segunda-feira, 18 de maio de 2015

PÁGINA ASSUENSE:

 JOÃO CELSO NETO*
Um assuense literato
Aquele que escreve, já dizia Rilke, quer ser lido. Um dos momentos mais surpreendentes e emocionantes que tive na vida foi, durante meu curso de Direito, ouvir o professor de Língua e Comunicação (primeiro semestre, 1994) iniciar a aula recitando um poema meu.

Outra situação gratificante que me aconteceu, indiretamente, foi saber que minha caçula precisou fazer um trabalho acadêmico, no Rio de Janeiro (Faculdade de Direito da Universidade Estácio de Sá, dentro da disciplina Metodologia no Ensino do Direito, 2009) em que uma das referências bibliográficas citadas era um texto meu que fora publicado em alguns portais jurídicos sobre o Ensino Jurídico no Brasil. Como decorrência, fui convidado para ali fazer uma apresentação. Cerca de um ano depois igual convite me foi feito para falar na Universidade Católica de Brasília sobre o mesmo assunto e a partir do mesmo artigo (na origem, um trabalho acadêmico ao cursar Filosofia do Direito, no décimo semestre de minha graduação).

Na minha formação escolar, o que me serviu muito de estímulo e exemplo, tive aulas de leitura e de ditado (o que parece não existe mais no ensino fundamental).

Na verdade, eu vivi em um ambiente de poetas e literatos desde a “província” (Natal-RN) e já antes dos 10 anos de idade. Não sei se devo falar em precocidade, optando por dizer que as circunstâncias me favoreceram. Ganhei um “Tesouro da Juventude” (publicação da W. M. Jackson, infelizmente descontinuada) que li todo (24 volumes). Aos 13 anos, li “O elogio da loucura”, de Erasmo de Roterdam e devo ter entendido muito pouco. Porém aumentava meu gosto pelas letras e minha admiração pelos poetas e escritores. Aos 14, antes de me mudar para o Rio de Janeiro, acompanhei durante alguns dias todas as atividades de um grupo de escritores que estiveram em Natal, creio ter sido um intrometido que se misturava aos homens e mulheres de letras da terra.

Descobri-me escrevendo poesia aos 17 anos e escrevia principalmente poemetos, alguns mais extensos. Cometi sonetos e, no dizer de críticos, fui um dos muitos “drummondzinho” de minha geração (impossível não seguir aquele mestre). Vi-me incluído em uma antologia (“Panorama da poesia norte-rio-grandense”) em 1965 e vi minhas incultas produções da mocidade em forma de um magro opúsculo publicadas em 1966 (“Versos íntimos”). Aos poucos, o dia-a-dia me afastou da atividade cultural que procurava acompanhar de perto, comparecendo a lançamentos, debates, palestras, etc., me aproximando da intelligentsia carioca.

Em 1980, publiquei um livro com as glosas de meu falecido pai, apresentando cada glosa dele com uma escrita por mim (“Glosas de Hélio Neves de Oliveira”). Por conta desse livro, costumo brincar que “ingressei” na Academia Brasileira de Letras, ainda que apenas para a posse de Orígenes Lessa na Cadeira 10, que fora de Rui Barbosa, e que me honrara com o convite para aquela cerimônia (Orígenes fora colega de papai, anos antes, em uma agência de publicidade do Rio, a JMM, de um potiguar de primeira linha que, aliás, escrevera o prefácio de meu livro). No ano seguinte, saiu um segundo livro meu de glosas (“Glosar, glosei”) e encontrei várias outras inseridas em publicações como “50 glosas sacanas” e “Bocagiana potiguar”.

Por fim, em 1983, publiquei um terceiro livro de glosas, embora com a temática restrita à empresa em que eu trabalhava havia 15 anos e que então celebrava seus 18 anos de existência, a Embratel.

Mais uma vez, fiquei lisonjeado ao me ver verbete já na primeira edição (1990) da “Enciclopédia de Literatura Brasileira” organizada por Afrânio Coutinho.

Tivesse eu ficado morando em Natal, acredito, muita coisa na vida teria acontecido de forma bem diferente. Meu amor às letras provavelmente teria continuado e crescido, quiçá teria tido uma produção literária maior bem como, potencialmente, teria tentado ingressar em alguma academia.

Morando em Brasília desde 1982, logo que aqui cheguei concorri a uma vaga na Academia Brasiliense de Letras, curiosamente obtendo um ou dois votos, apesar de ser bem desconhecido (podem ter sido votos de protestos no concorrente do favorito, como se viu no delicioso livro de Jorge Amado “Farda fardão camisola de dormir”). Tenho entre os membros da ABL daqui alguns conhecidos, sendo um ex-colega de trabalho e um ex-professor. Certa vez, na posse de um deles, fui instado a me candidatar outra vez, ocasião em que declinei do convite, com uma glosa cujo mote é: Acordei daquele sonho / de me tornar imortal.

*João Celso Neto é poeta assuense, funcionário aposentado (EMBRATEL) e advogado, reside em Brasília/DF.
(Texto e foto da linha do tempo/facebook de JCN). Postado por Fernando Caldas. Foto: 

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