Um ranchinho no céu
Yuno Silva - Repórter
A frase de Mirabô Dantas, que empresta título a essa matéria, traduz o
sentimento geral da família, amigos e admiradores de Chico Elion
(1930-2013). “Ele partiu mano!”, limitou-se a dizer o filho Kiko Chagas,
guitarrista experiente que dedicou os últimos dois discos à obra do
pai. Autor de “Ranchinho de Paia”, canção gravada por Luiz Gonzada em
1981, Chico Elion tinha 83 anos e faleceu às 20h desta quinta-feira
(13), no hospital Policlínica do Alecrim, onde estava internado há cerca
de duas semanas devido problemas respiratórios. O corpo foi velado
ontem no Centro de Velório São José, no Barro Vermelho, e o enterro
ocorreu às 16h no cemitério Morada da Paz em Emaús.
Chico Elion compôs mais de 400 músicas, cantadas por nomes de peso como
Luiz Gonzaga e Flávio José (foto: Arquivo Tribuna do Norte)
Luiz Gonzaga e Flávio José (foto: Arquivo Tribuna do Norte)
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Nascido em Assu, Elion casou três vezes e teve oito filhos, dos quais
cinco moram no Rio de Janeiro, onde estreou aos 18 anos como artista da
Rádio Nacional. Ele se tratava há pouco mais de dez anos de um enfisema
pulmonar agudo que acabou gerando um quadro de DPOC (Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica). “Era um profeta singular com muita vontade de
viver, lutou muito contra essa doença. A pressão era boa, o coração
saudável... só no pulmão que tinha problema”, disse com extrema
serenidade a viúva Ana Maria da Silva Caldas Nobre, terceira esposa de
Chico Elion com quem compartilhou 33 anos. “Ele fumou muito durante 30
anos, foi isso que matou meu amado”.
Ana Maria, mãe de Daniel Nobre, 32, filho caçula do compositor,
instrumenta e cantor, lembra que Elion “tinha o poder sedutor da palavra
e dizia sempre que só a diplomacia abre portas”. Kiko Chagas é o mais
velho entre os homens e o segundo na lista geral.
A viúva disse estar tranquila “por entender a importância dele para a
música e para a Cultura potiguar. Estou aqui segurando a barra para
receber bem os amigos e dar apoio à família”. Ana lembra ter passado por
momentos difíceis e outros de muita alegria: “Foi uma convivência
difícil e rica, ele falava por metáforas e eu sempre dizia ser
complicado ser esposa de poeta. Era ciumento e não tinha reservas;
aprendi a conviver não batendo de frente”.
Ela contou que nesses 33 anos de relação houve algumas interrupções ao
longo do caminho. “Quando voltávamos era sempre aquela festa, desconfio
que ele gostava mesmo era dessas festas”, brinca. A viúva foi parceria
de Elion também na música, assinando parcerias em várias composições.
“Algumas vezes ele passava o mote e eu desenvolvia as bases para letra e
melodia, em outras era desafiada a criar”. A marcha “Nupcial Cósmico” é
uma dessas parcerias, foi tocada durante o casamento dos dois e
permanece inédita.
Astor Piazzolla
O velório de Chico Elion foi acompanhado por Babal e o irmão João
Galvão. “Me ligava bastante e sempre lembrava da vez que toquei bandolim
pra ele ainda nos anos 1970. Há uns quatro meses disse que tinha um
poema para eu colocar a melodia, mas acabou que nunca me passou esses
versos”, recorda Babal, que admirava a simplicidade de Elion. “Sabia
chegar nas pessoas”, acrescentou Babal.
O compositor Babal acompanhou o velório ao lado da viúva Ana Maria:
Ele tinha um poema pra mim (foto: João Maria Alves).
João Galvão comentou com a reportagem do VIVER que certa vez conversava
sobre a vinda do maestro Astor Piazzolla a Natal. “Elion dizia que
Piazzolla estava sendo enganado pelo produtor que organizava a turnê
nordestina, e que o argentino só recebeu o cachê por ele ter exigido o
pagamento enquanto presidente da Ordem dos Músicos do Brasil”.
Tribuna do Norte
Blog de Fernando Caldas
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