sábado, 17 de novembro de 2012

SEBASTIÃO APODI – O HOMEM DAS PEDRAS

Lindomar Barroso, Ivan Pinheiro e Sebastião Apodi
         Nas nossas andanças, no intuito de registrar a história das comunidades rurais e bairros do município do Assú entre uma entrevista e outra encontramos, no Porto Piató, o pescador Sebastião Apodi – O Homem das Pedras. Ele fez uma “festa” com a nossa presença. Sentamos sob a sombra de uma frondosa árvore (salvo engano, uma Timbaúba) em frente a sua residência, para entrevistá-lo. Sebastião estava inquieto, a princípio não se ligou nas perguntas, sentimos que sua vontade era mostrar algo. Foi até o quintal e retornou com uma bacia grande de alumínio, cheia de pedras.
- Achei todas elas na Lagoa. É mesmo que tá vendo animais... Olhe aqui, Ivan... – falou Sebastião mostrando que cada pedra tinha semelhança com algum membro de animais.
         Ele retornou ao quintal umas cinco vezes. Trazia a bacia cheia e jogava as pedras ao chão, bem próximo onde estávamos. Com dó do seu esforço resolvemos ir até o local onde ele “guarda” suas raridades arqueológicas.
- Esta aqui parece com a cabeça d’um macaco. Esta outra, não é mesmo que tá vendo o bico de uma garça, Ivan?... E essa é um tatu escritinho...
         Lá se foram uns trinta minutos de explicações. Sebastião é, sem dúvidas, o maior juntador de pedras do Assu. Com uma particularidade, ele não seleciona pelo tipo de rocha, como fazem colecionadores, geólogos e arqueólogos, e sim, porque vê nelas a retratação de algum bicho ou objeto.
- Pra ficar mais parecido eu pintei nas pedras, de preto, os olhos, a boca, o nariz... Fiz certo ou errado, Ivan?
         Desconversei para evitar polêmicas. Depois, já mais descontraído, Sebastião nos revelou que adora cantar em serestas. Mas, tem um detalhe, só canta o que gosta. Fez questão de deixar claro que essa história de cantar “a pedido” não faz seu gênero.  Lembrou saudosista, a sua infância na comunidade... De alguns moradores que já faleceram... Suas viagens para a Bahia nos períodos em que a Lagoa secou ou que a pesca ficou escassa.
Ivan no "Bico da Águia" - gruta
Nós o convidamos para ser nosso guia até a Pedra do Rosto. Fomos caminhando à margem da lagoa e ele não desgrudava os olhos das pedras que encontrávamos pelo caminho. Ao chegarmos ele foi logo dizendo:
- Essa ponta da furna parece o bico de uma águia... (risos).
         Realmente parece. Escalamos a gruta. Lá de cima o visual da lagoa é deslumbrante. Relembrei à época de escoteiro quando acampávamos naquelas redondezas. Bons tempos!... Quando nos deparamos com a silhueta do rosto ficamos impressionados. Usando as palavras de Sebastião: “É escritinho”. Dizem que o descobridor do perfil, na pedra, foi Daniel Reis (ator e artista plástico) quando estava tomando banho com uma turma naquele local.
         Retornamos para conclusão das outras entrevistas, sob os raios escaldantes do sol, quase afrontados. Tibério, o fotografo, com seus cento e poucos quilos, tendo que subir e descer lajedos e caminhar naquele areal, que o diga. Ufa!
         Sebastião nos acompanhou até o último entrevistado. Ficamos de retornar para conversarmos um pouco mais sobre os ‘causos’ do lugar, tomar umas “caiebas” com pirão de tilápia ou curimatã.
         O pescador Sebastião Apodi de Souza ou simplesmente “Apodi”, como é conhecido na comunidade, tem 52 anos de idade. Filho do senhor Manoel Apodi de Souza e dona Ester Delmira de Moura. Não pretende, jamais, sair do Porto Piató. Disse com todas as letras: - Aqui é o meu “paraíso”.  
Pôr do sol no PIató - Foto: Getúlio Moura
A Lagoa do Piató é realmente o maior “paraíso” que o Assu possui. Da comunidade Porto Piató a vista do manancial é deslumbrante. O pôr do sol é espetacular. Os barcos ancorados, à margem, dá um charme especial à localidade. “Um prato cheio” para o turismo regional. Ficamos até a imaginar o Sebastião Apodi, atuando como ‘Guia Turístico’, de barco, percorrendo o anel da Lagoa, mostrando suas ilhas belíssimas, as grutas, cavernas, casarões, baobás, inscrições rupestres, além das comunidades de remanescentes indígenas e quilombolas...
         Eita meu velho Assu – Terra rica de povo pobre e trabalhador.



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