Lançamento.
"Proposta de Chuva" de Maria Maria Gomes
A poesia está na alma, como o rouxinol está nos
ramos.
Alfred de Musset
A atividade de criação poética ao
nosso entender é um ato na grande maioria das vezes, íntimo e solitário, mas,
que resulta em momentos não raro sublimes, do mais alto valor artístico. Diante
de um papel em branco, os poetas adestram a sua força e domam as palavras. O
que para muitos pode ser um instante infinito de busca pelas palavras, para
outros estas parecem saltar literalmente dos dedos.
A poesia vem a ser uma espécie de
libertação da alma, mas, para que o poema se realize de forma completa é necessário
que haja o trabalho ordenado dessa liberação. São raros os que conseguem isso
com êxito. A poetisa Maria Maria Gomes
está entre esses. O livro “Proposta de Chuva” (Oito Editora, 2014), lançado por
ela, recentemente, é um livro rico em exemplos de como a construção poética parece ser muitas vezes um chamado divinal e
privilégio de poucos.
O processo da criação poética de Maria
Maria Gomes sob alguns aspectos lembra Drummond. Ao descrever as cenas e personagens que estruturam sua vida e obra a
partir de suas lembranças, muitas inclusive da infância, de onde busca as
recordações mais íntimas, agradáveis e até mesmo mágicas, a poetisa revive seu passado e o reutiliza
como matéria de sua poesia.
Em “Proposta de Chuva”, dois aspectos recebem
mais atenção: a preocupação com o banal
do cotidiano; e as reflexões acerca da própria poesia, tanto no que concerne ao
seu processo de criação, como no que diz
respeito à inserção dela na realidade social, isto é, ao papel que ela
desempenha como agente transformador da ordem.
Essa importante poetisa seridoense
incorpora coisas simples do dia a dia do interior do Estado em sua poética,
além dos conflitos do homem com o mundo. Coisas que nos passam despercebidas
são captadas pelo olhar de Maria Maria Gomes.
Vejamos um exemplo:
Bicicleta
de domingo
Alguém pode dar uma volta
de bicicleta comigo?
Vou no bagageiro, prometo,
ao entardecer desse domingo.
Com versos aparentemente singelos, a
poetisa registra momentos comuns do cotidiano, mas que nos trazem profundos
momentos de reflexão e riqueza emocional.
O livro de Maria Maria Gomes expressa
uma poesia universal, mas, com ela retratos provincianos de um Seridó são destacados, com riqueza de detalhes,
fazendo jus à famosa frase de Tostoi, segundo a qual, “canta a tua aldeia e
cantarás o mundo”. A linguagem poética
da obra – ressaltamos - pode parecer demasiado simples, mas é muito bem elaborada
esteticamente.
A poetisa sabe muito bem “drummondiar” o que
há de bom, porém, com a sua própria marca e estilo.
Thiago Gonzaga é especialista em literatura e cultura potiguar pela UFRN.
Postado por 101 Livros do RN.
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