quarta-feira, 16 de abril de 2014

ARTIGO:

O dia em que a “música brega” morreu.
Os norte americanos imortalizaram o dia 3 de Fevereiro como "O dia em que o Rock Morreu", quando no inicio dos anos 50 um avião caiu na cidade de Clear Lake localizada no estado de Iowa, matando três músicos estadunidenses de rock and roll: The Big Bopper, Buddy Holly e Ritchie Valens, todos no auge do sucesso. Poderíamos sugerir então que 30 de janeiro de 1989, dia em que o cantor norte-rio-grandense Carlos Alexandre faleceu num trágico acidente de carro, foi o dia em que uma parte da música brega morreu.
Coincidência ou não, depois da morte de Carlos Alexandre, essa vertente musical tomou outros rumos, pois a “música brega" assimilaria no início da década de noventa novos aspectos, alguns até mesmo distantes da linha romântica popular conquistada por ela, como são os casos do brega-pop e do tecnobrega, bastante populares na cena regional  brasileira nos anos 90. Outras vertentes musicais como o Axé, Pagode e Sertanejo tomariam as TVs e FMs de assalto nos anos seguintes. Portanto a musica brega, consumida em exaustão pelas camadas mais populares da sociedade, perdeu muito da sua notória força com a morte do cantor que teve uma carreira brilhante e meteórica.
Uma prova evidente do poder dessa vertente musical e da capacidade de alcance dela na voz de Carlos Alexandre foi a proeza do início da carreira quando ele chegou à incrível marca de quatro discos de ouro em apenas dois anos de estreia musical, algo praticamente impossível para os artistas de hoje. Carlos Alexandre morreu no auge da fama, coincidentemente com uma história muito parecida com a do  seu maior ídolo: Evaldo Braga.
Eu tinha nove anos em 1989 quando Carlos Alexandre faleceu, mas já sabia cantar todas as suas principais músicas, tocadas exaustivamente nas rádios, casas, bares e clubes de Natal. Ciganinha, Feiticeira, Vem Ver Como Eu Estou, Sei, Sei, Arma de Vingança e Final de Semana, eram cantadas de cor por jovens e adultos de todos os lugares do país, principalmente as periferias. Carlos Alexandre, o cantor do Bairro da Cidade da Esperança tinha ficado nacionalmente conhecido e era exemplo para milhares de moradores do bairro onde iniciou a carreira como alguém que tinha vencido na vida, alguém que tinha acreditado no sonho. O artista era uma espécie de herói para o povo do bairro recém-criado. Eu fui com a minha mãe ao velório no ginásio do bairro, muito perto da nossa casa, a pé, mas ao nos aproximarmos do local, um dos primeiros grandes impactos que tive na vida: centenas, milhares de pessoas tomavam as ruas da Cidade da Esperança para ver de perto o maior ídolo popular do Rio Grande do Norte, todos cantando as suas canções. Nunca mais esqueci aquela cena.
Passados 25 anos da morte de Carlos Alexandre, eis que tenho a alegria de ver em minhas mãos a obra “O Homem da Feiticeira, A História de Carlos Alexandre”, escrito com maestria pelo jornalista Rafael Duarte. O livro é mais do que uma história de vida, é um verdadeiro documento de época. A forma como o jornalista nos conta a história de Carlos Alexandre é simplesmente formidável, incrível e digna de roteiro de cinema hollywoodiano. Em diversos momentos a emoção toma conta dos nossos olhos, algumas passagens narradas conseguem nos atingir com um lirismo digno das melhores obras de ficção.
 A biografia é rica, linda e muito bem documentada. Muitos leitores vão se surpreender com a história de Carlos Alexandre, menino pobre do interior que vem para a capital ainda adolescente e dois anos depois da sua chegada para residir na Cidade da Esperança estoura nas rádios do Brasil inteiro, graças à ajuda do radialista e politico Carlos Alberto e da namorada e futura esposa Solange tão importante e influente na vida e na carreira dele. Foi Solange, por exemplo, que insistiu para Carlos Alexandre mostrar a primeira música a Carlos Alberto, além de ser musa de canções dele como Feiticeira, Arma de Vingança dentre outras, ela também foi quem sugeriu o nome artístico Carlos Alexandre. Enfim, a obra é bela não apenas pelas informações que traz sobre a vida do artista, mas também por contextualizar Carlos Alexandre em Natal e sobretudo no Brasil do final dos anos 70 e  início dos 80.
 Rafael Duarte nos oferece através de uma narrativa poderosa uma biografia direta, que aborda sem meias palavras a vida, a luta e todos os percalços e vitórias que fizeram parte da formação e construção do maior artista popular do Rio Grande do Norte. Uma das biografias mais sensacionais que eu tive o privilégio de ler nos últimos tempos.

Thiago Gonzaga
Especialista em Literatura e Cultura Potiguar pela UFRN.
Postado por 101 Livros do RN

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