O LEITE
Eu recebia da ASA, leite, fubá e fazíamos o leite das crianças diariamente, ou mingau e, às vezes, sopa. Distribuía, do leito em pó que sobrava, às famílias pobres dos meus alunos e às outras pessoas carentes. Todos eram veneficiados. Distribuía caixas e até tambores de leite recebido do Canadá, pela ASA, às Escolas, às Capelas, aos Núcleos e aos Grupos Cristãos do interior. Tudo controlado e honestamente distribuído.
Num sábado (era tempo de campanha política) enquanto eu, no salão paroquial distribuía os pacotes aos encarregados para levarem aos núcleos, etc, (nós visitávamos e fiscalizávamos cada núcleo), um político assuense entra na sala acompanhado de alguns interioranos e com empáfia quer que lhe entreguemos quatro tambores de leite para ele dar aos correligionários dele, para os porcos que eles criavam... Fiquei vermelho, não com raiva, propriamente dita, mas pela inconsequência do pedido. Enquanto passavam fome nossos irmãos do interior, para quem eu dava assistência, não só o leite mas outros implementos, um político vinha de público pedir, "mandar" seria melhor dizer, que eu desse aos porcos o leite das crianças, das mulheres e do povo faminto.
Subi numa cadeira como num palanque improvisado e falei ao povo presente, sem me dirigir ao político:
- "O leite, o fubá, a flor de trigo, que distribuímos é para minorar a fome dos homens pobres. jamais eu tiraria da boca do pobre para dar a um porco".
Todos me aplaudiram. "Jamais faria isso: seria um crime desumano, já que o que tínhamos era pouco e para os pobres."
O político saiu fulo de raiva, sem o leite para os porcos. Ora vejam!
Relato escrito por Padre Hélio Ferreira Alves nos escritos: "Meus nove anos no Assu e no Instituto Padre Ibiapina".Foto ilustrativa (autor não identificado).
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