quinta-feira, 23 de maio de 2013

MEMÓRIAS

História do Barão de Serra Branca está esquecida
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Livro sobre a história de São Rafael é uma das únicas chances de resgatar a biografia de um dos maiores pecuaristas das terras potiguares.
A história do barão potiguar abolicionista que tinha a monarquia arraigada em seu coração parece ter sido esquecida pelo tempo. As terras do Barão de Serra Branca, Felipe Neri de Carvalho e Silva, ainda abrigam os prédios da antiga fazenda que pertenceu ao nobre no município de São Rafael, mas as relíquias da época estão desaparecendo. As ruínas da antiga senzala, por exemplo, foram derrubadas por trabalhadores rurais que ocuparam o local para fins de reforma agrária. 

Hoje, os assentados já não ocupam mais a casa grande e o antigo engenho. Mudaram-se para um conjunto de casas construídas nas terras do Barão pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Poucos são os que se interessam pela trajetória do homem que tinha uma imensidão de terras no município de São Rafael. O agricultor Salatiel Floriano Barbosa, 39 anos, estudou até o 2º grau e é um dos poucos que se interessou pela vida do Barão.

Salatiel mora próximo às terras desta figura histórica e resolveu juntar material com um primo para fazer um livro sobre São Rafael, incluindo a história de Serra Branca. O local que o Barão escolheu é privilegiado graças a um imenso açude, responsável pelo abastecimento no local. A obra para guardar água da chuva foi idéia de Felipe Neri.

Salatiel acrescenta que a parede do açude foi construída pelos escravos. Eles carregavam os tijolos em sacos de couro cru. A parede do açude chama a atenção e nem com os mais fortes invernos teve problemas na estrutura em função do grande volume de água do manancial. 

Os prédios da fazenda do Barão foram construídos por volta de 1880. O Barão de Serra Branca era pecuarista e seu gado formava um dos maiores rebanhos da região. Casado com Belisária Wanderley o casal não deixou descendentes diretos. 

A história do Barão confunde-se com a de outra figura referência no Estado: Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros. Isso porque o único filho adotivo do casal, Silvestre casou-se, mas também não deixou herdeiros. Entretanto, a esposa de Silvestre herdou as terras casando-se novamente - de onde se origina o parentesco com a família do Monsenhor Expedito. 

Barão foi membro da Assembléia Provincial 

Felipe Neri comprou o título de Barão por 15 mil contos de réis, sendo concedido em 19 de agosto de 1888, pela princesa Isabel. Ele esteve envolvido com a política apenas durante a monarquia. Câmara Cascudo, em seu Livro das Velhas Figuras 6, lembra que o Barão, como chefe conservador, financiava eleições e ia à frente dos eleitores decidir o pleito. 

O Barão de Serra Branca nasceu em Santana do Matos em 2 de maio de 1829. Era filho de pequenos proprietários rurais e criou-se na luta do campo. O Barão de Serra Branca foi integrante da Assembléia Legislativa Provincial em 1878-79 e 1880-81. 

A fabricação de açúcar só teve maiores rumos em 1845, assim como a criação do gado passou a ser mais rentável a partir de 1860. "Felipe Neri estava no seu clima...", acrescenta Câmara Cascudo.

Mesmo sendo o tipo tradicional do patriarca, Felipe Neri era risonho e gostava de tocar rebeca na parte da tarde. Sentava-se numa cadeira de couro, afinava o instrumento e fazia a alegria dos molequinhos que se juntavam para ouví-lo. 

Em 30 de março de 1888, o Barão de Serra Branca libertou seus escravos. O nome do sítio Serra Branca se deve ao belo elevado de rocha coberta por uma cor alva que dá um tom de cordilheira dos Andes à serra. 

Ele morreu em 16 de julho de 1893, nos arredores de Caicó, quando retornava da sua visita ao Juazeiro. Conta-se até hoje que o Padre Cícero teve uma premonição e deu um conselho ao amigo que só se "arranchasse" quando chegasse em terras do Rio Grande do Norte. 

Tribuna do Norte: 30 de Abril de 2009.

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