O Fantástico Sertão de
Márcio Benjamim.
Márcio Benjamim.
O Sertão está em toda parte
Riobaldo em “Grande Sertão: Veredas”
O livro do escritor Márcio
Benjamim, “Maldito Sertão” é um mundo, um universo onde se misturam mito,
ficção, poesia e linguagem regionalistas. É uma viagem, uma incursão pelas
estórias da nossa região. Poucos os contistas potiguares que tratam deste tema
com propriedade. Afonso Bezerra, Manoel Onofre Júnior, Bartolomeu Correia de
Melo e Clauder Arcanjo são alguns dos nomes da lista de escritores que o
abordam.
Nos
contos notamos espaços
existenciais, vivos, personificados, verdadeiramente regionais, além de
um vasto
universo folclórico, repleto de vida e imaginação, brotando assim os
mais diversos sentimentos como o riso, o medo, a dúvida, angústias,
esperanças, desilusões, o bem e o mal, e as tensões entre o homem, o
sertão e o mundo, numa síntese onde tudo se transforma em linguagem.
O
sertão a
uma vasta (e indefinida) área do nosso país, que abrange boa parte dos
Estados do
Nordeste. Esta caracterização corrente de sertão é tida como a de uma
área despovoada ou
escassamente habitada, quase deserta. Qualquer tentativa de definição ou
delimitação do sertão
ou dos sertões implica não só uma explicação geográfica, mas, sobretudo,
uma compreensão histórica e social. Os causos do livro Maldito Sertão
expressam
um complexo de elementos fundamentais que valem nas relações humanas e
sociais
do país e as perpassam historicamente. Embora seu objeto de
representação seja
um ambiente determinado ( o sertão) Márcio Benjamim recria, reinventa e
o localiza em uma realidade mais ampla, mais rica em significados
folclóricos e
culturais em narrativas fantásticas.
Em Maldito Sertão, o sertão
é um universo registrado como mítico, ativo e interativo, num ambiente natural
e cultural, onde a figura sertaneja salta aos nossos olhos em cada narrativa,
em cada estória. Existe, nesse sentido,
uma ponte de ligação, de transcendência entre o regional sertanejo e o universal
humano na obra de Márcio Benjamim que se dá no campo da linguagem, destacando-se
nos relatos fabulosos. A linguagem constitui assim um aspecto rico, amplo, que nos
traz de volta a vida no sertão, as falas sertanejas, as angústias, os medos, as
felicidades, as descobertas, os encontros e os desencontros humanos em temáticas
universais.
É no trato desta realidade sertaneja que destacamos uma grande síntese, uma capacidade de contar estórias em poucas palavras, mas com riqueza de léxico. Destacam-se dentre outros quesitos, o espaço geográfico e histórico, em que o sertão é narrado. Além disto, o fato de que as dimensões sociopolíticas e culturais do sertão extrapolam seus limites, tornando-se universais, apontando para uma tendência histórica posterior a esse momento.
No Maldito Sertão o homem
se vê reduzido a um mero coadjuvante, onde o sertão é o principal
personagem, um belo e imenso palco de estórias; ai se destacam o lado
ficcional, o mítico e a exploração dos recursos da linguagem que adquirem
contornos poéticos a cada nova estória.
Thiago Gonzaga - Escritor, Especialista em Literatura Potiguar pela UFRN.
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