sábado, 30 de novembro de 2013

HISTÓRIA

Evolução Histórica do Assu - Parte III

Guerra dos Bárbaros
 
Os Janduís eram absolutamente livres. Viviam em comunidade, num solo de excelente qualidade. Por esta razão não escaparam da cobiça do homem branco que sem dó e piedade castigaram este modo de viver até a última força de resistência. Como disse a antropóloga Nazira Vargas, as mercadorias procuradas eram os índios e suas terras e para conseguí-las todos os meios, os mais violentos, foram utilizados” (VARGAS, 1987:33).
Contra o português invasor, a resistência dos Tapuias ora aparecia em forma de luta, ora com articulações, ora com tentativas de Acordos de Paz. Sobre as articulações Nazira ressalta que “o importante é analisar, a partir da ideologia do oprimido, as suas razões para as alianças estabelecidas”. (Idem).
É nesta ótica que deve ser vista a luta contra os portugueses, onde os Tapuias do Assú, aliados com Pedro Poti, o Governador dos índios da Paraíba, acreditaram numa aliança com os holandeses, aliança já proposta desde 1631. No ano de 1654, com a expulsão dos holandeses do Brasil, muitos índios revoltados com os portugueses migram para o Ceará juntando-se aos Paiacus, onde buscam nova articulação com os holandeses e criam a LIGA ÍNDIA – “organização heróica e poderosa dos índios do sertão”. (Fernandes, 1992; 13).
No dia 15 de fevereiro de 1687 intensifica-se a Rebelião dos índios (que viria a durar 10 anos). A perseguição que os Portugueses exerciam sobre os índios, procurando escravizá-los, e a má vontade que os Bárbaros tinham para com os novos povoadores do solo, motivou esta forte sublevação dos selvagens. Os índios do Assu mataram 46 portugueses, milhares de cabeças de gado e queimaram toda coisa viva. Tomaram-lhes ainda reses e cavalos, trocando os animais por armas de fogo, na foz do rio Assu e Mossoró, com piratas. Essa rebelião recebeu o nome de Guerra dos Bárbaros.
Descrevendo o início da chamada Guerra dos Bárbaros, Pedro Carrilho de Andrade refere-se a incursões praticadas entre o Assú e o Jaguaribe, pelos índios paiacus. A seguir, informa que “de paz estavam também os Janduís, quando se levantaram nas ribeiras do Assú, Mossoró e Apodí (...)”. (Medeiros Filho; 1984; 24).
Por ocasião da chamada Guerra dos Bárbaros, os Tapuias já utilizavam armas de fogo. Nos termos da capitulação de 10 de abril de 1692, realizada entre o Governador Geral do Brasil, Antonio Luiz Gonçalves da Câmara, e Canindé - Rei dos Janduís (Filho de Janduí), nesta data, Morisot cita o fato de aqueles índios disporem de treze para quatorze mil armas, e cinco mil homens de arcos, destros nas armas de fogo. Também já tinham aprendido a utilizar o cavalo.
A Nação Janduí achava-se comandada pelo Rei Canindé, sob cuja obediência existiam cerca de 15 mil indígenas. O território habitado pelos Janduís estendia-se pelas Capitanias do Rio Grande, Paraíba, Pernambuco e Itamaracá. (Medeiros Filho, 1984; 25).
Em 1687, os Janduís, juntamente com as tribos do Vale do Jaguaribe-CE, levantam-se numa grande revolta, chegando a vencer contingentes comandados por Albuquerque Câmara. Perdurando essa guerra, entrou em cena, em 1690, o Mestre de Campo, Jorge Velho que, a mando do governador de Pernambuco, Exmo. Arcebispo Dom Frei Manoel da Ressurreição, efetivou um grande massacre, abatendo 260 nativos. (Fernandes, 1992; 13).
Domingos Jorge Velho continuou na guerra contra o tapuia levantando até o final de 1691, quando chegou ao sertão deflagrado o paulista Matias Cardoso, que recebeu o comando unificado das operações bélicas. Domingos, então, seguiu para enfrentar a luta contra o Quilombo dos Palmares, em decorrência do contrato firmado com o governador de Pernambuco. (Medeiros Filho, 1984; 122).
Os documentos da época registram uma resistência dos Tapuias aos colonizadores até 1726, incluindo-se aqui as fugas do cativeiro. Nesses combates, participavam, ao lado dos portugueses, índios e negros que já se encontravam sob o seu domínio.

“Tempo glorioso esse, na História do Oprimido: Em Palmares, Zumbi e seu sonho de Liberdade. Nos sertões do Rio Grande, Janduí e seus companheiros, em levante, defendem o mesmo sonho. Contra eles, os inimigos comuns: Bandeirantes Paulistas que se apossaram do segredo do seu chão, para destruir os filhos da terra; soldados armados com o que de mais avançado havia, em munição de guerra; negros e índios nos quais a ideologia de fidelidade ao El Rei e, sobretudo, ao Deus Todo Poderoso dos Cristãos, cravara o espírito e armara as mãos contra seus iguais”. (Vargas, 1987:46).

Os Janduís, apaziguados, foram aldeados com seus missionários, com a chegada à região do Capitão-Mor Bernardo Vieira de Melo.
Fonte: Assu dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro.

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