A COLEÇÃO DE BIBELÔS
*Maria Eugênia Maceira Montenegro.
MARIA ANGÉLICA era uma jovem encantadora: meiga, sex, inteligente. No apogeu da mocidade, queria aproveitar a vida, o máximo, cada minuto, cada segundo. Sua vida era uma roda viva de passeios, boates, esportes. Tinha uma legião de fãs e, volúvel e inconsequente, trocava de namorado como se troca de roupa.
Estava com a mania de colecionar cachorrinhos de louça. Cada namorado que arranjava, comprava um bibelô e punha-lhe o nome. A vitrina do seu quarto de moça estava cheia deles, de todas as raças. Ali se viam lulus, bassets, dálmatas, cocker speniel, pequinês, cão fila, buldogue e outros. O último da coleção era um vira-latas.
As amigas gozavam:
- Como vai a coleção, Maria Angélica? Já vacinou os bichinhos?
- Não me descuido deles e a coleção, como vêem, cada vez aumenta mais. - disse a sorrir.
Com o passar dos dias Maria Angélica se casou com um rico empresário, machista a valer.
Quando viu a coleção da mulher, admirado, perguntou:
- Como arranjaste tantos bibelôs, Maria Angélica? Como são bonitinhos.
Ela, ingenuamente, respondeu:
- Fui comprando. Ganhei muitos também. Cada um tem o nome de um dos meus ex-namorados, disse com graça e sedução.
- Tudo isto? - E usando uma expressão grosseira - Ah, minha querida, eu não sabia que tinha me casado com uma cachorra...
- Admirado? - retrucou Maria Angélica no mesmo tom - Pois veja ali aquele vira-lata. Foi com ele que me casei.
Lógico que o casamento foi um fracasso.
* Imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário