mas deixou dito qui vorta no começo da tarde.
O dentista coçou a cabeça.
- Mas logo hoje que eu trouxe as vacinas... O danado desse parente não podia ter arranjado dia pior pra adoecer... Bom, não tem que fazer, se não esperar... Vou esperar... Vou aproveitar pra dar umas voltas e vê o gado.
Ao meio dia, a mulher do vaqueiro fez milagres com o pouco que tinha. Enquanto o almoço era servido, Alípio ficava de butuca nas formas bonitas da cabocla. Aqueles seios empinados, aquelas ancas largas há meses povoavam seus sonhos. Ela corava, derrubava as panelas, embaraçada no olhar visguento do patrão.
O sol se aninhou no poente e o vaqueiro não retornou.
A boca da noite, enquanto tomava café, o dentista falou:
- Minha senhora, acho que o parente do Zé morreu e ele só vem amanhã depois do enterro. O diabo é que eu estou com as vacinas do gado dentro do carro num depósito com gelo e, se não forem usadas até amanhã vão estragar. Vai ser o jeito esperar Zé, pra mostrar como se aplica... Bom, nesse caso, vou ver se tiro um cochilo dentro da Belina.
A mulher sobressaltou-se:
- Oxente doutor, nem pensar. Qui vexame maior, o senhor o dono da fazenda, drumindo dentro do carro... O senhor vai drumi é numa rede branca, novinha, armada aqui na sala.
- Não, minha senhora, de maneira alguma. Não vou incomodar e além do mais...
            Ela atalhou com um gesto de mão.
- Ave Maria, dotô, onde já se viu, o sinhô drumindo no relento?
A rede foi armada. Os dois foram dormir num clima tenso, cerimonioso. Ele na sala, ela no quarto ao lado, separados por meia parede.
Ela apagou a lamparina com um sopro alto – Ffuuu.
Ele, do seu lado, apagou com maior estardalhaço – Ffuuuuu.
Ela se mexia no colchão de palha de banana – Fuá, fuá.
Ele roçava o pé no punho da rede – Roc, roc, roc.
Lá fora, o pai do chiqueiro bodejava atrás das cabras, comia e bufava satisfeito.
O tempo passava. A cabocla tossia, ele pigarreava. A palha de banana chiava, o punho da rede respondia.
Depois de dez minutos de silêncio, como se houvesse um pacto entre homens e animais, ela usou o pinico num som de cachoeira. Ele deu um instante de trégua e arrancou do seu urinô uma sinfonia de biqueira. A lua descambou.
     Deu-se outro hiato de silêncio e, de repente, a voz encabulada da mulher do vaqueiro atravessou a parede:
- Dotô, já qui o sinhô vai me faltar com a vergonha, falte logo qui eu já tô com sono...


*Livro: As águas Doces do Rio Salgado.