VIDA EM REGRESSO
Longo ali está a velhice
Regresso à vida, à tolice
Bate à porta sem cessar
Os campos todos serão minados
Os nervos sem forças, atrofiados
Querem mover-se, já não dar
É o regresso humano, a lembrança
Da velhice retorna-se a criança
Tudo muito conturbado, infantil
É a vida, é a fase, menas doçura
A febre a aniquilar a temperatura
Num quadro constante: doentio
A voz embaralhada, como aprendiz
Descobrindo palavras, que feliz
Recordar na aula os acertos
A vida é enfim um bailet confuso
Cheia de curvas qual um parafuso
Que nos submete aos seus apertos
Diferencia-se então o dá-dá-dá
Pelo triste modo gagá
Quando a memória causa-lhe insucesso
É o velho em estado decomposto
Causando a si mesmo o desgosto
Vendo a vida em declínio, em regresso
Seca-lhe a pele e logo perde o brilho
A vergonha reflete-se no filho
Cuja mão nele não se instala
O andar tomba lento e manso
Quando o braço apoia-se em descanso
Sobre a companheira única, a bengala
Os olhos pouco vêem, são complexos
Os portais onde entram os sexos
O verba não mais o disponha
Deita e dorme, há muito sono
Vivendo no apogeu do abandono
Resta de consolo: a fronha
Edivam Bezerra - Poeta assuense.
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