sábado, 20 de setembro de 2014

REMINISCÊNCIAS:

CHEIAS DE 1964 - PARTE II
   
No ano de 1964 a notícia de uma enchente na várzea do Assu – pela carência de comunicação parecia um acontecimento tão distante como se estivesse acontecendo em outro planeta. O jornalista Cassiano Arruda estava começando a sua carreira de repórter no jornal Tribuna do Norte, quando recebeu a grande missão de cobrir as inundações.

A região estava completamente ilhada e não se conseguia chegar aqui a não ser de avião. Desta forma conseguiram um lugar para o jornalista Cassiano em um teço-teco à serviço do Governo do Estado, e o deram uma velha Câmara Yaschica para documentar a enchente.

Estava acertado que ele viria pela manhã, sobrevoaria o vale e retornaria no fim da tarde. No entanto, alguém do comitê de atendimento aos flagelados formado aqui em Assu requisitou o lugar do repórter Cassiano no avião para atender a um enfermo que precisava ser transportado para Natal.
         
Desta forma ele teve que ficar em Assu e terminou se integrando ao grupo que tentava fazer alguma coisa para atender as populações e tentar mandar seus relatos para o jornal.

Assu só tinha energia a noite e não contava com serviço de telefonia. A comunicação com Natal e o mundo, estava a cargo de um grupo de rádio-amadores que montou um esquema e ficou o tempo todo no ar, com motores complementares e baterias. Era esse o único meio ao seu dispor para mandar seus relatos a Tribuna do Norte.
        
Cassiano, como único jornalista presente, virou uma espécie de autoridade, sempre convocado para dar o seu testemunho de que se estava fazendo o melhor possível para atender a população.

Andou de batelão, uma espécie de canoa, com o líder Edgard Montenegro de Assu a Pendências e retornou numa carroça puxada por um trator. Segundo ele, da volta não lembra muita coisa, por incrível que pareça, de tão cansado veio dormindo sem se importar com os solavancos.

Cassiano só voltou a Natal uma semana depois. Em vez do reconhecimento ao seu esforço, sentiu certo desapontamento dos seus colegas de jornal. É, que, enquanto ele se preocupava em assistir os desabrigados das enchentes, Luiz Maria Alves – Diretor do Diário de Natal conseguiu um lugar para o jornalista Paulo Saulo num avião da FAB que sobrevoou a região, e destacou um redator para sintonizar a rede dos rádio-amadores, conseguindo dar primeiro as informações que Cassiano imaginava serem exclusivas. Foi – literalmente – o batismo do grande jornalista Cassiano Arruda na reportagem norte-riograndense.

Tivemos como fonte: Diário de Natal de 13 de abril de 2008.
Foto: Blog de Fernando Caldas - Rua Moysés Soares.

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