"Saúdo-te em nome dos que trabalham com a alma e morrem sem
glória".
Influenciado pelas ideias do "Movimento
Regionalista do recife", Câmara Cascudo foi o primeiro potiguar a
manifestar interesse em pesquisar a vida e a obra dos escultores populares. Em
"Viajando o Sertão", Natal/RN, 1934, descreve, com agucidade e
emoção, seu encontro, em Assu, com José Leão, escultor popular, nascido
em 1868:
"É o tipo do imaginário primitivo, sereno,
resignado, incompreendido, passando fome, trabalhando sem esperança, sem
ambiente, sem auxílio, sem estímulo, insensível e obstinado, artista legítimo,
com uma intuição de escultura, um senso decorativo, um tino de moldar as
fisionomias que lembram a rudeza elegante e máscula de Memiling. José Leão
mostra-me dezenas de santos, crucifixos, anjos, ovelhas místicas. Não tem
instrumentos. São pedaços de canivetes, troços de puas, restos de enxós, um
formão quebrado, cacos de louça, pires bolorentos, quengas de coco, seus ferros
e godets para a pintura. Longe de ter a monotonia da beleza dos santos moldados
em gesso e feitos à máquina, iguais e bonitos. José Leão grava na
umburana plástica rostos vivos, bem semelhantes ao tipo humano, possíveis e
naturais. Ninguém lhe compreende a maestria naquela intuição que lá fora o
faria rico e aqui o mata à fome. Eu tive nas mãos uma Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro verdadeiramente maravilhosa. Um São José, um São João Batista, que estão
sem preço, pedem uma página de elogio pela firmeza incrível com que aquele
velho gravou os traços morais na árvore que lhes deu nascimento e vestiu-os com
uma precisão miraculosa e pictórica."
José Leão, trabalhador sem reclame, escultor sem
escola, artista sem nome, saúdo-te em nome dos que trabalham com alma e morrem
sem glória.
Em Assu existe a Rua José Leão no Bairro São João
– uma homenagem a este artesão que impressionou o mestre Cascudo. Se não fosse esta rua não existiria em sua
terra nem marcas dos seus “rastros”.
Em tempo: Este texto retirei de um recorte de jornal/revista sem detalhes de publicação.
Em tempo: Este texto retirei de um recorte de jornal/revista sem detalhes de publicação.
O elogio de Cascudo é de uma beleza impressionante. Os dois eram admiráveis!
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