A CACIMBA
- Acorda
Maria, já são quase cinco horas. Isso são horas de você ainda está dormindo?
Passarinho que não deve a ninguém já tá acordado, faz é tempo... Ô! – Falou
Julieta, mãe de Maria, estalando os dedos.
Maria se estira na
rede com preguiça. Cobre-se pela última vez com o lençol, tentando se agasalhar
do frio por mais alguns minutos. Por fim levanta-se fazendo automaticamente o
sinal da cruz. Vai até o pote. Enche de água uma lata de óleo (recipiente de
óleo comestível), dirige-se para o quintal cercado por varas e começa a sua
higiene matinal.
O sol já se levantava
disposto, quando Maria começou a caminhar com destino a cacimba a fim de
apanhar água de beber. A fonte ficava a um quilômetro de sua casa. Tinha que
encher os potes diariamente. Geralmente eram necessárias quatro latas d’água.
Da sua rotina sem
perspectivas de melhoras ela não tinha muito do que reclamar. Maria morava à
margem da lagoa do Piató, na qual tomava banho sem roupas todos os dias...
Ajudava a mãe a cozinhar e vez por outra o pai a pescar de canoa. Estava
aprendendo a costurar. As primeiras roupas foram feitas para as bonecas de sua
irmã mais nova, de apenas 10 anos. Não conhecia vida melhor... Nem pior.
A casa mais próxima
da sua ficava a uns quatro quilômetros. Pouco ia à cidade, só no último sábado
de cada mês, comparecia à feira do Assú, acompanhada dos pais, para comprar os
mantimentos: farinha, sal, açúcar, rapadura e o salgado (carne seca ou jabá),
querosene, fumo de rolo e café.
Na terceira viagem
para a cacimba, quando terminou de encher a lata, estava exausta. No interior
da cacimba, tentou levantar a lata cheia d’água para colocá-la sobre a rodilha
na cabeça. A mesma caiu e se desfez. Ela arriou novamente a lata e ao apanhar o
tecido ouviu uma voz.
- Quer
ajuda?
– Falou com voz firme um jovem de aproximadamente 20 anos.
Maria
sobressaltou-se. Nunca tinha visto aquele sujeito pelas redondezas. O medo
tomou conta de si. Ela estava no interior da cacimba e ele na saída. Ela
pensou: “Quem será?!... Pode ser quem for
mais é muito bonito...”
Recuperada do susto
falou meio desconfiada:
- Não
obrigada!... Eu me dou conta sozinha.
O rapaz fingindo que
não tinha escutado desceu a rampa da cacimba e parou bem próximo da moça.
- Não
tenha medo. Meu nome é Ubiraci, moro em Assú. Sou primo de Chico de Rosa que
reside aqui perto. Conhece?- Diante do silêncio, Ubiraci puxou conversa: - qual é o seu nome?
- Maria Beatriz
– Deu um tempo e continuou. - Mas pode me
chamar de Maria. Você é primo de Seu Chico?... Eu conheço! – Falou Maria
encabulada.
Pela primeira vez os
olhares se cruzaram. Ubiraci tomou a iniciativa.
- Vim
passar o final de semana por aqui. Acordei cedo e saí pra ver se mato alguma
rolinha de baladeira.
Maria evitando
intimidade enrolou o pano em forma de rodilha e colocou sobre a cabeça. Quando
foi pegando na lata, Ubiraci se antecipou.
- Deixe
que eu te ajude. É muito peso para... Uma garota bonita como você carregar na
cabeça.
- Já tô
acustumada! –
Disse Maria levantando a lata, sendo ajudada pelo rapaz.
Seus corpos se
chocaram, devido à falta de experiência de Ubiraci ao colocar a lata sobre a
cabeça de Maria. Uma quantidade de água derramou sobre ela, molhando a parte
superior esquerda do seu vestido amarelo.
Ubiraci pediu
desculpas pela falta de jeito, momento em que pôde observar na transparência do
vestido molhado o seio empinado com o mamilo super saliente. Não resistiu. Seu
pênis começou a se avolumar dentro da bermuda. Maria sentiu o “clima” e, sem
perda de tempo, subiu a rampa da cacimba e seguiu o caminho em direção a sua
casa, sendo acompanhada pelo olhar malicioso do seu “ajudante”.
Sem saber direito o
que dizer, vendo Maria se afastar Ubiraci perguntou se ela voltaria. Ela parou.
Deu meia volta. Olhou-o dos pés à cabeça. Desceu um pouco à vista e, com olhar
curioso, notou a excitação do rapaz. Pensou um pouco e respondeu:
-
Talvez não! Acho que esta é a última viagem de hoje. Agora só amanhã, bem cedo.
Té mais ver. Brigada pela ajuda!
Pintura do assuense Wagner Oliveira |
Enquanto Maria
caminhava com a lata na cabeça, seu quadril remexia de forma impressionante.
Pernas grossas. Pareciam trabalhadas em aulas de ginástica. Cabelos castanhos
reluzentes ao reflexo da luz solar. Pele morena clara. Devia ter,
aproximadamente, um metro e sessenta e cinco de altura. Talvez não tivesse 18
anos. Enquanto ela foi se embrenhando na mata, Ubiraci foi tendo a certeza de
que aquela mulata tinha que ser sua. Não podia voltar para a cidade sem
desfrutar de momentos eróticos com aquele “avião”. Amanhã, certamente, iria
madrugar.
-
Mariiiaa!!
– Gritou dona Julieta, de cima de uma barreira à beira da lagoa – deixa pra lavar essa roupa mais tarde. Vem
dar de mamar ao danado desse teu menino, antes que ele me tire o juízo.
No dia seguinte, de
fato, ocorreu o reencontro. Foi inesquecível... Maravilhoso. Maria só lamentava
ter sido o último.
Fonte: Dez Contos & Cem Causos – Ivan Pinheiro
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