CHEIAS DE 1964 - PARTE II
No ano
de 1964 a notícia de uma enchente na várzea do Assu – pela carência de
comunicação parecia um acontecimento tão distante como se estivesse acontecendo
em outro planeta. O jornalista Cassiano Arruda estava começando a sua carreira
de repórter no jornal Tribuna do Norte, quando recebeu a grande missão de
cobrir as inundações.
A
região estava completamente ilhada e não se conseguia chegar aqui a não ser de
avião. Desta forma conseguiram um lugar para o jornalista Cassiano em um teço-teco
à serviço do Governo do Estado, e o deram uma velha Câmara Yaschica para
documentar a enchente.
Estava
acertado que ele viria pela manhã, sobrevoaria o vale e retornaria no fim da
tarde. No entanto, alguém do comitê de atendimento aos flagelados formado aqui
em Assu requisitou o lugar do repórter Cassiano no avião para atender a um
enfermo que precisava ser transportado para Natal.
Desta
forma ele teve que ficar em Assu e terminou se integrando ao grupo que tentava
fazer alguma coisa para atender as populações e tentar mandar seus relatos para
o jornal.
Assu só tinha energia a noite e não contava com serviço de telefonia. A
comunicação com Natal e o mundo, estava a cargo de um grupo de rádio-amadores
que montou um esquema e ficou o tempo todo no ar, com motores complementares e
baterias. Era esse o único meio ao seu dispor para mandar seus relatos a
Tribuna do Norte.
Cassiano,
como único jornalista presente, virou uma espécie de autoridade, sempre
convocado para dar o seu testemunho de que se estava fazendo o melhor possível
para atender a população.
Andou
de batelão, uma espécie de canoa, com o líder Edgard Montenegro de Assu a
Pendências e retornou numa carroça puxada por um trator. Segundo ele, da volta
não lembra muita coisa, por incrível que pareça, de tão cansado veio dormindo
sem se importar com os solavancos.
Cassiano
só voltou a Natal uma semana depois. Em vez do reconhecimento ao seu esforço,
sentiu certo desapontamento dos seus colegas de jornal. É, que, enquanto ele se
preocupava em assistir os desabrigados das enchentes, Luiz Maria Alves –
Diretor do Diário de Natal conseguiu um lugar para o jornalista Paulo Saulo num
avião da FAB que sobrevoou a região, e destacou um redator para sintonizar a
rede dos rádio-amadores, conseguindo dar primeiro as informações que Cassiano
imaginava serem exclusivas. Foi – literalmente – o batismo do grande jornalista
Cassiano Arruda na reportagem norte-riograndense.
Tivemos
como fonte: Diário de Natal de 13 de abril de 2008.
Foto: Blog de Fernando Caldas - Rua Moysés Soares.
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