Evolução Histórica do Assu - Parte III
Guerra dos Bárbaros
Os Janduís eram
absolutamente livres. Viviam em comunidade, num solo de excelente qualidade.
Por esta razão não escaparam da cobiça do homem branco que sem dó e piedade castigaram
este modo de viver até a última força de resistência. Como disse a antropóloga
Nazira Vargas, “as mercadorias procuradas eram os índios e suas terras e para
conseguí-las todos os meios, os mais violentos, foram utilizados” (VARGAS,
1987:33).
Contra o
português invasor, a resistência dos Tapuias ora aparecia em forma de luta, ora
com articulações, ora com tentativas de Acordos de Paz. Sobre as articulações
Nazira ressalta que “o importante é analisar, a partir da ideologia do
oprimido, as suas razões para as alianças estabelecidas”. (Idem).
É nesta ótica
que deve ser vista a luta contra os portugueses, onde os Tapuias do Assú,
aliados com Pedro Poti, o Governador dos índios da Paraíba, acreditaram numa
aliança com os holandeses, aliança já proposta desde 1631. No ano de 1654, com
a expulsão dos holandeses do Brasil, muitos índios revoltados com os
portugueses migram para o Ceará juntando-se aos Paiacus, onde buscam nova
articulação com os holandeses e criam a LIGA ÍNDIA – “organização heróica e poderosa dos índios do sertão”. (Fernandes,
1992; 13).
No dia 15 de
fevereiro de 1687 intensifica-se a Rebelião dos índios (que viria a durar 10
anos). A perseguição que os Portugueses exerciam sobre os índios, procurando
escravizá-los, e a má vontade que os Bárbaros tinham para com os novos
povoadores do solo, motivou esta forte sublevação dos selvagens. Os índios do
Assu mataram 46 portugueses, milhares de cabeças de gado e queimaram toda coisa
viva. Tomaram-lhes ainda reses e cavalos, trocando os animais por armas de
fogo, na foz do rio Assu e Mossoró, com piratas. Essa rebelião recebeu o nome
de Guerra dos Bárbaros.
Descrevendo o
início da chamada Guerra dos Bárbaros, Pedro Carrilho de Andrade refere-se a
incursões praticadas entre o Assú e o Jaguaribe, pelos índios paiacus. A
seguir, informa que “de paz estavam também os
Janduís, quando se levantaram nas ribeiras do Assú, Mossoró e Apodí (...)”. (Medeiros Filho; 1984; 24).
Por ocasião da
chamada Guerra dos Bárbaros, os
Tapuias já utilizavam armas de fogo. Nos termos da capitulação de 10 de abril
de 1692, realizada entre o Governador Geral do Brasil, Antonio Luiz Gonçalves
da Câmara, e Canindé - Rei dos Janduís (Filho de Janduí), nesta data, Morisot
cita o fato de aqueles índios disporem de treze para quatorze mil armas, e cinco mil homens de arcos, destros nas
armas de fogo. Também já tinham aprendido a utilizar o cavalo.
A Nação Janduí
achava-se comandada pelo Rei Canindé, sob cuja obediência existiam cerca de 15
mil indígenas. O território habitado pelos Janduís estendia-se pelas Capitanias
do Rio Grande, Paraíba, Pernambuco e Itamaracá. (Medeiros Filho, 1984; 25).
Em 1687, os
Janduís, juntamente com as tribos do Vale do Jaguaribe-CE, levantam-se numa
grande revolta, chegando a vencer contingentes comandados por Albuquerque
Câmara. Perdurando essa guerra, entrou em cena, em 1690, o Mestre de Campo,
Jorge Velho que, a mando do governador de Pernambuco, Exmo. Arcebispo Dom Frei
Manoel da Ressurreição, efetivou um grande massacre, abatendo 260 nativos. (Fernandes,
1992; 13).
Domingos Jorge
Velho continuou na guerra contra o tapuia levantando até o final de 1691,
quando chegou ao sertão deflagrado o paulista Matias Cardoso, que recebeu o
comando unificado das operações bélicas. Domingos, então, seguiu para enfrentar
a luta contra o Quilombo dos Palmares, em decorrência do contrato firmado com o
governador de Pernambuco. (Medeiros Filho, 1984; 122).
Os documentos
da época registram uma resistência dos Tapuias aos colonizadores até 1726,
incluindo-se aqui as fugas do cativeiro. Nesses combates, participavam, ao lado
dos portugueses, índios e negros que já se encontravam sob o seu domínio.
“Tempo glorioso esse, na
História do Oprimido: Em Palmares, Zumbi e seu sonho de Liberdade. Nos sertões
do Rio Grande, Janduí e seus companheiros, em levante, defendem o mesmo sonho.
Contra eles, os inimigos comuns: Bandeirantes Paulistas que se apossaram do
segredo do seu chão, para destruir os filhos da terra; soldados armados com o
que de mais avançado havia, em munição de guerra; negros e índios nos quais a
ideologia de fidelidade ao El Rei e, sobretudo, ao Deus Todo Poderoso dos
Cristãos, cravara o espírito e armara as mãos contra seus iguais”. (Vargas, 1987:46).
Fonte: Assu dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro.
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