DÔ TUDO
Tudo
qui eu tenho, Sá Dona,
Lhe
dô, si vancê quizé.
A
vida num vale nada
Pru
home sem a muié...
É
cuma espingarda véia
Qui
só quebra o catolé.
Num
vale mesmo de nada,
Num
paga o trabaio de tê,
Num
presta nem prá infeito
Nem
prá dá, nem prá vendê.
A
gente tem pruquê tem
E
num qué se desfazê.
Mas,
cuma ia dizendo:
Tudo
quanto Deus me deu,
O
Má, a Terra, as Estrêlas
Qui
pestanejam no Céu,
O
Vento, a Lua, as Flôres
E o
Só qui também é meu,
Eu,
dô tudinho a Sá Dona;
Dô
inté minha viola,
Qui
tem in cada uma corda
Um
grito qui me consóla...
Pois
cada gemido seu,
Tem
o valô de uma esmola.
E
tudo isso eu lhe dô.
Muito
mais quizera eu tê.
Quanto
mais coisa eu tivesse,
Mais
coisa eu dava a mecê!
Somente
prá tê um gôsto:
Era
lhe sastifazê!...
Mas
Sá Dona, lhe só franco,
Num
tenha raiva de eu...
Uma
coisa eu não lhe dô.
Foi
Sá Dona qui me deu...
E
ainda trago na boca,
- É
o gosto de um bêjo seu.
Autor: Renato Caldas
* 08/10/1902 - Assu
* 26/10/1991 - Assu.
COMENTÁRIOS:
COMENTÁRIOS:
- RQBEZERRA13 de março de 2014 20:49Amigo Ivan, neste dia me vem a lembrança de que o Assú já merece um memorial aos poetas. Quem conhece o memorial dos cangaceiros em Mossoró sabe que é um museu a céu aberto, muito interessante, Seria não copiar mas pegar a idéia e fazer em Assú algo parecido. Já imaginou numa parede a foto de Renato Caldas com duas ou três poesias enaltecendo o seu talento?. Com certeza nesse memorial estariam 12 a 15 nomes que seriam homenageados.ResponderExcluir
- Ivan Pinheiro Bezerra13 de março de 2014 21:28Sem dúvidas Rosivaldo. Você pode falar com propriedade porque é um grande poeta, esposo de uma poetisa e ouvi falar que em sua prole tem poetas. Assu ainda é hoje um celeiro da poesia potiguar. Muita gente no anonimato, infelizmente. Um forte abraço!