segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

ARTIGO:

OS VERSOS MILAGREIROS QUE VÊM DO SERIDÓ

Por Chumbo Pinheiro *
     Nascer no Rio Grande do Norte é ser po(e)tiguar. Nossos poetas vão se revelando e mostram a grandeza de sua arte. Arrancam das raízes, do coração e da mente, do corpo e da alma, de todo seu ser as palavras que transformam sentimentos e ações, lembranças e fatos, chão, terra, casa e paisagem em poesia.
     De fato, como disse Antonio Cícero, recentemente, no Festival Literário de Natal, não se deve pensar que tudo é poesia. Mas, ela pode estar em tudo. É a sensibilidade, a criatividade do poeta que transforma um “efêmero fragmento da vida” em algo poético. E para exemplificar ele cita o poema de Manoel Bandeira “Poema tirado de uma notícia de jornal”.  Nossos poetas seguem essa premissa. Porém, nem todos se revelam, mas os que o fazem nada ficam a dever aos grandes poetas da literatura brasileira.
     Revelações que nos devem projetar pelo Brasil afora. Ainda que estejamos presos em nosso próprio chão, nossos autores têm talento para brilhar em todo território nacional. É assim que nasce Milagreira poesia de Iara Maria de Carvalho, trazendo a “Herança/ há um sentimento indígena”. Iniciando com um verbo no presente ao mesmo tempo em que está carregado de um passado histórico; “no torto passo que dou/no pouco tato que tenho: vou sentindo oca/a raiz em que me lenho”. Esvaziada e preenchida na firmeza de suas raízes, na lembrança de suas antigas moradas e vivências.
     São fortes os versos de Iara Carvalho. Mas são também feitos de uma delicada tessitura, como um “zunir incandioso da água/se fartando numa caneca de ágata.”, no poema “A mesa, a mesa”. Sonoridade e imagética.  Os milagres poéticos da autora surgem do cotidiano, da realidade construída com as memórias e o presente em suas relações com meio ambiente, nas cercas e currais, nos lírios e nos ruminantes, nas estrelas e na lua; nos objetos da casa: na máquina de costura, na jarra, na louça; e “O milagre acontecido no meu nascer/pendurou estrelas/nas tristezas de seus dias” como no poema: “Na Janela”, da qual em um momento qualquer nos deparamos a refletir sobre a vida.
   A poesia da seridoense de Currais Novos registra e resgata a história e a infância com a riqueza de suas lembranças e experiências, que vão transbordando em amor as suas raízes e os frutos que brotam do seu ventre, nos conduzindo através da força da sua sensibilidade por “um sol a pino pendurado no pescoço”, onde “Milagreira/ deito minha beleza/num rio sem nome/”, nos levando a descobrir a cada página, a cada novo verso a beleza das palavras transformando-se e enchendo nossos olhos com sua bela poesia.

             *Chumbo Pinheiro é ensaísta. Bacharel em História pela UFRN, cursa Ciências Sociais na mesma Universidade. Autor de  Alguns Livros Potiguares (ensaios) e outros trabalhos. Escreve semanalmente para o blog.
Postado por 101 Livros do RN.

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