terça-feira, 26 de março de 2013

CONTO

CONVERSÍVEL
Domínico Sávio Tavares
Asclepíades se considerava um homem feliz: casado com exuberante Dalvangélica, mulherzinha dessas tipo “mingnon”, sabe, aquele bronzeado saudável, aquele aparelhinho nos dentes, mais para estar na moda que por necessidade de corrigir aquela perfeição de sorriso, o cabelo recém colorizado naquele tom de louro “se pedir de novo, eu dou”; com a mudança no sistema governista, conseguiu aquela promoção, sem nem ter de bajular o babaca do novo chefe; e, como o safado do Ricardo deu para faltar sistematicamente aos treinos do time de futebol, toda terça quarta e sexta, foi alçado à condição de ponta direita do time da repartição (essa é pros pré-1970).

Vejam só, enquanto o Pipi, -Apelido carinhoso dado pela Dadinha Bunda Rica, que, em se falando de apelido era o que a sua cônjuge ostentava antes do casamento, talvez por sua (dela) preferência por aquelas calcinhas cheias de frufrus no derrière, de uso comum em priscas eras, ou quem sabe sua (dela) grande generosidade – dava a troco de quase nada-, se promovia na profissão e no esporte bretão,(rimou) a atual Dalvangélica, ex-Dadinha, promovia a diversão (rimou de novo) com o famigerado Ricardão(eita nois!), que nas terças, quartas e sextas, trocava a dureza das chuteiras e as entradas violentas dos zagueirões, por um almofadado sapato de lã, e as cariciosas reentrâncias da acima citada.

Pois bem, como acontece nesses casos, as cautelas foram abatidas pela velha e boa rotina, de modo que a coisa ficou meio que nem corrupção no governo; vazando por todas as costuras; a ponto de a atendente do motel certo dia ter recomendado, ao reconhecer a buzina do automóvel - Peraí um pouquinho, que a suíte que a Dadinha gosta tá sendo limpa!!!

Certa sexta feira após o treino, alguns desavisados participantes da lide futebolística, (essa foi de lascar!), sem conferir a saída do glorioso ponteiro direito, conversavam a respeito das escapadas da Dadinha, sendo que um mais espirituoso sugeria que o Pipi estava na posição adequada no time, pois ponta era com ele mesmo, a ponto (sem trocadilho) de, se o mesmo passasse de carro velozmente sobre um quebra–molas, faria dois furos no teto do auto com as frondosas excrescências ósseas que ultimamente haviam brotado em seu frontispício, às expensas do Ricardo. Ora, um comentário como este, deixa qualquer um furibundo, mas, antes de partir para a ignorância e as fuças do jocoso comentarista, o Pipi resolveu interpelar a acusada.

Ao chegar em casa encontra-a navegando placidamente na internet, com aquela ar rejuvenescido que nos advêm após uma pratica prazerosa, e a interroga de maneira bem mais brusca que o usual “amoreco”: O que é que você anda fazendo com o Ricardo, que o pessoal ta pelaí dizendo que eu vou furar o teto do carro com os chifres? O que tens a dizer em sua defesa? E ela, levantando os olhos da tela do laptop, com aquele ar entre inocente e sedutor, fala – Pipi, vem ver que lindo encontrei o “meu carango”, olha só: Escort XR3, dois-ponto-zero, aros dezessete cromados, e; tcham, tcham, tcham, tcham... Conversível!!!

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