UM GÊNIO CONOSCO
Isaac Lira - Repórter
Luís
Fernando Veríssimo detesta ser o centro das atenções. Tímido confesso, a
ideia de falar para uma multidão não parece, nem de perto, algo
agradável. Contudo, por mais paradoxal que pareça, o escritor gaúcho
será não somente "o centro das atenções", como uma das principais
estrelas da quarta edição do Festival Literário de Pipa, a ser realizada
entre os dias 22 e 24 deste mês, na mais famosa praia do litoral sul
potiguar. Veríssimo fecha o festival, no dia 24, às 20h30. O título da
mesa, por si só, seria capaz de provocar arrepios no tímido Luís
Fernando Veríssimo.
Site Portal LiteralLuís
Fernando Veríssimo: O tamanho do texto não determina a sua qualidade.
Sempre cito o exemplo do Rubem Braga, que raramente passou do tamanho
normal de uma coluna e mesmo assim foi um dos nossos maiores escritores.
O
autor gaúcho é hoje um dos principais representantes da crônica
brasileira. Com uma carreira bastante produtiva, Veríssimo também é um
dos autores brasileiros que mais vende livros hoje, ficando atrás
unicamente de Paulo Coelho. A verve popular é acompanhada de uma
linguagem coloquial, objetiva e da exploração de temas do cotidiano.
Todas essas características reunidas poderiam ser suficientes para
explicar o sucesso de público e crítica do trabalho de Luís Fernando
Veríssimo como cronista. Mas ele renega qualquer receita. "Não sei qual é
a receita. São geralmente textos curtos, de leitura fácil, com humor, e
alguns eventuais mergulhos mais profundos", diz, de forma concisa.
A concisão é uma característica cada vez mais presente nos textos de Veríssimo. Isso pode ser facilmente comprovado ao se acompanhar a produção semanal do autor, que publica crônicas nos maiores jornais da imprensa brasileira. O próprio Luís Fernando Veríssimo diagnosticou a mudança. "Meu texto ficou mais conciso, ou eu fiquei mais preguiçoso. Não sei", diz. Ao mesmo tempo em que percebe a mudança, ele não vê nisso uma tendência de produzir textos cada vez mais curtos. "Ainda tem gente escrevendo colunas imensas, algumas diariamente, de sorte que não acho que esta seja uma tendência geral", relata.
A mais recente publicação de Luis Fernando Veríssimo é uma coletânea de crônicas "Diálogos impossíveis". Já publicadas na imprensa, a seleção ficou a cargo do jornalista Artur Dapieve. No cardápio, conversas nada convencionais, como entre o Drácula e o Batman, que resolvem decidir qual dos dois é o morcego "do bem" e "do mal".
O senhor está lançando mais um livro de crônicas, sendo mais de 20 na carreira, se não estou enganado. Poderia falar um pouco sobre o livro? De onde ideias como a de promover uma conversa entre o Drácula e o Batman?
A seleção das cronicas, todos já publicadas na imprensa, foi do Arthur Dapieve, na editora Objetiva. Ele notou que algumas das cronicas eram sobre diálogos imaginários, e foi ele que deu o título do livro.
Até que ponto incomoda, se é que incomoda, o rótulo colocado por certa parte da crítica de que o senhor é melhor cronista que romancista? O senhor concorda com a avaliação?
Concordo. Não renego nenhum dos romances, mas acho que eles não tem muita importância.
Além disso, é possível estabelecer em qual dos dois gêneros o senhor se sente mais realizado artisticamente?
Acho que ninguém se sente realizado, está sempre pensando que pode fazer melhor. Mas a crônica é a minha atividade principal, é o que paga o uísque das crianças e é nela que eu me sinto mais à vontade.
O senhor disse em algumas entrevistas, recentemente, que o tamanho da crônica que escreve tem ficado menor. Na sua opinião, existe uma tendência mais generalizada em escrever menos, em ser mais conciso?
Meu texto ficou mais conciso, ou eu fiquei mais preguiçoso. Não sei. Mas ainda tem gente escrevendo colunas imensas, algumas diariamente, de sorte que não acho que esta seja uma tendência geral.
Há quem perceba esse movimento como um empobrecimento do texto, da literatura. Concorda?
Não concordo. O tamanho do texto não determina a sua qualidade. Sempre cito o exemplo do Rubem Braga, que raramente passou do tamanho normal de uma coluna e mesmo assim foi um dos nossos maiores escritores.
Com a internet, a quantidade de textos falsos atribuídos a autores conhecidos é impressionante. Alguns não estão mais aqui para se "defender", como Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu. Outros, como o senhor e Arnaldo Jabor, podem reclamar e até desmentir a autoria. Dizer que de fato o texto não é seu surte algum efeito? Por outro lado, já leu algum desses textos falsos com alguma característica realmente presente na sua obra? Sentiu vontade ter escrito algum deles?
Alguns textos apócrifos são bons, recebo muitos elogios por eles. E pelo menos até agora nenhum me criou problemas maiores, como difamar alguém.
Não é segredo para ninguém, o senhor é tímido. Mas ao mesmo tempo irá falar para uma plateia numerosa no Festival Literário em Pipa. Com o passar do tempo, e a participação em vários eventos deste tipo, já consegue dominar a timidez? Hoje é mais fácil do que nas primeiras vezes?
O pânico de falar em publico continua, mas a gente aos poucos vai se acostumando. O monstro, que é como eu chamo a platéia, qualquer platéia, afinal não é tão monstruoso assim.
O senhor já disse que prefere tomar injeção a dar entrevistas. Por e-mail é menos penoso? Não gostar de falar com jornalistas faz parte da timidez?
Eu tenho uma grande dificuldade de expressão. Responder por escrito torna a entrevista mais facil para mim, para o entrevistador e para o leitor. Nada contra jornalistas.
Num país famoso por se ler pouco, o senhor é um dos autores que mais "vende" livros. Consegue identificar que características do seu trabalho são fundamentais para essa aceitação? É a presença do humor? O uso de um vocabulário mais próximo do coloquial?
Não sei qual é a receita. São geralmente textos curtos, de leitura fácil, com humor, e alguns eventuais mergulhos mais profundos.
SERVIÇO: IV Festival Literário da Pipa-Flipipa. Dias 22, 23 e 24 de novembro, praia da Pipa - av Baía dos Golfinhos (em frente à Bodega da Praça, nº 369 ). Entrada franca. Realização: Projeto Nação Potiguar e Fundação Hélio Galvão.
A concisão é uma característica cada vez mais presente nos textos de Veríssimo. Isso pode ser facilmente comprovado ao se acompanhar a produção semanal do autor, que publica crônicas nos maiores jornais da imprensa brasileira. O próprio Luís Fernando Veríssimo diagnosticou a mudança. "Meu texto ficou mais conciso, ou eu fiquei mais preguiçoso. Não sei", diz. Ao mesmo tempo em que percebe a mudança, ele não vê nisso uma tendência de produzir textos cada vez mais curtos. "Ainda tem gente escrevendo colunas imensas, algumas diariamente, de sorte que não acho que esta seja uma tendência geral", relata.
A mais recente publicação de Luis Fernando Veríssimo é uma coletânea de crônicas "Diálogos impossíveis". Já publicadas na imprensa, a seleção ficou a cargo do jornalista Artur Dapieve. No cardápio, conversas nada convencionais, como entre o Drácula e o Batman, que resolvem decidir qual dos dois é o morcego "do bem" e "do mal".
O senhor está lançando mais um livro de crônicas, sendo mais de 20 na carreira, se não estou enganado. Poderia falar um pouco sobre o livro? De onde ideias como a de promover uma conversa entre o Drácula e o Batman?
A seleção das cronicas, todos já publicadas na imprensa, foi do Arthur Dapieve, na editora Objetiva. Ele notou que algumas das cronicas eram sobre diálogos imaginários, e foi ele que deu o título do livro.
Até que ponto incomoda, se é que incomoda, o rótulo colocado por certa parte da crítica de que o senhor é melhor cronista que romancista? O senhor concorda com a avaliação?
Concordo. Não renego nenhum dos romances, mas acho que eles não tem muita importância.
Além disso, é possível estabelecer em qual dos dois gêneros o senhor se sente mais realizado artisticamente?
Acho que ninguém se sente realizado, está sempre pensando que pode fazer melhor. Mas a crônica é a minha atividade principal, é o que paga o uísque das crianças e é nela que eu me sinto mais à vontade.
O senhor disse em algumas entrevistas, recentemente, que o tamanho da crônica que escreve tem ficado menor. Na sua opinião, existe uma tendência mais generalizada em escrever menos, em ser mais conciso?
Meu texto ficou mais conciso, ou eu fiquei mais preguiçoso. Não sei. Mas ainda tem gente escrevendo colunas imensas, algumas diariamente, de sorte que não acho que esta seja uma tendência geral.
Há quem perceba esse movimento como um empobrecimento do texto, da literatura. Concorda?
Não concordo. O tamanho do texto não determina a sua qualidade. Sempre cito o exemplo do Rubem Braga, que raramente passou do tamanho normal de uma coluna e mesmo assim foi um dos nossos maiores escritores.
Com a internet, a quantidade de textos falsos atribuídos a autores conhecidos é impressionante. Alguns não estão mais aqui para se "defender", como Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu. Outros, como o senhor e Arnaldo Jabor, podem reclamar e até desmentir a autoria. Dizer que de fato o texto não é seu surte algum efeito? Por outro lado, já leu algum desses textos falsos com alguma característica realmente presente na sua obra? Sentiu vontade ter escrito algum deles?
Alguns textos apócrifos são bons, recebo muitos elogios por eles. E pelo menos até agora nenhum me criou problemas maiores, como difamar alguém.
Não é segredo para ninguém, o senhor é tímido. Mas ao mesmo tempo irá falar para uma plateia numerosa no Festival Literário em Pipa. Com o passar do tempo, e a participação em vários eventos deste tipo, já consegue dominar a timidez? Hoje é mais fácil do que nas primeiras vezes?
O pânico de falar em publico continua, mas a gente aos poucos vai se acostumando. O monstro, que é como eu chamo a platéia, qualquer platéia, afinal não é tão monstruoso assim.
O senhor já disse que prefere tomar injeção a dar entrevistas. Por e-mail é menos penoso? Não gostar de falar com jornalistas faz parte da timidez?
Eu tenho uma grande dificuldade de expressão. Responder por escrito torna a entrevista mais facil para mim, para o entrevistador e para o leitor. Nada contra jornalistas.
Num país famoso por se ler pouco, o senhor é um dos autores que mais "vende" livros. Consegue identificar que características do seu trabalho são fundamentais para essa aceitação? É a presença do humor? O uso de um vocabulário mais próximo do coloquial?
Não sei qual é a receita. São geralmente textos curtos, de leitura fácil, com humor, e alguns eventuais mergulhos mais profundos.
SERVIÇO: IV Festival Literário da Pipa-Flipipa. Dias 22, 23 e 24 de novembro, praia da Pipa - av Baía dos Golfinhos (em frente à Bodega da Praça, nº 369 ). Entrada franca. Realização: Projeto Nação Potiguar e Fundação Hélio Galvão.
Fonte: Tribuna do Norte, 11/11/2012.
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