terça-feira, 26 de novembro de 2013

HISTÓRIA

Evolução Histórica do Assu

Primeiros habitantes - Parte I

Baseado nas informações deixadas por cronistas seiscentistas, quando os portugueses travaram os seus primeiros contatos com os primitivos habitantes do Brasil, cedo os distinguiram em dois grupos básicos: os TUPIS, que falavam a língua geral, a língua boa, ou nheengatu: e os demais indígenas, falando diversos idiomas, os gentios da “língua travada”.

Os contatos mais íntimos entre europeus e índios – até então separados pelo Oceano Atlântico – verificou-se com a nação tupi, habitante do vasto litoral brasileiro. Os indígenas que não falavam a língua geral eram, depreciativamente, chamados de TAPUIAS, isto é, os Bárbaros.

Seguindo o comportamento do historiador Olavo de Medeiros Filho em seu livro Índios do Açu e Seridó, como forma de “enxugar” o nosso trabalho, iremos deixar de lado o que diz respeito aos tupis, e iremos concentrar nossas atenções em torno dos TAPUIAS, os indígenas que habitaram esta nossa região.

No ano de 1607, um cronista anônimo, certamente sacerdote, descrevia os TAPUIAS moradores na capitania do Rio Grande:

Índio Tarairiú - pintado pelo holandês Albert Eckhout
“Há também nos limites desta capitania, a poucas jornadas de caminho duas nações de tapuias, copiosas em número de gente, que afirmam os que vão a resgatar com eles, ser grande o número de gente, os quais todos se perdem por falta de obreiros, tendo pazes e comércio conosco, e havendo residência nesta capitania, mandando todos os anos a eles, por via de missão, se salvam muitos inocentes, e outros muitos adultos in extremis. Outras nações há também, aqui perto, de outros gentios de menos gente, de que não fazemos caso, e para os quais criou Deus também o Céu e se perdem por falta de guias. (Medeiros Filho, 1984; 21).

Aos 02 de outubro de 1631, o índio Marcial, da nação Janduí, compareceu perante o Conselho de Guerra Holandês, em Recife - Pernambuco, propondo aos invasores uma incursão ao território Norte-Rio-Grandense. Vieram à costa da Capitania um iate e uma chulapa (embarcação pequena de um mastro só / pequeno barco de remos e vela) conduzindo, além do próprio Marcial, os Capitães Albert Smient e Joost Closter, juntamente com alguns indígenas que tinham regressado de pouco da Holanda (Ararova, Tacon, Mataune). Também fez parte do pessoal um português, de origem israelita, chamado Samuel Cochim.

As embarcações fundearam ao norte da fortaleza dos Santos Reis, no lugar Ubranduba, onde havia uma enseada. Guiados pelo clarão de uma fogueira, os agentes holandeses encontraram o português João Pereira, que havia aprisionado o índio André Tacon. Mataram o português, apoderando-se de alguns papeis por ele conduzidos.

Daí seguiram-se episódios, que culminaram com a tomada da fortaleza dos Santos Reis, pelos holandeses, aos 12 de dezembro de 1633. Com o domínio Holandês na antiga Capitania do Rio Grande do Norte, o Rei Janduí, cujo acampamento principal era no local onde atualmente existe a cidade do Assu, tornou-se amigo íntimo dos invasores. 

No ano de 1637 o conde João Maurício de Nassau vem para o Brasil. Acompanhando-o veio o judeu alemão do condado de Waldeck, Jacob Rabbi que seguiu, no ano de 1638, para o meio dos tapuias, com permissão do conde de Nassau, a fim de servir de interprete entre os holandeses e aquela nação. Viveu quatro anos na taba, acompanhando os costumes dos silvícolas. Agradável ao rei, espectador e testemunha bem aceita de tudo, escreveu a mais famosa crônica sobre os índios da nação Tarairiú - súditos do Rei Janduí.

Tal crônica, presenteada por Rabbi ao conde Maurício de Nassau, serviu de base para as descrições escritas por Barleu, Marcgrave, Nieuhof, Piso, Morisot e outros cronistas holandeses. Rabbi era casado com uma indígena brasiliana (Tupi), chamada “Domingas”. (Medeiros Filho; 1984; 17/18). Alguns historiadores afirmam que “Domingas” era filha do Rei Janduí. No entanto, não conseguimos dados palpáveis a este respeito. 

Em 1647 Gaspar Barleu (1584-1648) publicou uma crônica sobre a história dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil, sob o Governo de João Maurício de Nassau, descrevendo o período em que este esteve no Brasil, de 1637 a 1644. Barleu afirmava: “É célebre no Brasil holandês o nome dos tapuias, por causa do seu ódio aos portugueses, das guerras com os seus vizinhos e de auxílios mais de uma vez prestados a nós”. Ainda, segundo o mesmo cronista, os tapuias moravam no sertão brasileiro, distantes do litoral, muito diversificados no tocante a línguas, costumes e territórios. Afirmava serem conhecidos dos neerlandeses, os tapuias que moravam nas vizinhanças do Rio Grande, no Ceará e no Maranhão, onde imperava o rei Janduí. 

O cronista Jorge Marcgrave (1610-1644), natural de Liebstad, é considerado o primeiro estudioso da história natural americana. Alemão, chegou ao Brasil em 1638. Dez anos depois, ou seja, em 1648, surgiu a sua História Natural do Brasil.

Marcgrave faz referência a diversas tribos tapuias, dizendo-as moradoras no território compreendido entre o rio Mipibu (Trairi) e o Ceará Grande, da parte do interior, e possuindo diversos reis e línguas diferentes. Citava como reis dos tapuias, Janduí, que exercia poder em Otschunogh (atual Rio Piranhas/Assu), Otschuayauch e Drenirag; em seguida, vinha o rei Pritiyaba, que mantinha paz com Janduí. Os seguintes eram: Arigpoygh, Wanasewasug, Tschering e Dremmemge, inimigos de Janduí e Pritiyaba, “de sorte que há incursões hostis entre os vários limites dos respectivos territórios” (Medeiros Filho, 1984; 17/22/23).

Os Tapuias Janduís, ex-aliados dos holandeses, com a expulsão destes receberam um perdão, concedido pelo Governador Francisco Barreto de Menezes, de Pernambuco. No dia 04 de maio de 1654, o índio Janduí firma um tratado de Paz, sendo nomeado Mestre de Campos e Governador dos índios do Rio Grande. 

O Rei Janduí comandava cerca de 1600 índios na Taba-Assu e aproximadamente 15.000 nas demais aldeias, compreendidas entre o hoje Maranhão até a serra do Ibiapina no Ceará. Janduí viveu mais ou menos 120 anos. Quando morreu possuía 25 esposas, mas chegou a desposar de 52 mulheres - sinal de grande prestígio no meio indígena. (Graúna; 1995).

A aldeia principal do rei Janduí localizava-se no lugar denominado “Fura-Boca”, uma meia légua ao norte da cidade do Assu. O vale tomava a denominação de Kuniangeya, medindo vinte milhas de extensão, por duas de largura. Ao poente do rio, a uma distância de 25 milhas do litoral, ficava a grande lagoa Bajatagh (lagoa do Piató), muito abundante de peixes. À esquerda deste, para o lado do nascente, existia outro lago chamado Igtug (atualmente Lagoa de Ponta Grande), infestada de piranhas. (Medeiros Filho, 1984; 24).

Firmado o tratado, começou a chegar à região o “homem branco”. Em 1660, João Fernandes Vieira estabelece a primeira fazenda de gado em Assu. Antes de ocorrer o estabelecimento de criadores de gado do Seridó, foram colonizados os campos do Assu. O historiador Nestor dos Santos Lima reforça esta tese informando-nos que o pioneiro do povoamento da região foi João Fernandes Vieira, vulto ligado à história da Paraíba, de que foi governador no período de 1655 a 1657, e que se destacou na luta pela reconquista da terra do domínio holandês.

Segundo Nestor Lima, foi levantado um arraial à margem esquerda do rio Assu, a uma distância de seis léguas ao norte da atual cidade do mesmo nome, subsistindo o topônimo Arraial.

Administrava a Capitania do Rio Grande o Capitão-Mor Antonio da Silva Barbosa, quando surge o simpático vulto de Estevam Velho de Moura, sendo nomeado Capitão de Infantaria das Ordenanças da Ribeira do rio Assu ao rio Jaguaribe, com o objetivo de não apenas guerrear, mas também estabelecer as bases de núcleos de povoamento europeu, haja vista que se tratava de combater os indígenas e fixar-se em suas terras. Por isso, junto com as armas seguiam o gado e o necessário à lavoura. De fato, conseguiu ele iniciar a civilização dos nossos índios. Foi Estevam o primeiro que aqui tratou de fazer pazes com os índios, domesticando alguns com avultados dispêndios e grandes dificuldades.

O capitão Estevam Velho de Moura requereu, em 02 de janeiro de 1682, uma sesmaria, que lhe foi concedida na ribeira do Assu, onde procurou estabelecer currais de gado, passando a atuar como Capitão de Infantaria das Ribeiras do Assu. (com jurisdição partindo do riacho Paraíba, nas cabeceiras da Lagoa do Piató até o rio Jaguaribe). (Wanderley, 1966; 107).

Com o falecimento de Fernandes Vieira, sua viúva, dona Maria César, requereu, em 14 de fevereiro de 1682, ao mestre-de-campo general Roque da Costa Barreto, da Bahia, uma data e sesmaria, a qual lhe foi concedida a 17 do mesmo mês. (Medeiros Filho, 1984; 99).
Fonte: Dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro

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