DISCURSO DE POSSE DE FERNANDO ANTONIO CALDAS |
Fernando Caldas. No telão, imagem do patrono João Lins Caldas
JOÃO LINS CALDAS
Deus deu-me
tudo.
Deus deu-me
tudo do que a mim amargurado Deus me devia dar.
Deus deu-me
tudo.
Si amargurado,
porque a mim as razões de me amargurar.
Escreveu,
numa inspiração magoada, o lírico modernista João Lins Caldas.
Assu registra, na
noite de hoje, mais um capítulo de sua relevante história, com a instalação oficial
da sua primeira academia de letras.
Assumo, nesta
instituição cultural, uma cadeira cujo patrono é ninguém menos que João Lins
Caldas. Tão rico legado é para mim uma honra, além de uma grande
responsabilidade. Porque Caldas é, senão o maior, pelo menos um dos maiores poetas
da língua portuguesa; autor de uma obra literária vasta, multifária e bela, marcada
de profunda ternura e melancolia. De sua autoria, evoco:
Fiz-lhe ver aquilo que representava para a minha vida.
O que
representava para o meu destino.
Era a minha
vida.
Era o meu
destino.
Aos seus olhos
porém nada que aquilo lhe representou.
E queimou a
minha alma.
E queimou o
meu destino.
Por volta de 1900, aos 12 anos de
idade e já poeta feito, Caldas chega à aristocrática e poética cidade de Assu,
terra de seus ancestrais paternos, acompanhando seus pais João Lins Caldas e
Josefa Leopoldina Lins Caldas (dona Fefa), procedente de Goianinha, região
agreste ao sul do litoral potiguar, onde nascera em 1888. Tinha ele um único e
querido irmão, chamado José Lins Caldas. Passa a conviver entre a terra
assuense e o povoado de Sacramento (atual Ipanguaçu), fundado pelos seus
antepassados.
Em 1908 mora na cidade do Natal, onde
colabora em jornais como ‘A República’ e começa a enviar seus escritos para
calendários como Almanaque de Pernambuco e Literário de Pernambuco (do Recife),
Popular Baiano (de Salvador), Brasileiro Garnier (do Rio de Janeiro),
Contemporâneo Paulista e o Luso-Brasileiro (de Lisboa), além do Almanaque de
Barry (de Nova York/Brasil) e no
Brasil Portugal. Folhinhas e almanaques de farmácias como Maranhense (do
Maranhão), Farmacêutico Granado e O Farol da Medicina (do Rio de Janeiro)
também contaram com a prestigiosa colaboração de Caldas.
Regressa ao Rio
de Janeiro em 1912, trabalha como revisor em jornais e escreve milhares de
páginas de poesias. Ingressa no serviço público e torna-se frequentador habitual
da Biblioteca Nacional e das livrarias José Olympio e Garnier, construindo
relações amistosas com grandes nomes da política e das letras nacionais, como Ribeiro
Couto, Olavo Bilac, Monteiro Lobato, Augusto Frederico Schimidt, Lima Campos,
Hermes Fontes e José Geraldo Vieira, dentre outros.
Colabora em jornais como ‘Correio da Manhã’ (do Rio
de Janeiro), ‘Correio do Povo’ (de Porto Alegre) e ‘Correio de Bauru’ (interior
de São Paulo), e também em revistas nacionais de destaque, como a popularíssima
‘Fon-Fon’. A propósito, na edição de 1º de março de 1924 vamos encontrar este
poemeto seu:
Sonho tão cheio da minha crença...
Sonho da imensa crença do sonho...
Eu tive um sonho que Já foi crença...
Que já foi crença?...
Nem hoje é sonho.
Caldas, que tinha a sua própria forma de construção gramatical, escreve
no eixo Rio-São Paulo treze livros, dentre os quais registro ‘Litanias de um doido’,
coletânea cujos manuscritos viria impressionar o crítico literário Pereira da
Silva, para quem a obra caldiana “está para a língua portuguesa assim como ‘Balada
do cárcere’ de Wild está para a Língua inglesa.” Além de ‘Árvore
de Raios – pensamentos’:
Com esses olhos
grossos de chuva eu quero chorar – escreveu o Caldas
pensador.
Postumamente estão publicados os volumes intitulados ‘Perfil de João
Lins Caldas’, 1974, por Maria Eugênia Montenegro; ‘Poética’, 1975, organizado
por Celso da Silveira (Fundação José Augusto) e ‘Poeira do céu’, 2009,
organização de Cássia de Fátima Matos dos Santos, pela Editora da UFRN.
É preciso relembrar que em 1917, muito antes da Semana de Arte Moderna (1922),
Caldas já cantava em verso livre, emancipado dos grilhões da métrica, conforme afirmação
do potiguar Antônio Bento. Considerado um dos maiores conhecedores e críticos
de arte moderna no Brasil, Bento tinha Caldas na conta de ‘pai do modernismo
brasileiro’.
Em 1933 retorna à cidade de Assu. Tempos depois, por intermédio de
Esmeraldo Siqueira, colabora em importantes jornais do Nordeste brasileiro como
‘Diário de Pernambuco’ e ‘Jornal do Commercio’ (do Recife), numa época em que
Mauro Mota e Esmeraldo Marroquim, respectivamente, dirigiam os suplementos
literários daqueles periódicos da terra pernambucana.
Em 1936 imortalizou-se. O escritor José Geraldo Vieira, consagrado um
dos maiores autores do romance moderno brasileiro, o contemplou em seu romance
urbano de ficção, “essencialmente carioca”, intitulado ‘Território humano’,
encarnado no original e emblemático personagem Cássio Murtinho. A façanha se repetiria. Em 1946, em ‘Carta à minha
filha em prantos’, outro livro de sua autoria, bem como em longo depoimento
proferido na Academia Paulista de Letras, em 1971, o escritor Vieira revela ser
João Lins Caldas o seu verdadeiro Cássio.
Pena que o poeta que
sonhava ganhar um Nobel de Literatura, e que “temia não ver repassado ao mundo
literário a sua produção intelectual”, tenha morrido em 1967 sem publicar-se
trilíngue: em português, inglês e francês, conforme aspirava e demonstrava a convicção
de que, publicado todo o seu trabalho, se consagraria como um dos maiores
ícones da poesia universal.
E o poeta, afinal, cuja obra poética podemos conferir a presença feminina escreveu ardente de paixão, o poema que declamo:
:
O teu mundo é novo. A tua carne é nova. Eu
sou a velhice, o mundo abalado.
O teu mundo que me convida. O permanente
mundo em flor da tua carne.
Beijar-te os olhos, acariciar-te os dedos,
ter nas mãos a doçura do teu cabelo, tua nuca, o teu pescoço roliço para
acariciados...
Dirás que a vida é bela. A vida é bela!
Mas eu, amor, já agora tão triste e tão
cansado.
Ontem que não chegou. Ontem que foi mesmo um
dia amarelo...
Mas agora, que o dia é chegado...
Perdão, perdão, eu de mim mesmo é que já não
sou belo.
Vai, e não leves de ti a tua desilusão...
O que me dói, o que ainda me dói...
(... E não ver essas roupas desmanchadas,
O azul desses olhos, a graça e a festa dessas
mãos...)
Deixa que eu feche os olhos, e não te veja, e
não veja mais nada...
Obrigado, e perdão.
Fernando Caldas
Parabéns amigo Ivan e aos demais pela iniciativa, e gostaria de divulgar no meu blog como se candidatar a uma vaga .
ResponderExcluirOlá amigo Rosivaldo. Bom dia. Você viu o e-mail que lhe mandei? tem os detalhes.
ExcluirUm abraço!
OI Ivan, é Cássia, professora da UERN. Estou querendo conversar com vc, mas o seu contato de telefone acho q mudou pois vc não me respondeu. Tenho um livro para lhe passar. Me deixa o seu email ou me envie email e contato telefônico, por favor: cassiafmsantos@gmail.com
ExcluirIvan Pinheiro Bezerra gostaria de obter seu e-mail com o objetivo de enviar o convite para a minha posse na Academia Mossoroense de Letras (AMOL).
ResponderExcluirMaria do Socorro Cavalcanti e-mail: cavalcanti.s@hotmail.com