terça-feira, 11 de março de 2014

POESIA

MOTE 

UM INFELIZ COMO EU

I

A morte mata o sultão, 
arcebispo  cardeal,
presidente, marechal,
ministro, conde e barão;
em tempos matou Roldão,
como na história deu;
o próprio Jesus morreu;
mata tudo ó morte ingrata,
só não sei porquê não mata
um infeliz como eu.

II

Ela mata todo mundo,
branco, preto, rico e pobre,
mata o potentado, o nobre,
mata o triste e o vagabundo;
matou Dom Pedro Segundo,
matou quem o sucedeu;
capitalista e plebeu,
mata tudo, não tem jeito,
mas não mata, por despeito,
um infeliz como eu.

III

Não reserva o cientista,
mata sem dó o profeta,
tirana, mata o poeta,
mata o maior estadista;
mata também o artista,
o cego, o mudo, o sandeu,
mata o crete e o ateu,
diplomata e titular,
mas poupa, não quer matar
um infeliz como eu.

IV

Ela mata no Senado,
como matou Rui Barbosa,
entra no Congresso airosa
aí mata um deputado;
matou Pinheiro Machado,
dele não se condoeu,
ela jamais atendeu,
mata gente, mata bicho,
mas não mata, por capricho,
um infeliz como eu.

Autor:

Moysés Lopes Sesyom.
Comerciante, nascido em Caicó, mas feito poeta em Assu.
*28/07/1883 + 09/03/1932.

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