terça-feira, 26 de abril de 2016

PESAR:

ASSU DESPEDE-SE DA ARTESà
NILDA FERNANDES 
Ivan Pinheiro
        Que lindo!... Maravilhoso!... Fantástico!... Estas eram algumas das expressões que ouvíamos de visitantes quando, após as novenas, subiam os famosos “balões de São João”. Era irresistível. Impossível não olhar para aqueles objetos luminosos, que surgiam do meio da multidão, subiam e desapareciam gradativamente, altaneiros na escuridão, confundindo-se com as estrelas. Eram, sem dúvidas, adornos artificiais no "céu" da noite... Pontos de luzes com destinos finitos rumo ao infinito.

Dona Nilda orientando a subida do balão
       Os “balões de São João Batista” faziam parte da tradição, tanto da festa quanto da família Fernandes. Sua produtora era uma figura humana que viveu sem fama, basicamente, no anonimato. Seu nome não costumava constar no cronograma das festividades. No entanto, quando chegava a sua hora, fazia uma verdadeira festa. Refiro-me a artesã, que também foi funcionária pública municipal, Nilda Fernandes Batista falecida ontem, dia 25 de abril de 2016.
Subida em frente a Matriz
- Foto: Rafael Medeiros
       
       O “balão de Dona Nilda” ostentava beleza e ao mesmo tempo simplicidade. Era confeccionado com papel de seda, papel de embrulho, fita adesiva, farinha de trigo, limão, sal, arame, parafina (que passou a substituir o sebo de boi), saco de pano e fio de algodão. O noiteiro que se prezava esbanjava na quantidade de balões. Cada um com frases alusivas ao Santo Padroeiro.

       Nilda Fernandes abonava a tradição familiar que teve início com o tio do seu pai, José Leão, que além de confeccionar balões foi um dos importantes santeiro do Estado. Após a sua morte, seu pai Manoel Fernandes Vieira popularmente conhecido pela alcunha de “Manoel Belo” ficou produzindo os balões em companhia de Moacir Wanderley.

       Sua mãe, Maria Soledade Vieira - “Dona Dadinha” e seu irmão “Nelson Belo” deram seguimento a confecção dos balões após o falecimento de seu pai “Manoel Belo”. Era quase impossível conviver com artistas e não se transformar num deles. Nilda foi absorvendo o trabalho lentamente como auxiliar e aos poucos foi tomando gosto pela atividade até que abraçou, definitivamente, a profissão.

Balão iluminando a escuridão 
- Foto: Luis Neto
       “Com balão é preciso muito jeito e agrado para ele não queimar na subida; depois, o candeeiro de parafina vai queimando, queimando... até desaparecer no céu. Quando a parafina queima, a tocha vai se apagando e o balão desce suave do jeito que subiu... Nunca houve notícia de incêndio, nem no período de seca, provocado por um balão saído aqui da festa de São João.” Relatava, com orgulho, Dona Nilda. 
   Ficarão guardadas nas memórias daqueles que acompanharam as festividades de São João Batista, em Assu, o surgimento daqueles objetos luminosos perdendo-se na escuridão da noite.  

      Era no seio do seu lar onde Nilda desenvolvia suas habilidades na confecção de balões e peças de roupas em crochê. Pelo seu talento e profissionalismo deixou seu nome carimbado na história cultural do Assu.

       Dona Nilda Fernandes Batista - a artesã - era gente da gente. Cenário Humano do Assu. Uma assuense que soube valorizar e honrar a sua terra natal. Portanto, merecedora do reconhecimento da população e do poder público. 
Meus pêsames a todos os seus familiares.
Foto de Dona Nilda (preto e branco): Jornal O Reboliço.

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