segunda-feira, 26 de outubro de 2015

LEMBRANÇA:

VINTE E QUATRO ANOS SEM RENATO CALDAS - O MAIOR POETA DO GÊNERO MATUTO DO RN

O poeta assuense Renato Caldas nasceu no dia 08 de outubro de 1902 e faleceu, também em Assú, no dia 26 de outubro de 1991. 

Foi o autor dos livros: Fulô do Mato, Poesias, Meu Rio Grande do Norte e Pé de Escada, este último, em parceria com João Marcolino de Vasconcelos – Dr. Lou. 

Neste data, sem nenhuma lembrança da sua partida pelos órgãos públicos, deixo registrado neste espaço um dos seus poemas, por sinal, muito parecido com a atual situação da nossa região Nordeste. 
MINHA DÔ 

Meu patrão, mecê pregunta,
Pula vida do Sertão?
Eu num sei cuma cumece!...
Mecê, tarvez desconhece
Nossa dô, nossa afrição.

Proque é qui vós mecê,
Qué ôvi minha dô falá?
Qué que descasque a ferida,
Qui tenho narma iscundida
E véve sempre a sangrá?

Apois bem, vô lhe dizê,
Vô lhe conta meu patrão,
A história mais repitida,
Passada in todas as vida
Dos fio do meu sertão.

Vivemos naquelas terras,
Cuma outo bicho quarqué,
Nós só tem uma deferença,
Qui Deus dá pru recompensa:
A cumpanheira, a muié.

Além da nossa muié,
A nossa sastifação:
É uma noite inluarada,
Um prato bom de cuaiáda
E um cusido de feijão.

Mas, quando a sêca malina,
Se alasta pulo sertão...
Rio, cacimba secando,
Esturricando, lascando,
Tudo, tudo meu patrão!

O pôbe do sertanejo,
Vê tudo seu se acabá,
Dia e noite nas estradas,
Vão passando as retiradas
Sem sabê onde escapá.

Quantas vez, nessa viage,
Num perde um fio, ou muiê...
Quantas vez, pulas estradas,
Se encontra uma cruz infincada,
Sem se sabê de quem é?

- Eu já sofri tudo isso!
Sofri mais qui outo quarquê.
- Sei qui mecê acredita –
Pois vi, a fome mardita,
Sucumbí minha muié.

E, à sombra duma oiticica,
Pejada de fruita e frô:
Deixei uma cruz infincada,
Trez parmo abaixo, interrada,
Minha muié! Meu amô.

Patrão, a história é cumprida,
Mas, num posso aterminá...
Fui descascá a ferida,
Qui tinha n’arma escundida...
Deixe a dô apalacá. 

Foto ilustrativa: cariricangaco.blogspot.com

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