A
MINHA CIDADE*
Quando comecei a ter o uso
da razão, isto é, a ser capaz de dar recado, levar bilhete, fazer mandados, a
minha cidade, a nossa cidade tinha escassos limites que iam do bairro Macapá –
com uma rua só de casas quase que todas de taipa cobertas com palha de carnaúba
– até à Rua São Paulo, com vários espaços vazios entre esses extremos de Norte
e Sul.
As ruas chamadas principais
eram localizadas na Praça da Matriz – era o Quadro da Rua, onde ficavam a Rua Casa Grande (norte), do Mercado
(sul), São João (nascente) e Coronel Souto (poente).
Era aí que moravam as
pessoas importantes e famílias endinheiradas. Moravam o Juiz de Direito, o
Promotor, o Vigário, o Médico, e o farmacêutico, o patriarca da família Casa
Grande – jornalista Antônio Soares de Macedo – e o da família Piató – Zumba Marreiro.
Existiam, como ainda hoje
existe, o sobrado da Baronesa de Serra Branca e o do velho José Gomes de
Amorim, este construído em 1845. A Praça da Matriz vem de longa data. Já
Koster, historiador inglês, que por aqui passou no dia 1º de dezembro de 1810
fez referência a ela, destacando a Matriz e o historiador Manoel Ferreira
Nobre, em seu livro “Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte”,
impresso na Tipografia Espiritosantense, em Sergipe, no ano de 1877, destacava
a casa de residência do Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley, localizada nesta mesma
Praça. Os sobrados de Minervino e o de Medeiros (Antônio Dantas Correia de
Medeiros), desapareceram para darem lugar a outras edificações residenciais.
A antiga Cadeia Pública, a
Intendência e a inacabada igreja do Rosário, também desapareceram. Estão hoje
em seus lugares a Prefeitura e a Praça do Rosário, cuja imagem de Nossa Senhora
é doação do Dr. Pedro Amorim, médico e político da terra.
No “Quadro da Rua” ficavam o
comércio – a Casa Dantas – Nova Aurora do Dantas – A Casa Medeiros, firma
sucessora; João Vicente da Fonseca, os armazéns de compra de algodão e peles de
“Seu” Nondas – Epaminondas – depois do Coronel José Soares Filgueira Sobrinho,
Ezequiel Fonseca, Osvaldo Oliveira e João Caldas.
Na Rua São Paulo (atual
Minervino Wanderley) destacavam-se o prédio do Grupo Escolar Tenente Coronel
José Correia e os armazéns do exportador Minervino Wanderley e do comprador de
couros e peles Luiz Cabral, cujo estabelecimento exibia o pomposo título de “O
Rei do Algodão”.
Nessa época essas firmas
exportavam diretamente algodão para Liverpool.
A primeira rua a receber
iluminação a querosene foi a rua Coronel Souto, na Praça da Matriz. A sua
inauguração ocorreu em 24 de dezembro de 1908, na administração de Antônio Saboia.
Coincidiu que nessa noite, depois da Missa do Galo, tinham lugar os festejos da
Lapinha na residência do Coronel Sá Leitão, à Rua das Hortas, atual Moisés
Soares. Lembro-me bem. Nós meninos que tínhamos ido assistir aquela diversão,
inclusive eu que nela tomei parte, nos intervalos íamos até o Beco da Botica,
depois Farmácia Amorim, verificar se os lampiões ainda estavam acesos.
A luz elétrica (a motor) só
chegou ao Assu, em 13 de dezembro de 1925.
*Relato
de Francisco Amorim (Chisquito) no livro ‘Assu da Minha Meninice’ – 1982.
Foto: Página R.
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