ASSU – TERRA DOS POETAS
Ivan
Pinheiro
“Em tempos que já vão
distantes, o Assu primou pelo amor às letras e pela sua dedicação às artes. Seu
povo tinha em alta conta o desenvolvimento da inteligência e o apogeu da
cultura. A sensibilidade era a sua constância.
Dotados de um acentuado senso
artístico, os seus filhos alinhavam os seus propósitos e as suas tendências no
sentido do aperfeiçoamento e do evoluir cultural. Enamorados do belo tinham a
percepção do seu encantamento, do seu êxtase e do seu predomínio na estrutura
espiritual.
Tamanha era
essa desenvoltura, esse apego, esse apaixonamento, que, em última análise, se
poderia pensar serem esses atributos um sentimentalismo congênito ou então
seria uma predestinação atávica ou uma determinação biológica. A espontaneidade
das revelações no domínio das belas artes surpreendia.
A disputa
na conquista de uma escalada maior no aprimoramento do espírito, como que
despertavam as energias telúricas, os entendimentos nativos, convergindo as
idéias para o ponto centralizador que outro não era senão a ganância do saber.
Havia,
nessas épocas que já descambam para o esquecimento, uma sintonização mental
criando uma mentalidade propiciatória aos elevados empreendimentos sociais e
recreativos: velhos e moços se aglutinavam, se harmonizavam e se entendiam na
promoção de tertúlias literárias destinadas a acelerar, a desenvolver e a
intelectualizar o meio ambiente.
Daí em
nossa terra, ter tido a Imprensa, o teatro e a Poesia o seu habitat e a sua
soberania. O povo assuense, na exuberância dos seus ardores poéticos e
jornalísticos, nos seus arrebatamentos imaginários, elevou e engrandeceu a
gleba que lhe serviu de berço.
Há na
geração nova um fenômeno assustador. É o alheamento ao passado. É tão
acentuado, que difícil se torna ao pesquisador concatenar acontecimentos, às
vezes não muito remotos, se tiver que confiar na veracidade dos depoimentos.
Acreditamos que não por mistificações. Porém, por desapego, desinteresse às
cousas do passado”.
Este relato, em fragmentos, foi
retirado da apresentação do livro História
do Teatro no Assu, de autoria do historiador assuense Francisco Amorim, publicado
no ano de 1972.
É
bom que se diga que o município do Assu, desde o ano de 1922, que blasona e
tenta sustentar dois epítetos culturais difíceis de serem mantidos, que são: “Assu
- Terra dos Poetas” e “Assu – A Atenas Norte Rio Grandense”.
O
Assu recebeu estes dois apelidos em pleno ano de efervescência na cultural
brasileira (1922), momento em que surgia o movimento modernista culminando com
a I Bienal de São Paulo.
A
juventude da época foi tocada, como por encanto por uma onda de ânimo artístico
cultural, proporcionando um refino na cultura até hoje inquestionável, no que
concerne a sua contribuição para o alento cultural brasileiro.
Pois bem, neste ano, o poeta, cronista
e dramaturgo Ezequiel Wanderley pesquisou, planejou e publicou uma obra que
mereceu integral apoio de intelectuais e governo. Publicou o livro POETAS DO RIO GRANDE DO NORTE com 108
poetas nascidos em território Potiguar. Reuniu poetas líricos, simbolistas,
clássicos, naturalistas, parnasianos, decadistas, satíricos e humoristas.
Destes
108 poetas, 29 eram assuenses sendo que, 12 destes assuenses, faziam parte da
Academia Norteriograndense de Letras.
A partir desta realidade e levando em
consideração o tradicional destaque do povo assuense na literatura, poesia,
música, teatro e, sobretudo na imprensa escrita, contribuindo de forma decisiva
na vida cultural do Estado, o Assu foi comparado, em nível de Rio Grande do Norte,
com a capital Atenas - berço de intelectuais da antiga Grécia.
Depois deste, vieram outros livros: Panorama da Poesia Norte-Rio-Grandense,
de Rômulo Chaves Wanderley, publicado em 1965; A Poesia e o Poema do Rio grande do Norte, de Moacyr Cirne, publicado
em 1979; Novos Poetas no Rio Grande do
Norte, organizado pelo Núcleo de Literatura da Fundação José Augusto, entre
outros.
Em
todas estas coletâneas os poetas assuenses detiveram significativos
percentuais, mostrando que o tempo não tinha apagado a verve literária da Terra
dos Poetas.
Em 1984 o assuense Ezequiel Fonseca
Filho publicou o livro “Poetas e Boêmios do Assu” onde selecionou 36 poetas assuenses,
considerados por ele, os melhores de todos os tempos.
Diversas
outras obras, reunindo poetas do Assu, foram publicadas. Entre estas destacamos:
Vertente Poética – publicado em 1985;
Antologia Poética – 500 Anos –
publicado no ano de 2000, em homenagem aos 500 anos do Brasil onde o poeta
assuense, Fernando de Sá Leitão, representou o Assu em nível nacional e o livro
Vertentes – Reunião com 25 poetas
assuenses contemporâneos – publicado no ano de 2002 pela Coleção Assuense - criada pela Prefeitura Municipal do Assu e que
até o ano de 2008, tinha lançado 14 livros.
Muitas outras obras individuais foram publicadas,
algumas bancadas pelos próprios poetas. Podemos citar um deles como exemplo: o
poeta Francisco Diassis (Diá da Cerâmica) que sempre publicou seus trabalhos
sem parcerias.
O importante de tudo isso é que Assu
conta com muitos adeptos da arte de escrever em versos. Poderemos até arriscar que
dificilmente perderá o epíteto de “Terra
dos Poetas”.
No
entanto, haveremos de reconhecer que a produção nos últimos anos tem sido
ínfima. Há de se admitir que o Assu possua muitos produtores culturais,
inclusive no anonimato e, no que se refere à poesia, poderia contar com um
número de poetas e poetisas bem maior, se, efetivamente, existisse incentivo.
Resta a esperança de que cada artista
possa valorizar o que faz. Ser poeta, por exemplo, não é para qualquer um.
Rimar São João com balão não significa que essa pessoa seja necessariamente um
poeta ou um exímio conhecedor de rima e métrica. Para ser poeta é preciso
inspiração, saber transmitir em versos este dom divino ofertado por Deus. Diga-se
de passagem, de singular raridade. Ser poeta é fazer com que as pessoas viagem
e vejam, através dos versos, o infinito do seu pensamento. Para a inspiração de
um poeta o céu é o limite.
É
tempo de revermos nossos valores. As expressões artísticas dos assuenses como
estão? É chegado o momento de valorizarmos os epítetos culturais. O Assu
precisa continuar sendo a Terra dos
Verdes Carnaubais; A Terra dos Poetas
e a Atenas Norte-rio-grandense. Vamos
à luta!
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