segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

LANÇAMENTO DO MÊS:

HERÓIS DA RESISTÊNCIA
Por Thiago Gonzaga*
Recentemente, um verdadeiro quinteto fantástico das letras potiguares, formado por Afonso Martins, Carlos Astral, João da Rua, Jota Medeiros e Novenil Barros, se reuniu para relançar, pelo Sebo Vermelho Edições, de Abimael Silva, (que pode, com certeza, ser chamado de o sexto fantástico dessa turma), mais uma importante contribuição para a literatura do Estado: Delírio Urbano, jornal literário que circulou em Natal  nos meados dos anos 80 e que teve três edições.
 Delírio Urbano (republicado em novembro de 2014) é um trabalho graficamente suntuoso, riquíssimo inclusive em imagens, uma valiosa amostra de como foram e o que criaram alguns periódicos literários marginais em meados dos anos 80 no  Rio Grande do Norte, marginais, digamos assim, por terem ficado fora dos circuitos literários “oficiais”. Conhecidos também como literatura alternativa (Jota Medeiros lançou em 1997, uma importante obra com grande parte de quem publicou poesia marginal no Rio Grande do Norte nos anos 70/80).
Dando continuidade ao trabalho da geração literária potiguar do final dos anos 70, essa literatura  reapareceu, ou melhor, continuou, de forma, alternativa, devendo-se essa alcunha a diversas características como a falta de um compromisso comercial, a liberdade de temas, de expressão.  Foi uma opção inteligente face à literatura oficial, digamos assim. Em Natal, nos anos 80, atuou intensamente uma geração engajada, que pregou a pluralidade e massificação da literatura-cultura-música, através dos meios de comunicação criados, ou aperfeiçoados por eles próprios, mesmo que de forma carente, esteticamente falando, ou precários, pela falta de recursos financeiros. O Delírio Urbano foi um que se destacou.
Os fanzines, ou pequenos jornais literários, de uma maneira  geral,  ganharam bastante destaque desde os anos 80, o tal fenômeno, não é exclusividade da literatura potiguar, porém, prova, mais uma vez, a nossa sintonia literária, pois surgiram publicações dessa natureza concomitantemente em várias outras cidades.  Ao contrario do que aconteceu nos anos 70, quando existiu o problema da censura, elas tiveram liberdade para criar, ousar, de todas as formas e maneiras, quebrando paradigmas e tabus, fazendo experimentações literárias, e eram  em sua grande maioria editadas de   forma artesanal e tendo  distribuição  entre amigos, simpatizantes,  divulgadas boca a boca.
No Rio Grande do Norte, é incrível a  quantidade de pequenas publicações literárias, ( um capitulo do livro relaciona uma infinidade de títulos da época), numa verdadeira explosão que poderia ser admitida como forma de resistência alternativa, de gritar ao mundo a sua existência.  Na grande maioria, foram editadas por jovens, poetas, sonhadores,  sem nenhum apelo comercial, muitas foram criadas de maneira fugaz, ficando apenas na primeira edição. Porém, é importante dizer que, cada vez que  se esvaecia uma  publicações  dessas, surgiam outras no universo cultural local.
Falando mais especificamente sobreo o Delírio Urbano, este livro desempenhou papel importante, pois além de ter revelado vários nomes da nossa literatura,  fez circular uma produção literária  também de qualidade.  Valer frisar  também que, na medida em que esse tipo de divulgação literária ganhava notoriedade, surgiam alguns jornais literários históricos, no Estado, como O Galo, por exemplo.
Delírio Urbano resgata bons valores da literatura alternativa dos anos 80, em solo potiguar, valendo, igualmente, como um significativo instrumento de resistência cultural. Também pode ser caracterizado por sua linguagem ousada, experimentações poéticas, o coloquial, o caráter literário sem postura ideológica mais destacada. Seu intuito era divulgar literatura e cultura, mas havia também grafismos, desenhos, que eram valorizados,   alguns também com viés  mais anarquista .
Nas décadas de 70/80, a literatura  marginal potiguar começou a contestar com mais nitidez  demandas de transformações sociais  que aconteciam no Brasil e no mundo, demostrando definitivamente que a nossa literatura estava atenta a tudo que acontecia lá fora. Parabéns a todos que colaboraram para o ressurgimento desse belo trabalho.

*Thiago Gonzaga é pesquisador da literatura potiguar.

Um comentário:

  1. Meu caro Ivan Pinheiro,

    Gostaria de conversar com você a respeito da criação da Academia Assuense de Letras. Não sei como lhe encontrar aqui em Assu e, assim, estou encaminhando essa mensagem. Sei que voce se lembrará de mim. Sou o professor Mestre Francisco Costa. Além de professor, radialista com a nomenclatura de Costa Filho. Tenho quatro livros publicados na área da linguística e um 5º que se encontra no prelo (na editora no momento) para publicação no inicio de 2015. Tenho total interesse em contribuir, e tomar parte nesta organização que tanta relevância trará para a comunidade acadêmica, social e cultural de nossa cidade.

    Estou enviando o link de acesso ao meu curriculum para sua análise.
    http://lattes.cnpq.br/8449005309986131 (copie e cole na barra do navegador)

    Meu telefone de contato é (84) 9913 -1610

    e-mail: dotconguy@gmail.com

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