sábado, 26 de abril de 2014

CRÔNICA

FALECEU O HOMEM DE NOME 
MAIS CONHECIDO DO ASSU
Se alguém lhe perguntasse: Você conhecia José Batista dos Santos? Dificilmente você saberia de quem se tratava. E se complementasse: Ele nasceu no Palheiros; foi quem descobriu o primeiro poço de petróleo no Estado; foi funcionário do departamento dos Correios e Telégrafos; foi funcionário do INPS e depois do INSS; foi dono de 3 restaurantes; recebeu o título de cidadão mossoroense... Agora, se alguém lhe perguntasse: você conhecia 'Zé da Volta'? ai sim, pelo nome, certamente, você ou qualquer assuense diria quem era e onde morava. Na verdade poucos conheciam, de vista, o senhor Zé da Volta. 
Quem foi este cidadão? Trago, na íntegra, crônica escrita no ano passado (2013) por David Medeiros. 
ZÉ DA VOLTA

“Voltar é uma forma de renascer. Ninguém se perde no caminho da volta”.
 José Américo de Almeida.

DAVID DE MEDEIROS LEITE
Sócio efetivo do ICOP (Mossoró/RN)
O Substantivo “volta”, de que falava o grande paraibano Zé Américo, aqui, no chão potiguar, tornou-se toponímia. Entre Assu e Mossoró, a “Volta” é referência geográfica. Lá se vão cinco ou seis décadas desde que o posto de gasolina e o restaurante de Zé da Volta pontificam às margens da BR-304.

E a história da localidade “Volta” confunde-se com a do seu idealizador. Desejo comentar, portanto, em brevíssimas linhas, a trajetória de vida desse bravo sertanejo que pode muito bem ser considerado como exemplo de superação. E Zé da Volta surpreende, também, pelo espírito de empreendedorismo e pela considerável dosagem de altruísmo. História simples, que merece ficar registrada para outras gerações.

José Batista dos Santos, ou Zé da Volta, nasceu aos 15 de maio de 1924, no Sítio Palheiros, em Assu/RN. Filho de Manuel Batista dos Santos e Luiza Tamázio da Conceição, passou a infância no referido sítio, onde estudou até o 3º ano primário. Seu pai, conhecido como Manuel Homem, era tropeiro. Com suas tropas de jumentos, deslocava-se entre Mossoró, Assu e São Rafael, transportando os produtos do seu comércio de farinha e rapadura.
Sempre achei que Zé da Volta tinha alguma coisa de “Midas”. Se analisarmos bem, veremos que tudo aquilo em que ele punha a mão se multiplicava. Nesta pequena pesquisa que fiz para saber um pouco mais de sua vida, encontrei alguns elementos que corroboram a minha tese. Vejam bem: ainda garoto, Zé da Volta viveu sua primeira experiência profissional, como garimpeiro, no município de São Rafael. Assim, desde cedo, já exercitava a difícil tarefa de encontrar pedras preciosas onde outros só enxergavam pedras comuns.

Depois, migrou para a Fazenda Barrinha dos Duarte, no município de Mossoró/RN, onde começou a trabalhar como cambista. Pedalando sua bicicleta, saía fazendo o jogo do bicho em toda a região. Foi justamente nessas andanças que ele encontrou outra preciosidade: Francisca Rodrigues dos Santos, dona Francisquinha. Casou-se com ela em 22 de fevereiro de 1947. Foi também na Barrinha que trabalhou com o Sr. Chico Duarte, esposo de dona Chiquinha Duarte, grande fazendeiros da região, passando a ser o responsável pelo transporte do leite da fazenda para Mossoró.
Com espírito empreendedor, e em busca de novas oportunidades, Zé da Volta passou a residir em Mossoró, dando início às atividades comerciais com uma mercearia na Rua Benício Filho. Em 1949, instalou o restaurante A Cabana, que ficava situado na Rua Santos Dumont 115.

Zé da Volta gosta de relembrar que, certa vez, seu restaurante recebeu a miss Brasil Adalgisa Colombo, que, visitando Mossoró, em passeio pelo centro da cidade e desejosa de fazer uma breve refeição, acatou a sugestão dos seus cicerones e brindou a todos com sua ilustre presença no A Cabana.

Em 1954, com a intermediação do seu cunhado, o advogado e professor Francisco Rodrigues Alves, conseguiu que o presidente Café Filho autorizasse a instalação de um posto de comunicação dos Correios entre Assu e Mossoró. Ali assumiu a função de agente postal dos Correios e Telégrafos, especificamente na localidade chamada Volta do Fio, onde ele também começou o “Café da Volta”, construindo, posteriormente, hotel e posto de gasolina. Em 1960, com a mudança da estrada e com o asfaltamento entre Mossoró e Assu, edificou o prédio onde hoje funciona o posto Zé da Volta.

Devido à escassez de água no lugar, em 1965, Zé da Volta resolveu perfurar um poço tubular para abastecer o restaurante e o posto. Foi surpreendido por uma chama de fogo saindo de dentro do poço, em consequência de um cigarro ter sido aceso por um dos homens que ali trabalhava. Um claro aviso de que o petróleo ou o gás natural afloravam naquela região, que, na época, ainda não contava com a presença da Petrobras. E o episódio foi ignorado.

Com o avanço das Telecomunicações, o posto dos Correios deixou de existir lá na Volta, e Zé passou a atuar como agente em Mossoró. Em 1978, o Departamento Nacional dos Correios e Telégrafos passou a ser Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, o que abriu a opção de os funcionários poderem se transferir para outras repartições federais. Zé da Volta optou pelo INPS, fez concurso para agente administrativo e, aprovado, chegou a ocupar o cargo de chefe substituto do setor de Arrecadação do INSS.

Em 1983, inaugurou o Restaurante Zé da Volta II, na Rua Dr. João Marcelino, em Mossoró. Em 1985, inaugurou o restaurante Zé da Volta III, também na BR-304, especificamente no acesso à estrada de Upanema.

Em setembro de 1996, com muito orgulho, Zé da Volta recebeu o título de cidadão mossoroense.

Além de tudo isso, vale realçar que, permeando a inquietação empresarial, existe um espírito solidário e amigo. Uma vida assim merece registro e destaque. Seus filhos, seus amigos e seus familiares, celebram, com muita alegria, sua rica história de vida. Zé da Volta é, sem dúvida, uma lenda viva de nossa geografia humana.
Fonte: OESTE – Revista do ICOP – nº 17 - Julho/2013.

DO BLOG:

Zé da Volta faleceu na madrugada de quinta-feira dia 24 de abril de 2014, no hospital Wilson Rosado, em Mossoró. Foi sepultado na sexta-feira (25), no cemitério São Sebastião, em Mossoró. 

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