POESIA

Nesse castelo de sonhos
Vivi toda minha infância,
Gozando dias risonhos
Sem pesadelo e sem ânsia.
Hoje só resta um pavão
Vigiando o casarão
Nas estacas dos currais.
Se já fostes bem cuidada
Casa grande abandonada
Por que ninguém te quer mais?
(Hélio Crisanto)

" Minha chácara querida " 

Minha casa tem goteira
Quina batente e oitão
Sala Bau e caixão
Chinelo butina e Meia
Caibro prego ripa e telha
Porta portal janelão
Vitrina vitrou e meu cão
Nem topada me atrasa
Como Adoro de coração
Tudo que tem la em casa

Mesa banheiro e terrero
Vacaria fruteira canil
Panelas de frande e funil
Espingarda de soca tempero
E um pegi Catimbozeiro
Bacia no lavatório
La dentro do oratório
Tem Um santo casamenteiro
Uns toco acesso de vela
Pro Padrinho do juazeiro

Uma fossa veia estourada
Mosquito pra toda lado
Um Vaqueiro velho atroado
porca que perdeu os peito
Um tamborete sem testo
Cerca mau feita e pendida
Precisando concertar
Uma cachorra atrevida
Uma jumenta enxerida
Precisando de imprenhar

Um pé de Mamo macho
Que Nunca deu uma fruta
Uma empregada tão puta
Foi não foi perde trabalho
Meu gibão meu agasalho
Uma mesa de sinuca
Sem taco bola ou bisaco
Uma espingarda bazuca
Minha sogra que caduca
Enchendo muito meu saco

Um sofá velho rasgado
Que a cachorro rasgou
Só o mulambo sobrou
ventilador Arno quebrado
Peste todo descascado
Velho troncho e empenado
Dos dentes do labrador
Pra roda e no empurrão
Me lembrei só do lixão
Pra joga o desgraçado

Guardo couro da cabra Bita
Por detrás da prateleira
Pertinho da cristaleira
Enrolado numa fita
Bons tempo de menino
Que não volta mais não
Quarenta anos se vão
Eu e Beto meu primo
Seria ela no destino
Nossa primeira paixão

Vou parando por aqui
E tem mais coisa por lá
Se não vou me atrapalhar
Fora as coisa que vendi
Uma televisão maltratada
Que só mostra figurinha
quando leva uma lapada
Botei placa pra vender
Sei que vou me arrepender
Pois amo tudo da casa

Romero Baia
26/07/2013
Fonte: Facebook Helio Crisanto