Doações de terras ao Padroeiro
Clara de Macedo foi a última filha do capitão José Ribeiro. Não quis se casar como as suas duas irmãs. Ficou solteira vestindo o hábito das Carmelitas.
O seu maior mérito foi ter doado ao Patrimônio de São João Batista as terras do Itu (local onde atualmente esta edificada a cidade do Assu), que herdara de seu pai, o velho Capitão Mor José Ribeiro de Faria, falecido no ano de 1751.
Essa doação se fez de duas vezes, sendo a primeira de 75 braças menos dois palmos. A escritura foi passada na residência do Reverendíssimo Padre Doutor Manoel Garcia Velho do Amaral, com a presença das testemunhas, Sargento-mor Jerônimo Cabral de Oliveira, João Martins de Sá e Padre Luís da Costa Pereira, servindo de tabelião Paulo Coelho e assinando, a rogo da doadora, Antonio Cabral de Macedo. Nessa ocasião, a doadora declarou que os limites da terra doada eram a partir “da casa da preta Domingas até a casa do capitão João Pedro Marreiro, que fica por traz da Matriz, do lado do Córrego, com fundos equivalentes a quinze braças”. Declarou mais que os foreiros pagariam vinte réis de foro por cada palmo de terra e que só poderiam criar tão somente galinhas, ficando-lhes também vedada qualquer outra utilidade da referida terra. Disse ainda que ninguém poderia, inovar cousa alguma sobre a mesma quantidade de terra doada a seus herdeiros, sob pena de ser interditada e revogada a doação como se não fora feita.
Para selar o compromisso consigo e com o Padroeiro, dois anos depois, isto é, no dia 06 de fevereiro de 1776 a beata Clara Soares de Macedo fez nova doação ao mesmo Padroeiro, do resto do Sítio Itu.
Desta vez a escritura foi passada pelo tabelião José Antonio Correia de Sá, com a presença da doadora e das testemunhas, Antonio Rodrigues Nóia, Bernardino de Sena e Melo e José Francisco da Costa, na Fazenda “Casa Forte”, pousada de seu cunhado Capitão Antonio Cabral de Macedo. O ato teve audiência do Deão Frei Francisco de Sales Gurjão. Pela doadora foi dito que: “... Em virtude de um voto feito a São João Batista, entregava-lhe para sempre o restante de sua terra, demitia-se de toda posse, jus, domínio e senhorio”. Disse mais que “as testemunhas do referido sítio Itu, a partir dos limites do Poassá para a beira do rio Assu até o sítio Casa Forte, com fundos extensivos ao senhorio do Piató”. Excetuou tão somente o local das casas dos seus cunhados: Coronel Jerônimo Cabral de Macedo e Capitão Antonio Cabral de Macedo, por lhes ter dado anteriormente.
Segundo versão popular, o voto que a Beata Clara Macedo fez a São João Batista referia-se a uma dívida que seu progenitor deixara aos cofres públicos e que os genros negaram-se a pagar, passando a ser cobrado judicialmente. Em vista de seu espírito religioso e temente aos castigos de Deus aos que morriam sem pagar suas contas, comprometeu-se a Carmelita a tomar a si a questão prometendo ao Glorioso Patrono da Freguesia que, se tudo corresse bem, daria o resto da terra a São João Batista e foi o que ocorreu.
Há outra versão de que a Edilidade Municipal estabeleceu para a cobrança a entrega de quatro escravos. Clara Macedo recusou-se a entregar os seus fâmulos, preferindo entregar uma parte do restante da herança de seu pai e a outra a São João Batista, como prometera. Esta versão parece ser a mais acertada, porque a atual Granja “Mes Amours” é que foi arrematada em hasta pública por um compadre do Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley, então governador do município do Assu. (Assu, 1980; 05).
Esta é outra história a ser pesquisada e publicada. Deste patrimônio, até os dias atuais, a Paróquia de São João Batista ainda é detentora de grande parte. Diariamente na Casa Paroquial são aforados lotes de terras pertencentes ao Padroeiro para que os moradores da cidade do Assu possam regularizar suas escrituras públicas de compra e venda.
Fonte: Assu - Dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro.
Foto: Centro do Assu - Assuguia.com.br.
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