quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

CONTO


A CACIMBA
- Acorda Maria, já são quase cinco horas. Isso são horas de você ainda está dormindo? Passarinho que não deve a ninguém já tá acordado, faz é tempo... Ô! – Falou Julieta, mãe de Maria, estalando os dedos.
Maria se estira na rede com preguiça. Cobre-se pela última vez com o lençol, tentando se agasalhar do frio por mais alguns minutos. Por fim levanta-se fazendo automaticamente o sinal da cruz. Vai até o pote. Enche de água uma lata de óleo (recipiente de óleo comestível), dirige-se para o quintal cercado por varas e começa a sua higiene matinal.
O sol já se levantava disposto, quando Maria começou a caminhar com destino a cacimba a fim de apanhar água de beber. A fonte ficava a um quilômetro de sua casa. Tinha que encher os potes diariamente. Geralmente eram necessárias quatro latas d’água.
Da sua rotina sem perspectivas de melhoras ela não tinha muito do que reclamar. Maria morava à margem da lagoa do Piató, na qual tomava banho sem roupas todos os dias... Ajudava a mãe a cozinhar e vez por outra o pai a pescar de canoa. Estava aprendendo a costurar. As primeiras roupas foram feitas para as bonecas de sua irmã mais nova, de apenas 10 anos. Não conhecia vida melhor... Nem pior.
A casa mais próxima da sua ficava a uns quatro quilômetros. Pouco ia à cidade, só no último sábado de cada mês, comparecia à feira do Assú, acompanhada dos pais, para comprar os mantimentos: farinha, sal, açúcar, rapadura e o salgado (carne seca ou jabá), querosene, fumo de rolo e café.
Na terceira viagem para a cacimba, quando terminou de encher a lata, estava exausta. No interior da cacimba, tentou levantar a lata cheia d’água para colocá-la sobre a rodilha na cabeça. A mesma caiu e se desfez. Ela arriou novamente a lata e ao apanhar o tecido ouviu uma voz.
- Quer ajuda? – Falou com voz firme um jovem de aproximadamente 20 anos.
Maria sobressaltou-se. Nunca tinha visto aquele sujeito pelas redondezas. O medo tomou conta de si. Ela estava no interior da cacimba e ele na saída. Ela pensou: “Quem será?!... Pode ser quem for mais é muito bonito...”
Recuperada do susto falou meio desconfiada:
- Não obrigada!... Eu me dou conta sozinha.
O rapaz fingindo que não tinha escutado desceu a rampa da cacimba e parou bem próximo da moça.
- Não tenha medo. Meu nome é Ubiraci, moro em Assú. Sou primo de Chico de Rosa que reside aqui perto. Conhece?- Diante do silêncio, Ubiraci puxou conversa: - qual é o seu nome?
- Maria Beatriz – Deu um tempo e continuou. - Mas pode me chamar de Maria. Você é primo de Seu Chico?... Eu conheço! – Falou Maria encabulada.
Pela primeira vez os olhares se cruzaram. Ubiraci tomou a iniciativa.
- Vim passar o final de semana por aqui. Acordei cedo e saí pra ver se mato alguma rolinha de baladeira.
Maria evitando intimidade enrolou o pano em forma de rodilha e colocou sobre a cabeça. Quando foi pegando na lata, Ubiraci se antecipou.
- Deixe que eu te ajude. É muito peso para... Uma garota bonita como você carregar na cabeça.
- Já tô acustumada! – Disse Maria levantando a lata, sendo ajudada pelo rapaz.
Seus corpos se chocaram, devido à falta de experiência de Ubiraci ao colocar a lata sobre a cabeça de Maria. Uma quantidade de água derramou sobre ela, molhando a parte superior esquerda do seu vestido amarelo.
Ubiraci pediu desculpas pela falta de jeito, momento em que pôde observar na transparência do vestido molhado o seio empinado com o mamilo super saliente. Não resistiu. Seu pênis começou a se avolumar dentro da bermuda. Maria sentiu o “clima” e, sem perda de tempo, subiu a rampa da cacimba e seguiu o caminho em direção a sua casa, sendo acompanhada pelo olhar malicioso do seu “ajudante”.
Sem saber direito o que dizer, vendo Maria se afastar Ubiraci perguntou se ela voltaria. Ela parou. Deu meia volta. Olhou-o dos pés à cabeça. Desceu um pouco à vista e, com olhar curioso, notou a excitação do rapaz. Pensou um pouco e respondeu:
- Talvez não! Acho que esta é a última viagem de hoje. Agora só amanhã, bem cedo. Té mais ver. Brigada pela ajuda!
Pintura do assuense Wagner Oliveira 
Enquanto Maria caminhava com a lata na cabeça, seu quadril remexia de forma impressionante. Pernas grossas. Pareciam trabalhadas em aulas de ginástica. Cabelos castanhos reluzentes ao reflexo da luz solar. Pele morena clara. Devia ter, aproximadamente, um metro e sessenta e cinco de altura. Talvez não tivesse 18 anos. Enquanto ela foi se embrenhando na mata, Ubiraci foi tendo a certeza de que aquela mulata tinha que ser sua. Não podia voltar para a cidade sem desfrutar de momentos eróticos com aquele “avião”. Amanhã, certamente, iria madrugar.
- Mariiiaa!! – Gritou dona Julieta, de cima de uma barreira à beira da lagoa – deixa pra lavar essa roupa mais tarde. Vem dar de mamar ao danado desse teu menino, antes que ele me tire o juízo.
No dia seguinte, de fato, ocorreu o reencontro. Foi inesquecível... Maravilhoso. Maria só lamentava ter sido o último.

Fonte: Dez Contos & Cem Causos – Ivan Pinheiro

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