segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

CENÁRIO HUMANO


MAROQUINHA - A ONÇA
Por: Ivan Pinheiro
     Quando nos deparamos com uma pessoa de idade avançada, gozando de lucidez, nossos corações palpitam de felicidades. E quando se refere a alguém de renome que construiu parte da nossa história, certamente o brilho de nossos olhos aumenta.  É imbuído deste sentimento que estamos trazendo ao Cenário Humano a grande estrela feminina da política assuense Maria Olímpia Neves de Oliveira – a popular Maroquinha - como é conhecida em nossa cidade, principalmente por aqueles que viveram o período em que ela militou na política do Assu e, por consequência, do Estado.
     Quando completou 90 anos de idade, no dia 18 de dezembro de 2010, Dona Maroquinha, segundo seu sobrinho João Celso Neto estava: “-... Lúcida e com uma memória privilegiada. Retraída e afastada das lides... Longe dos holofotes ou badalações recebeu as pessoas mais queridas para um almoço. Lá estiveram os parentes, amigos, ex-colegas do INCRA, vizinhos e companheiros de Igreja...”. 
Diretora do JC
     Maria Olímpia Neves de Oliveira nasceu no dia 18 de dezembro de 1920, filha do senhor Joel de Oliveira e de dona Júlia Neves de Oliveira. Ingressou na Escola Normal do Colégio Nossa Senhora das Vitórias, diplomando-se professora e em seguida foi efetivada para a escola noturna do Grupo José Correia, a 10 de outubro de 1940. Por duas vezes foi diretora daquele estabelecimento de ensino.
Vida Provinciana
     De 1942 a 1945 foi secretária da Comissão Municipal da Legião Brasileira de Assistência – LBA, nesta cidade. Sobre a vida social e artística de outrora, Maroquinha lembra que o Assu da sua adolescência e juventude era muito movimentado, porque todos tinham a preocupação de quebrar a monotonia de uma vida provinciana e elevar o nível cultural e artístico da cidade.
Divulgadora Assuense
     Ela lembra que Aldemar de Sá Leitão, criou o serviço de alto-falantes, denominado: “Divulgadora Assuense”. Com programas mais variados possíveis desde o informativo nacional, estadual e municipal; às crônicas locais; agendas e datas natalícias e sociais; concurso de vozes e de glosas; apresentação de moças e rapazes da cidade interpretando músicas da época; “Hora da Saudade” com músicas nostálgicas e outros tantos eventos político-sociais.
Eventos
     Recorda que na década de 50 não existia ainda um clube social organizado, com sede própria, mas improvisavam o salão de entrada do Cine Teatro Pedro Amorim para bailes mais chiques, como os das festas de São João, carnaval, natal e réveillon.  E todos dançavam e se divertiam ora com a orquestra de João Chau, ora com conjuntos vindos de outras cidades.
Tabarradas
    Maroquinha relembra que muitas vezes os jovens assuenses não tinham dinheiro para o pagamento da orquestra e as danças eram ao som do rádio, sendo muito usado um programa da Rádio Clube de Pernambuco denominado “Tabarrada” onde, ao som daquele emissor, aos domingos a noite, dançavam até às 22 horas. Aqueles encontros, denominados por eles, de “Tabarradas” ou aconteciam na casa de Seu Eloy da Singer ou na casa do professor Antônio Guerra.
     Usavam a maior variedade de diversões para movimentar a cidade. A grande agitação, todavia, era a festa de São João. A vaquejada era indispensável e durava dois a três dias. Outras diversões bastante usadas eram os Pastoris e as Lapinhas que divertiam muito, mas que acarretavam rixas, intrigas e dissensões.
Clube Municipal
     Segundo Maroquinha com a fundação do Clube Municipal o prefeito Arcelino Costa Leitão, mensalmente, oferecia à sociedade festas dançantes maravilhosas, contratando em São Paulo e Rio de Janeiro orquestras do maior gabarito para abrilhantarem as noites. As boas orquestras apresentadas no clube municipal foram: Marimbas Mexican, Alma Latina, Cassino de Servilha, Violinos Italinos, entre outros. 
Maria Olímpia - Maroquinha e Arcelino Costa Leitão
Política
              No ano de 1958 Maroquinha rompeu a tradicional hegemonia machista sendo eleita a vereadora mais votada do município assumindo de 01 de janeiro de 1959 a 31 de março de 1963. Deixou o cargo de vereadora e, na mesma solenidade, foi diplomada Prefeita para o período de 3l de março de 1963 a 31 de janeiro de 1969. Como prefeita priorizou a educação construindo diversas unidades educacionais e implantando escolas nos bairros e nas principais comunidades rurais do Assu.
Servidora Pública
    A “Onça”, como era conhecida no “Zoológico” da política assuense, gozava de prestígio em todo o Estado. Seis meses depois de deixar a prefeitura, em 24 de julho de l969 foi, pelo Governo Estadual, posta à disposição do INDA, hoje INCRA, tendo assumido distintas atividades e sido contemplada com cargos de promoções. Voluntariamente optou por ser apenas uma servidora pública. Determinada, como sempre, abandonou a política e guardou em sua mente apenas os momentos memoráveis ao lado e em favor do povo. Retirou-se da vida pública tão pobre quanto nela ingressara.
     Não possui orgulho? Sim. O maior é ter sido professora primária de algumas gerações, no Grupo Coronel José Correia, do qual, como já frisamos, foi também diretora. Era formidável na arte de ensinar.
Personalidade
     João Celso Neto, seu sobrinho, conta que um dos traços marcante de sua personalidade é não guardar rancor ou idéia de revanchismo em relação àqueles que, em algum momento ou de alguma forma, lhe criticaram ou se posicionaram em polo oposto.
Caridade
     Em Brasília, por exemplo, esteve com Dinarte Mariz e Aluízio Alves. O espírito cristã de Dona Maroquinha se manifesta na ajuda a muitos necessitados. João Celso afirma que algumas vezes chega a dizer-lhe que ela está sendo explorada. Tem uma vida extremamente regrada controlando sua aposentadoria modesta e sempre pronta a mandar rezar uma missa pela alma de quem lhe pareça merecedor ou necessitado.
Gratidão
     Do nosso Cenário Humano desejamos a esta pioneira (primeira mulher vereadora, e até então a única prefeita constitucional do Assu) muita saúde.
     Dona Maroquinha – A onça – é uma daquelas assuenses que, certamente, a comunidade num gesto de respeito e gratidão pelos relevantes serviços prestados ao Assu ‘tira o chapéu’.

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