segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

CARRO DE BOI


      
       Nas regiões onde não existiam rios navegáveis nem mesmo penetravam as águas da maré, aí dominavam por excelência o carro de boi e o comboio. Como é sabido, o Assu era considerado a terra do carro de boi.
         Na região do Assu, a função do carro de boi foi talvez maior do que em toda a vasta Província do Rio Grande do Norte. Em 1840, o comércio do centro sul do leste e do oeste da Província era quase todo feito através do Porto de Oficinas na Villa da Princesa (Assu) com Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. O transporte terrestre era feito em carro de boi e em comboios.
         Manuel Velho e Diocleciano Fernandes fizeram em 1917 uma lista dos carros de bois existentes no município do Assu incluindo nesse número grande parte de Angicos, Santana do Matos e Macau. Contaram ao todo 618 carros. Só na cidade do Assu encontraram 200 carros. Convém notar que já estávamos no período de decadência deste tipo de transporte.
         A função do carro de boi foi maior nos terrenos de várzea, composta de areia ou barro. Entrou pelos brejos, beirou os ariscos, mas não conquistou o sertão bruto. No sertão de pedra, a sua entrada foi lenta, diminuta, insignificante. Só tinha função nos sítios e fazendas. O Seridó, por exemplo, não possuiu o carro de boi em grande escala. Onde a sua intervenção foi decisiva foi no município do Assu, entrando pelo de Macau.
         Nestor Lima, estudando as antigas vias de comunicação do Estado do Rio Grande do Norte, diz a respeito do Assu: “Todo o transporte era feito, até 1919, em costas de animais e carros de bois, via Macau”.
         Segundo o escritor Manoel Rodrigues de Melo, em Assu, os carros de bois eram enfeitados e bonitos e serviam para carregar as famílias sertanejas, até começos do século XX. Eram eles que conduziam as bandas de musicas das cidades para os povoados do interior e vice-versa. Eram nos carros de bois que andava a nobreza rural e a burguesia das cidades. Eram neles que andavam as sinhazinhas de outrora para encanto dos rapazes enxeridos e pelintras.
         Em Assu e região o carro de boi não foi só um estimulador de riquezas como parece à primeira vista. Foi usado na economia, na família, no social, na política, enfim... Enquanto durou o seu ciclo durou também o gosto por uma infinidade de coisas que o “progresso” destruiu.
         Aí já se vão longas décadas. Não cheguei a conhecê-los.

Fonte: Patriarcas & Carreiros - Manoel Rodrigues de Melo.
Arte: Carro de Boi - Douglas Okada

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