Nas
regiões onde não existiam rios navegáveis nem mesmo penetravam as águas da
maré, aí dominavam por excelência o carro de boi e o comboio. Como é sabido, o
Assu era considerado a terra do carro de boi.
Na região do Assu, a função do carro de
boi foi talvez maior do que em toda a vasta Província do Rio Grande do Norte.
Em 1840, o comércio do centro sul do leste e do oeste da Província era quase
todo feito através do Porto de Oficinas na Villa da Princesa (Assu) com
Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. O transporte terrestre era feito em carro
de boi e em comboios.
Manuel Velho e Diocleciano Fernandes
fizeram em 1917 uma lista dos carros de bois existentes no município do Assu
incluindo nesse número grande parte de Angicos, Santana do Matos e Macau.
Contaram ao todo 618 carros. Só na cidade do Assu encontraram 200 carros.
Convém notar que já estávamos no período de decadência deste tipo de
transporte.
A função do carro de boi foi maior nos
terrenos de várzea, composta de areia ou barro. Entrou pelos brejos, beirou os
ariscos, mas não conquistou o sertão bruto. No sertão de pedra, a sua entrada
foi lenta, diminuta, insignificante. Só tinha função nos sítios e fazendas. O
Seridó, por exemplo, não possuiu o carro de boi em grande escala. Onde a sua
intervenção foi decisiva foi no município do Assu, entrando pelo de Macau.
Nestor
Lima, estudando as antigas vias de comunicação do Estado do Rio Grande do
Norte, diz a respeito do Assu: “Todo o
transporte era feito, até 1919, em costas de animais e carros de bois, via
Macau”.
Segundo
o escritor Manoel Rodrigues de Melo, em Assu, os carros de bois eram enfeitados
e bonitos e serviam para carregar as famílias sertanejas, até começos do século
XX. Eram eles que conduziam as bandas de musicas das cidades para os povoados
do interior e vice-versa. Eram nos carros de bois que andava a nobreza rural e
a burguesia das cidades. Eram neles que andavam as sinhazinhas de outrora para
encanto dos rapazes enxeridos e pelintras.
Em
Assu e região o carro de boi não foi só um estimulador de riquezas como parece
à primeira vista. Foi usado na economia, na família, no social, na política,
enfim... Enquanto durou o seu ciclo durou também o gosto por uma infinidade de
coisas que o “progresso” destruiu.
Aí
já se vão longas décadas. Não cheguei a conhecê-los.Fonte: Patriarcas & Carreiros - Manoel Rodrigues de Melo.
Arte: Carro de Boi - Douglas Okada
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