Os norte americanos imortalizaram o
dia 3 de Fevereiro como "O dia em que o Rock Morreu", quando no
inicio dos anos 50 um avião caiu na cidade de Clear Lake localizada no estado
de Iowa, matando três músicos estadunidenses de rock and roll: The Big Bopper,
Buddy Holly e Ritchie Valens, todos no auge do sucesso. Poderíamos sugerir
então que 30 de janeiro de 1989, dia em que o cantor norte-rio-grandense Carlos
Alexandre faleceu num trágico acidente de carro, foi o dia em que uma parte da
música brega morreu.
Coincidência ou não, depois da morte
de Carlos Alexandre, essa vertente musical tomou outros rumos, pois a “música
brega" assimilaria no início da década de noventa novos aspectos, alguns até
mesmo distantes da linha romântica popular conquistada por ela, como são os
casos do brega-pop e do tecnobrega, bastante populares na cena regional brasileira nos anos 90. Outras vertentes
musicais como o Axé, Pagode e Sertanejo tomariam as TVs e FMs de assalto nos
anos seguintes. Portanto a musica brega, consumida em exaustão pelas camadas
mais populares da sociedade, perdeu muito da sua notória força com a morte do
cantor que teve uma carreira brilhante e meteórica.
Uma prova evidente do poder dessa
vertente musical e da capacidade de alcance dela na voz de Carlos Alexandre foi
a proeza do início da carreira quando ele chegou à incrível marca de quatro
discos de ouro em apenas dois anos de estreia musical, algo praticamente impossível
para os artistas de hoje. Carlos Alexandre morreu no auge da fama,
coincidentemente com uma história muito parecida com a do seu maior ídolo: Evaldo Braga.
Eu tinha nove anos em 1989 quando
Carlos Alexandre faleceu, mas já sabia cantar todas as suas principais músicas,
tocadas exaustivamente nas rádios, casas, bares e clubes de Natal. Ciganinha,
Feiticeira, Vem Ver Como Eu Estou, Sei, Sei, Arma de Vingança e Final de
Semana, eram cantadas de cor por jovens e adultos de todos os lugares do país,
principalmente as periferias. Carlos Alexandre, o cantor do Bairro da Cidade da
Esperança tinha ficado nacionalmente conhecido e era exemplo para milhares de
moradores do bairro onde iniciou a carreira como alguém que tinha vencido na
vida, alguém que tinha acreditado no sonho. O artista era uma espécie de herói
para o povo do bairro recém-criado. Eu fui com a minha mãe ao velório no
ginásio do bairro, muito perto da nossa casa, a pé, mas ao nos aproximarmos do
local, um dos primeiros grandes impactos que tive na vida: centenas, milhares
de pessoas tomavam as ruas da Cidade da Esperança para ver de perto o maior
ídolo popular do Rio Grande do Norte, todos cantando as suas canções. Nunca
mais esqueci aquela cena.
Passados 25 anos da morte de Carlos
Alexandre, eis que tenho a alegria de ver em minhas mãos a obra “O Homem da
Feiticeira, A História de Carlos Alexandre”, escrito com maestria pelo
jornalista Rafael Duarte. O livro é mais do que uma história de vida, é um
verdadeiro documento de época. A forma como o jornalista nos conta a história
de Carlos Alexandre é simplesmente formidável, incrível e digna de roteiro de
cinema hollywoodiano. Em diversos momentos a emoção toma conta dos nossos olhos,
algumas passagens narradas conseguem nos atingir com um lirismo digno das
melhores obras de ficção.
A biografia é rica, linda e muito bem
documentada. Muitos leitores vão se surpreender com a história de Carlos
Alexandre, menino pobre do interior que vem para a capital ainda adolescente e
dois anos depois da sua chegada para residir na Cidade da Esperança estoura nas
rádios do Brasil inteiro, graças à ajuda do radialista e politico Carlos Alberto
e da namorada e futura esposa Solange tão importante e influente na vida e na
carreira dele. Foi Solange, por exemplo, que insistiu para Carlos Alexandre
mostrar a primeira música a Carlos Alberto, além de ser musa de canções dele
como Feiticeira, Arma de Vingança dentre outras, ela também foi quem sugeriu o
nome artístico Carlos Alexandre. Enfim, a obra é bela não apenas pelas
informações que traz sobre a vida do artista, mas também por contextualizar Carlos
Alexandre em Natal e sobretudo no Brasil do final dos anos 70 e início dos 80.
Rafael Duarte nos oferece através de uma
narrativa poderosa uma biografia direta, que aborda sem meias palavras a vida,
a luta e todos os percalços e vitórias que fizeram parte da formação e
construção do maior artista popular do Rio Grande do Norte. Uma das biografias
mais sensacionais que eu tive o privilégio de ler nos últimos tempos.
Thiago Gonzaga
Especialista
em Literatura e Cultura Potiguar pela UFRN.
Postado por 101 Livros do RN
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