DEMÓCRITO AMORIM – O FOTÓGRAFO
Ivan Pinheiro
Os pássaros ainda estão gorjeando,
saltitando livremente quando surgem os feirantes. Em poucos minutos, vai se
constituindo um alvoroço cultural onde se comercializa, no grito, milhares de produtos.
Nesse horário Demócrito Amorim
(o popular Teté), já abre o seu charmoso sobradinho, na Praça Getúlio
Vargas e, da porta, observa o movimento de pessoas conduzindo carros-de-mão, chegando em carroças, animais, bicicletas, veículos automotores... E nesse vaivém vai
enriquecendo sua cultura no contato direto com o povo humilde do Assu e região.
Filho do casal Edite e Demóstenes Amorim nasceu no dia 09 de dezembro do século passado. Estudou no ENSV e no
Ginásio Pedro Amorim. Concluiu o terceiro grau na primeira turma de Letras e
Artes - Campus Avançado Prefeito Walter de Sá Leitão.
Quando da Revolução de 1964 entrou
na Farmácia de Horácio e encontrou com Alzair Pessoa. Foi indagado se poderia
colocar seu nome numa correspondência que um grupo estava escrevendo para
Leonel Brizola. Topou na hora. Dias depois, esta carta/telegrama que anunciava “Estamos prontos. Só faltam as armas!” foi descoberta na Rádio Nacional – RJ. O Comando do Exército “fechou o Assu” e
levou o Grupo dos 11* para Natal.
Teté conseguiu provar sua ingenuidade. No entanto, outros ficaram por vários
anos sendo investigados e tendo que prestar depoimentos em Recife. A
experiência como “comunista”, para Teté, não foi nada agradável.
Teté conhece, como poucos, as
“histórias” do Assu de ontem e de hoje. Não é fácil entrevistá-lo. Aos poucos
vai soltando alguma: - “Lembro quando a
festa de São João era menor... Nós tínhamos o jornal ‘A Mutuca’ que funcionava
no sobrado da Baronesa. Naquele tempo não tinha patrocinadores. Algumas vezes o
Sr. Adriano (da SIMWAL) doou o papel. O jornal era a sensação da festa!... Circulou
por mais de 10 anos. No final dos festejos fazíamos a confraternização na casa
do meu primo Osvaldinho. Era muito bom!...” Em suas palavras observa-se que
aquele (a) que não era “picado” pelo ‘A
Mutuca’ não era chique nem estava em evidência.
Foi um respeitável promotor
cultural. Tinha um faro singular para descobrir mulheres bonitas. Realizou por
longo período, com glamour, concursos para escolha de “Rainha do Carnaval” e
“Miss Assu”. Por três anos consecutivos (85 a 87) suas candidatas: Thonia Albano
– Assu; Aparecida – Carnaubais; e, Jimena Fernandes – Assu consagraram-se “Miss
Rio Grande do Norte”. Em qualquer evento
quando Teté entrava numa disputa era um terror para o adversário. Afirma que a mais bela “Rainha do Carnaval do
Assu”, em todos os tempos foi a do ano de 1985, Ariane (Sobrinha de Albany
Fernandes - como era conhecida na cidade), do bloco Pau de Arara.
Na década de setenta percorria grande
parte do Brasil participando de eventos sociais, culturais e esportivos. Lembra
que uma vez entrou de penetra no Copacabana
Palace – RJ para assistir a escolha da “Rainha
dos Jogos da Primavera”.
Aprendeu com o pai a profissão de
Fotógrafo. Perguntei se ele tinha muitas fotografias do Assu. Ele, sem se
mostrar arrependido, respondeu: - “Não.
Eu só tirava foto para ganhar dinheiro”. Completa: - “Faz anos que não pego numa máquina para fotografar. Cansei”.
Amanhã
haverá nova feira e certamente passará muita gente para trocar um “dedo de
prosa” com Teté - memória viva da história cultural do Assu e Região.
* O Grupo dos Onze era formado
por: Alzair Roberto Pessoa, José Willington Germano (Itinho), Demócrito Amorim
(Teté), Demóstenes Amorim, Pedro Airton de Lima, Nuremberg Borja de Brito,
Francisco Eupídio da Silva, João Leônidas de Medeiros Júnior, Francisco José
Felix, Elian de Lima Cosme e Francisco de Assis Cosme (Chico Lamparina). A
Revista Cruzeiro divulgou a relação
do Clube dos Onze do Assu.
Em tempo: Não tem foto porque ele não gosta. Pode?
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