BEIRADEIROS OU BERADEIROS?
Gilberto Freire de Melo (*)Quase
caí da cadeira ao ler a notícia sobre a pesquisa de Nazira Vargas, no
Vale do Açu. Não contive o susto de ver revivida uma expressão que
julgava extinta do vocabulário regional.
O CLAMOR DOS BEIRADEIROS, título de sua tese de mestrado na PUC/SP. Só que a Dra. Nazira descobriu os beirantes - situados à beira, à margem (estou certo, Nazira?) do rio Açu. Estes habitam a beira do rio desde o começo, onde ele ainda aparece como Piranhas até o Oceano Atlântico e, dado o limite das duzentas milhas da plataforma continental, não se sabe onde vai acabar. É o território do Vale do Açu. Bendito Vale de tantos cantores e de tantos clamores!
BEIRADEIROS - a grafia está correta, embora pedante, e existem ao longo do rio e podem ser ricos, pobres, letrados ou não.
BERADEIROS
- o som aberto do primeiro - "é" - em fidelidade à pronúncia dos
próprios, são os mais rústicos, tabaréus, matutos, porém os mais
identificados com a região e seus clamores. Constituídos de carreiros,
lenhadores, pescadores, agricultores, operários de salinas e da
indústria extrativa da cera da carnaúba vivem e são encontrados ao longo
do curso do rio passando pela "garganta do Estreito" e prosseguindo até
as terras salinizadas pelas marés aquém do Oceano Atlântico, área
denominado de Várzea do Açu que, dentro do grande vale, vale tudo para
os Beradeiros.
Não alfabetizados, vêm de uma casta que não conheceu o
rádio, o jornal e muito menos a televisão. Ignoravam qualquer
informação mais esclarecida sobre o progresso em outras regiões. E
duvidavam da existência de outras culturas além de seus horizontes.
Conheci um que, de tão brôco (não era bronco, era brôco mesmo) tinha o
nome de Chico Berada.
BERADEIROS sou eu e todos aqueles que clamam
por assistência sanitária, escolar, financeira e social e, assim
marginalizados, conseguem sobreviver na Várzea do Açu.
(*) O autor é da Várzea do Açu, estudioso de sua linguagem, costumes e hábitos - e é BERADEIRO.
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