A CADEIRA DE BALANÇO
Ela nunca tinha descanso naquela casa cheia de crianças e adultos. Todos eles se sentavam em seu colo e abusavam de sua paciência e bondade.
Os meninos adoravam dar galeios como se ela fosse uma gangorra. Ao som de risadas, quase viravam "bunda canastra". A vovó punha os netinhos no colo e desfolhava as "berceuses" dos seus tempos antigos. Os jovens esgoelavam as últimas canções, rocks e lambadas, aos seus cadentes balanços. A velha cadeira, ao ouvir tanto barulho, estava às portas de um "stress". Falou consigo mesma: "Vou reagir".
Certa noite, quando todos estavam dormindo, ela deu um grande talho na palhinha. Quando Maria Rita, a dona da casa se levantou, de óculos e jornal nas mãos, foi dar o seu costumeiro balanço matinal. Foi tão rápido o tombo, que deu um grito, acordando, assustados, o marido, filhos e netos. Quase não podia se levantar com a bunda no chão. As crianças riam, o marido zangado perguntou:
- Quem foi esse engraçadinho que deu esse enorme corte na cadeira?
Ninguém respondeu. Ninguém sabia de nada. Só a cadeira de balanço, dando uma gargalhada que só ela mesmo podia ouvir, disse:
- Agora, meus queridos, estou vingada, posso, enfim, descansar.
E começou a se balançar sozinha, tão velozmente, que as pessoas assustadas, se afastaram dizendo:
- Olhem, minha gente! a cadeira de balanço enlouqueceu.
Autora: Maria Eugênia Maceira Montenegro
(*07/12/1915 - +29/04/2006 - aos 90 anos de idade). Natural de Lavras/MG.
Cidadã assuense e Ipanguaçuense. Imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
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