Por Gerson Luiz
Dos filhos todos, ele foi o único que não se deixou seduzir pela cidade
grande. Só vinha à Natal em caso de extrema necessidade, o
que significava consulta médica. Gostava de morar no Assú. Gostava da
gente do Assú. Da vazante molhada, das carnaúbas elegantes, do mugido
dos bois no curral da velha casa simples nas Itans, onde cheguei a ir de
férias algumas vezes. Era, com certeza o guardião da memória do velho
Ludgero Batista de Araújo, nosso Pai, cultuando sua lembrança, vivendo
do jeito que Ludgero gostava.
Até aquele verve sertaneja, exercitada por Ludgero quando lhe pediam
opinião sobre alguém ou sobre algo que acontecera, Araujo cultivava. E
saia com cada argumentação! E todo mundo ria, cúmplice da sua sabedoria
aprendida sofridamente em cada beco, rua ou praça do Assú. E foi
ficando, negociando com a lanchonete, vendendo gado, leite, dirigindo
táxi. Mas, nunca quis vir para a cidade grande melhorar de vida, seguir o
caminho trilhado pelos irmãos. Nem quando Papai e Mamãe, vencidos pelo
cansaço dos anos, alquebrados pela luta inglória de tocar a terra das
Itans, decidiram vir para Natal, Araújo animou-se. Não veio. Ficou no
Assú.
Preferia pelejar, guerrear com a vida, ora ganhando, ora perdendo. Mas,
guerreiro gosta de quê? De guerra. Era assim o meu irmão Araújo. Ontem,
ele perdeu a maior de todas as batalhas e deixou o Planeta. Fragilizado
pela doença, caiu. Tentou pendurar-se se numa nuvem que passava. Queria
ficar aqui. Não deu. Foi embora e nunca mais o veremos.
Só tem uma coisa, Araújo: a gente não vai te esquecer!
Texto transcrito da linha do tempo/facebook de Ojanilza Maria Niniza / Blog Fernando Caldas
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