CANÇÃO DA TERRA DOS CARNAUBAIS
Minha terra tem poetas
de inspirações magistrais,
nascidos ao farfalhar
dos verdes carnaubais.
Minha terra floresceu
às margens do rio Assú,
e deu filhos que lutaram
nos campos de Curuzu.
A minha terra provém
de indígenas e portugueses,
e traz, no sangue, também,
o sangue dos holandeses.
Se os seus filhos, quando nascem,
talento não denunciam,
morrem na infância primeira,
porque asnos lá não se criam.
Muitos deles, quando querem
dar asas à inspiração,
emigram para outras plagas,
como aves de arribação.
E, mesmo sentindo n'alma,
fundas saudades dali,
vem cantar seus amores
às margens do Potengi.
E olhar de perto a praieira
da canção de Otoniel,
de olhos ternos, cismadores,
lábios doces como mel,
que ama escutar trovadores,
que tenham vindo de lá,
para dizer-lhe ao ouvido
estrofes de Itajubá.
Minha terra tem história,
poesia e tradição!
E em tempos idos, já foi
a Atenas do meu sertão.
Antigamente, a escola
lá era risonha e franca,
e o negro, banqueteado,
nos salões do amplo sobrado
do Barão de Serra Branca.
Teve seu berço no Assu,
Luiz Carlos Lins Wanderley,
que, médicin, malgré tout,
era poeta de lei.
e os Soares e Amorins,
Macêdos, Caldas e Lins,
e outras mais, que ainda há,
- os quais, logo que nasceram,
inspiração receberam
nas águas de Poassá.
Na poesia popular,
houve Moisés Sesiom,
que, semelhante a Bocage,
glosava no melhor tom.
E não se deve esquecer
João Celso e Palmério Filho,
que, na tribuna e na imprensa,
pontificaram com brilho.
Deus te salve, terra amada, (*)
berço dos meus ancestrais!
eu morreria de mágoa
se não te revisse mais.
Se não pudesse beijar-te,
nos meus dias outonais,
escutando o farfalhar
dos verdes carnaubais.
Autor:
RÔMULO WANDERLEY (nasceu em 03 de abril de 1910 e faleceu em 07 de janeiro de 1971) - Poeta potiguar do Assu. Jornalista, professor, advogado, promotor público, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
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(*) - O autor chega à ultima estrofe de poema, expressando o seu amor à terra em que nasceu, e cujas glórias tem cantado no rude avena que os deuses lhe concederam.
Mossoroense pelo lado materno, e assuense pelo sangue de seu pai, o poeta, nasceu e viveu até os vinte anos às margens do rio Assu, escutando o farfalhar dos verdes carnaubais.
Com a vocação dos seus maiores, pelas letras, vocação que os fazia morrer pobres porque levavam vida de cigarra, esquecendo-se da diligência previdente da formiga, partiu um dia o moço sonhador, trazendo na alma a saudade dos seus e na imaginação o desejo de um dia conquistar um lugar ao sol.
Na capital da província, encontrou os seus irmãos de sangue e de ideal, continuando a mesma faina dos seus ancestrais, ingente, porém gloriosa, de levar à terra natal o brilho do ouro da inteligência, que não é privilégio de ninguém, mas que torna privilegiados os que o trazem do berço.
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Fontes:
Memorial do Ministério Público do RN; Canção da terra dos Carnaubais (fac-similar 2010/1965).
Fotografia: portalsãofrancisco.com.br
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