quarta-feira, 2 de abril de 2014

ARTIGO:

O Fantástico Sertão de 
Márcio Benjamim.

O Sertão está em toda parte
Riobaldo em “Grande Sertão: Veredas”
 
O livro do escritor Márcio Benjamim, “Maldito Sertão” é um mundo, um universo onde se misturam mito, ficção, poesia e linguagem regionalistas. É uma viagem, uma incursão pelas estórias da nossa região. Poucos os contistas potiguares que tratam deste tema com propriedade. Afonso Bezerra, Manoel Onofre Júnior, Bartolomeu Correia de Melo e Clauder Arcanjo são alguns dos nomes da lista de escritores que o abordam. 
Nos contos notamos espaços existenciais, vivos, personificados, verdadeiramente regionais, além de um vasto universo folclórico, repleto de vida e imaginação, brotando assim   os mais diversos sentimentos como  o riso, o medo,  a dúvida,  angústias,  esperanças, desilusões, o bem e o mal, e as tensões entre o homem, o sertão e o mundo, numa síntese onde tudo se transforma em linguagem.
O sertão a uma vasta (e indefinida) área do nosso país, que abrange boa parte dos Estados do Nordeste. Esta caracterização corrente de sertão é  tida como a de uma área despovoada ou escassamente habitada, quase deserta. Qualquer tentativa de definição ou delimitação do sertão ou dos sertões implica não só uma explicação geográfica, mas, sobretudo, uma compreensão histórica e social. Os causos do livro Maldito Sertão expressam um complexo de elementos fundamentais que valem nas relações humanas e sociais do país e as perpassam historicamente. Embora seu objeto de representação seja um ambiente determinado ( o sertão)  Márcio Benjamim recria,  reinventa e o localiza  em uma realidade mais ampla, mais rica em significados folclóricos e culturais em narrativas fantásticas.
Em Maldito Sertão, o sertão é um universo registrado como mítico, ativo e interativo, num ambiente natural e cultural, onde a figura sertaneja salta aos nossos olhos em cada narrativa, em cada estória.  Existe, nesse sentido, uma ponte de ligação, de transcendência entre o regional sertanejo e o universal humano na obra de Márcio Benjamim que se dá no campo da linguagem, destacando-se nos relatos fabulosos. A linguagem constitui assim um aspecto rico, amplo, que nos traz de volta a vida no sertão, as falas sertanejas, as angústias, os medos, as felicidades, as descobertas, os encontros e os desencontros humanos em temáticas universais. 

É no trato desta realidade sertaneja que destacamos uma grande síntese, uma capacidade de contar estórias em poucas palavras, mas com riqueza de léxico. Destacam-se dentre outros quesitos, o espaço geográfico e histórico, em que o sertão é narrado. Além disto, o fato de que as dimensões sociopolíticas e culturais do sertão extrapolam seus limites, tornando-se universais, apontando para uma tendência histórica posterior a esse momento.
No Maldito Sertão o homem se vê reduzido a um mero coadjuvante, onde o sertão é o principal personagem, um belo e imenso palco de estórias; ai se destacam o lado ficcional, o mítico e a exploração dos recursos da linguagem que adquirem contornos poéticos a cada nova estória. 
Thiago Gonzaga - Escritor, Especialista em Literatura Potiguar pela UFRN.
 

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