Sebo Vermelho, situado na avenida Rio Branco: 60 mil títulos na última contagem
Natal, 1985. Abimael Silva tinha 20 e poucos anos, havia acabado de receber a indenização do banco no qual trabalhava e se viu obrigado a achar uma maneira para sobreviver. O garoto, que já havia passado também por uma loja de discos, antes da experiência bancária, resolveu colocar parte de sua biblioteca à venda e montou uma cigarreira de livros.
Na hora de pintar a pequena loja, restavam apenas as cores vermelho e preto para se destacar das demais cigarreiras coloridas da Avenida Vigário Bartolomeu. A escolhida foi a primeira opção. “Uns três dias depois, um cliente chegou perto e disse ‘aah rapaz! É aqui o Sebo Vermelho’. E como eu ainda não tinha colocado nenhum nome ainda, disse na hora que ia ser aquele mesmo”.
A história é contada pelo próprio idealizador do Sebo Vermelho, agora aos 51 anos, sentado na sua tradicional cadeira de madeira, na entrada do espaço em que comercializa livros usados, hoje bem maior e localizado na Avenida Rio Branco: segundo sua última contagem, possui mais de 60 mil títulos. “Naquela época da cigarreira, eu comecei com uns 600 volumes. Vendia meus próprios livros, o que era difícil de fazer, mas eu precisava me sustentar”, comenta.
Em 1991, seis anos após a inauguração do Sebo, Abimael resolveu transformar seu projeto também em editora. A ideia surgiu a partir do amigo e poeta Anchieta Fernandes (75), que na época queria publicar “Écran Natalense” contando a história do cinema em Natal, mas não encontrava apoio para o projeto. “Eu disse que iria publicar, o que era uma loucura porque eu não tinha dinheiro nem havia sido editor na vida”, lembra Abimael.
Após algumas conversas, fechou a viabilização da publicação com o Sindicato de Jornalistas e todos racharam a conta. O segundo livro surgiu logo depois, desta vez uma reedição de “Poetas do Rio Grande do Norte”, obra rara que havia sido publicada originalmente na década de 20 e há muito tempo se encontrava esgotada. A parceria, desta vez, foi fechada com a extinta editora “Clima” e os 500 exemplares foram vendidos rapidamente.
“Foi o nosso primeiro grande sucesso porque mandei o livro na época para o Jornal do Brasil e saiu uma crítica positiva, colocando ‘Poetas do Rio Grande do Norte’ como o livro em destaque daquele mês e a repercussão foi enorme no país inteiro”, lembra, ao lado de Anchieta Fernandes.
O mês de agosto será de comemoração para Abimael, já que o Sebo Vermelho completa 29 anos de existência, enquanto a editora atinge 23 anos lançando a publicação de número 400, assinada justamente por Anchieta Fernandes. “Literatura RN – Livros Selecionados” será lançado no dia 16 de agosto e reúne 36 críticas literárias que o poeta publicou na sua coluna de mesmo nome dentro do “Jornalzinho do Sebo Vermelho”.
O Jornalzinho do Sebo Vermelho foi outra iniciativa de Abimael Silva e que chegou ao fim no começo dos anos 2000 depois de uma longa caminhada enfrentando dificuldades para ser publicado. Entre as colunas fixas, estava a de Anchieta Fernandes, que colaborava com o jornal produzindo críticas literárias, como a de “Dicionário do Folclore Brasileiro” (Câmara Cascudo).
“Anchieta é uma figura importante para o Sebo Vermelho porque foi dele o nosso primeiro livro editado e também o primeiro a ser reeditado. Desde sempre queria que o de número 400 também fosse dele e deu certo. Agora já começamos trabalhar em outro projeto de ensaios, mas esse só deve sair mais pra frente”, adianta Abimael Silva.
FONTE: Novo Jornal - 02/08/2014.
1ª Foto: Ney Douglas/NJ
2ª Foto: Blog Vento Nordeste.
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