O SEGREDO DE LAURINHA
Maria
Consuelo atendeu ao telefone. Era Laurinha, a sua melhor amiga,
pedindo-lhe que fosse com urgência à sua casa, que tinha algo a lhe contar.
A tarde, Maria Consuelo
apareceu.
- Que há criatura? Alguma
cousa com as crianças ou com o Argemiro?
- Com as crianças, não.
Estão na escola... É com meu marido... Mas, sente-se. Tome primeiro este copo
de suco de pitanga. Está uma delícia.
- Que foi, que há com o Argemiro?
Por acaso te bateu, arranjou amante?
- Não, nada disto, ele é um
santo. Não sabe o que faz para me agradar. Ontem mesmo, me trouxe um lindo
vestido da butique. Sempre que vem da rua me traz alguma cousa. Até flores me
oferece.
- Bem, então você é uma
felizarda. Eu nunca tive o gostinho de receber um buquê de flores do meu
marido. Ele é machista demais.
- Bem, sabe o que foi?
- Diga logo, criatura.
- Eu botei um par de chifres
nele.
O copo caiu das mãos de
Maria Consuelo.
- Mulher, pelo amor de Deus,
o que foi que te deu na cuca?
- Nada, Maria, só que enjoei
de comer arroz doce todo o dia... Com ele...
- E agora?
- Tô apaixonada. O cara é
macho prá valer, é um barato, estou renovada, mal consigo respirar. Sinto o
sangue ferver em minhas veias...
- E ele?
- Quer que eu vá todas as
tardes para o nosso encontro.
- Então, você agora é a “Bela
da Tarde” – Viu o filme? – Disse com ironia na voz.
- É a minha cópia fiel.
- Laurinha, só tenho um
conselho a lhe dar. Cuidado. Não se iluda com esses homens calmos e mansos.
Eles podem trazer dentro do peito um vulcão. Então, doce lar, adeus! Ademais, o
Argemiro não merece isto. Tenha juízo, Laurinha, dedique-se mais aos seus
filhos e esquece esse romance.
- Maria, obrigada pelos seus
conselhos. Vou pensar em tudo isto.
Maria Consuelo preocupada se
despediu da amiga. Na rua, monologava baixinho:
- Sexo! Caldeirão do mundo.
Que caldeirão!
Autora: Maria Eugênia
Maceira Montenegro - Todas as Marias – FJA – 1996.