Nunca o ouvi chorar. Nunca o vi chorar. Ele nunca me ouviu chorar nem tampouco me viu chorar. Ele fez da música suas namoradas e esposas inseparáveis porém compartilhava todas elas com seu violão e seus amigos, seus parceiros de copo e aqueles que estivessem perto.Era nosso músico particular, nas nossas noitadas de acampamentos, na cozinha do Esquininha, no palco do Barbuleta, nos fundo do quintal do 14 Bis (Aldo e Hermes), na calçada da Rua do Córrego onde fazíamos no meu apartamento o sarau de todos os sábados. Os becos também ouviram sua voz e o dedilhar próprio do seu violão. Beco do IPI. Beco da Lama. Alguns bares de Assu, com o Bar de Neto, na Bernardo Vieira. Zé do Bar e Chico do Boi foram testados pacientemente por ele.Timbre de voz similar ao Djavan, o qual ele cantava tão bem porém sempre dando seu toque peculiar quando cantava. Alguns o taxavam, as vezes de "queixudo" porque ele(as vezes) recusava-se a tocar quando não tinha vontade. Todo artista é assim. O Carlos Bem era nosso artista porém não valorizado por nós mesmos, os assuenses.
ELE resolveu calar sua voz. Enquanto ele se cala, eu choro. De dor e agradecimento, por ter partilhado belos concertos musicais como o que eu presenciei com o amigo Nagério, em Carnaubais. De dor, por não ter podido fazer nada por ele. De dor, por não ter escutado seu pedido de socorro.De dor, por saber que ele não conseguiu realizar seus sonhos, que eram tantos mas eram simples. Ele apenas queria cantar. Ele apenas queria tocar. Até um dia, amigo.
A misericórdia divina ouvirá seus apelos sem voz, os apelos dos seus familiares e entes queridos, enfim, você voltará a cantar e a tocar em uma orquestra singular, humilde, mas, enfim, realizarás, um dia, tudo aquilo que não conseguistes agora. Que Deus o acolha e Jesus tenha por ti compaixão e amor. Até logo.
Postado por Fernando Caldas.
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